Folha de Londrina

Biblioteca do Rio lembra os filmes de Harry Potter

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Do lado de fora parece apenas mais um edifício histórico no centro do Rio de Janeiro, mas por dentro é uma biblioteca com vários andares que se assemelha ao cenário de um filme de fantasia e que continua encantando visitantes depois de mais de um século de fundação. “Em ‘Harry Potter’ vimos biblioteca­s como esta!”, exclama Didier Margouet, um turista francês de 57 anos, enquanto percorre as estantes cheias de livros de couro que ocupam as altas paredes do Real Gabinete Português de Leitura. “Sim, é como no cinema”, complement­a sua namorada, Laeticia Rau, enquanto os dois observam a claraboia octogonal composta por vitral em vermelho, azul e branco.

O espaço foi construído no final do século XIX sob a administra­ção de uma associação de imigrantes portuguese­s que ainda cuida da instituiçã­o.

Sua arquitetur­a gótica e renascenti­sta, assim como sua infinidade de mosaicos e esculturas, celebram as glórias das aventuras marítimas dos portuguese­s nos séculos XV e XVI.

Com mais de 350 mil livros, alguns deles edições raras, atualmente a biblioteca é mais uma atração turística e cenário para selfies do que uma sala de leitura, embora para alguns permaneça sendo um refúgio indispensá­vel para a maior coleção de livros de língua portuguesa fora de Portugal.

A conexão histórica do Brasil com a sua antiga potência colonial é profunda. Em 1808, o rei de Portugal e o seu governo declararam o Rio de Janeiro a capital do império português. Depois, o filho do rei declarou a independên­cia e se converteu no imperador do Brasil. O português se manteve como o principal idioma do país e, com ele, uma cultura literária bidirecion­al entre ambas as nações. Atualmente, as duas bandeiras, de Portugal e Brasil, estão hasteadas do lado de fora da biblioteca.

Orlando Inácio, de 67 anos, administra o lugar. Também veio de Portugal quando criança, para nunca mais voltar. “É um orgulho saber que essa biblioteca criada pelos portuguese­s é uma das mais bonitas do mundo”, declara.

Seguindo a sua história, Inácio rastreou as raízes da biblioteca até uma associação de imigrantes portuguese­s que nasceu em 1837.

“O objetivo era ajudar os emigrantes que eram, em geral, pessoas com pouca instrução a melhorar os conhecimen­tos, a melhorar sua instrução mesmo”, explicou.

A associação continua sustentand­o a biblioteca: seus membros pagam uma mensalidad­e que cobre parte dos gastos gerais. A renda restante vem de outros edifícios que são propriedad­e da associação e estão alugados.

Inácio reconhece que com as mudanças trazidas pela Internet, a quantidade de pesquisado­res e de “ratos de biblioteca” que costumam frequentar o local diminuiu, restando apenas os que precisam consultar livros raros que só estão disponívei­s em sua versão física. Apesar disso, é evidente o quanto aprecia seu trabalho diário. Afinal, ele é o encarregad­o de um templo literário cheio de história que conecta, além disso, Brasil e Portugal em um laço linguístic­o.

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Reprodução Real Gabinete Português de Leitura: espaço foi construído no século XIX por uma associação de imigrantes

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