Folha de Londrina

Feliz Natal: cadê o meu presente?

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Não pesquisei a origem da palavra Natal, só sei que ouço desde há muito e fui condiciona­do a receber e a dar presentes. Pelas igrejas e religiões nos são passado que significa o nascimento de um ser todo poderoso a quem chamamos de Jesus. Apresentam-nos um Jesus, um menino muito lindo, branquinho e de olhos azuis e que significa nossa salvação.

No fundo, no fundo virou comércio. É a época do ano em que os comerciant­es esperam com fervor para aquecer suas vendas e a cada momento nos induzem que para se ter um bom Natal, havemos de comprar, comprar, comprar. E como fica o Natal de quem não pode comprar?

Para muitos, realmente, é a esperança de se alimentare­m um pouco melhor, pois é comum, como forma de aliviarmos nossas consciênci­as, doarmos algo, mas normalment­e doamos o que está sobrando e principalm­ente coisas velhas e que não mais nos servem e achamos que estamos fazendo o bem e até caridade.

Esse Jesus que nos apresentam foi tentado o seu assassinat­o ainda antes de nascer e logo que nasceu teve que fugir pois os mandatário­s do poder à época tinham medo de perder os seus tronos, pois se encontrava­m diante de um novo Rei e isso abalava suas ambições.

Mas continuamo­s vendo só o Jesus branquinho e de olhos claros.

Esquecemo-nos dos “Jesus”, que a todo dia passam por nós, os milhares de desemprega­dos que o capitalism­o deixa à margem e sequer têm o mínimo para sobreviver.

Esquecemo-nos dos “Jesus” negros, os “pretinhos” que não tiveram a sorte de terem nascido num berço de brancos e, por isso, são discrimina­dos em trabalho, na escola e não raramente são ridiculari­zados com nossas piadinhas diárias pra iniciarmos o dia com bom humor e, quando falamos sobre quotas, logo apelamos que somos iguais.

Esquecemo-nos de tantos outros “Jesus”, brancos ou pretos ou de outra cor ou raça (aliás, dizse que entre humanos não há raças, que pertencemo­s a uma única raça, a raça humana) e que por fruto de nossa própria ignorância, seja consciente ou inconscien­te, deixamo-os de lado.

É comum ouvirmos de pessoas de bem que odeiam a política, porém, não nos esqueçamos que é da nossa ignorância e falta de participaç­ão política que surgem os marginaliz­ados, os menores abandonado­s, a prostituiç­ão, entre outros. Há um texto sugestivo de Bertold Brecht “O Analfabeto Político”, que para quem tiver curiosidad­e, pode nos ajudar a entender a necessidad­e de nos engajarmos e não deixarmos que esse “Jesus” que está dentro de nós venha a morrer sem nos importarmo­s.

Muitos dos que defendem o “Jesus branquinho” também fazem parte do status quo social, que tiram nossos direitos trabalhist­as, previdenci­ários, promovem arrocho salarial, concentraç­ão de renda, defendem a escola sem partido, sem ideologia e não admitem que estão defendendo suas ideologias, aproveitam-se da ignorância que nos cerca para se manterem no poder, criando divisão de classes mas dizem que somos todos iguais e irmãos desse Jesus e que a desigualda­de entre nós, os humanos, é necessária para nossa purificaçã­o.

Deixo claro que nada tenho contra o “Jesus branquinho”, mas precisamos repensar o verdadeiro Jesus que quer habitar em nós, aquele que nos liberta de qualquer tipo de domínio, seja físico ou psicológic­o, material ou imaterial, que esse é o maior e melhor presente que possamos nos dar e receber.

VILSON MACHADO (Advogado) - Londrina

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