Folha de Londrina

INTERNET

Uso de algoritmos facilitou o trabalho do órgão, que busca padrões de comportame­nto para identifica­r casos de sonegação de impostos

- Mie Francine Chiba Reportagem Local

Uso de algoritmos facilita o trabalho da Receita Federal para identifica­r casos de sonegação de impostos de contribuin­tes

Ainternet se tornou um grande aliado da Receita Federal para identifica­r casos de fraude, ocultação de patrimônio, laranjas, entre outros. Por isso, o órgão federal não se furta de utilizar esses meios para investigar casos individuai­s ou buscar novos casos que podem gerar investigaç­ão.

Segundo Flávio Vilela Campos, auditor fiscal da Receita Federal do Brasil e coordenado­r geral de Fiscalizaç­ão (Cofis), o órgão realiza essas fiscalizaç­ões “desde que as redes sociais foram criadas”, mas o processo se intensific­ou com o uso de algoritmos. Só nos dois últimos anos, o valor sonegado que partiu de mais de 10 mil fiscalizaç­ões com representa­ções penais sob influência de redes sociais e internet já chega a R$ 20 bilhões.

Campos assegura que praticamen­te todos os contribuin­tes passam por esse tipo de fiscalizaç­ão, que soma cerca de 400 mil procedimen­tos ao ano sobre 30 milhões de pes- soas físicas e jurídicas.

A fiscalizaç­ão na web se associa ao grande banco de dados que a Receita Federal já possui com informaçõe­s financeira­s de bancos, patrimônio pessoal, registro de imóveis de cartórios, procuraçõe­s, etc. Segundo Campos, essa fiscalizaç­ão na internet é rotineira.

Com base nos dados que a Receita Federal já possui em mãos, o órgão lança mão de algoritmos que entendem padrões de comportame­nto e facilitam a identifica­ção de casos de sonegação de impostos. Eles podem ser utilizados, por exemplo, para identifica­r o padrão de comportame­nto de empresas reconhecid­amente “noteiras” - que existem apenas para gerar notas fiscais - e proceder com a fiscalizaç­ão de NFEs (Notas Fiscais Eletrônica­s). Também podem fazer buscas por reconhecim­ento facial.

A Receita Federal utiliza ferramenta­s gratuitas, adquiridas ou mesmo desenvolvi­das pela própria RF para as fiscalizaç­ões. Na área aduaneira, por exemplo, a RF já desenvolve­u algoritmo que analisa declaraçõe­s de importação, faz a leitura do nome da empresa e do código do produto e automatica­mente compara as informaçõe­s com o que a empresa declara vender no seu site.

Conforme o coordenado­r geral de Fiscalizaç­ão da Receita Federal do Brasil, Flávio Campos, os auditores fiscais buscam na internet, por exemplo, declaraçõe­s de “laranjas”, dizendo que não são donos de determinad­a empresa ou de pessoas se apresentan­do como proprietár­ias de uma empresa, sendo que o seu nome aparece na declaração, ou informaçõe­s que relacionam o contribuin­te a um veículo ou imóvel não declarados.

A internet também pode ser utilizada para buscar vínculo de relacionam­ento formal entre pessoas que dizem não se conhecer, para a investigaç­ão de casos de “laranjas”, diz o advogado especializ­ado em direito digital, Fernando Peres. “Há casos que esse vínculo foi facilmente percebido por fotos publicadas na rede.” Essa investigaç­ão, segundo Peres, pode acontecer até mesmo na rede de pessoas ligadas ao contribuin­te, como amigos e familiares.

Mas as informaçõe­s coletadas na internet servem apenas como indícios que corroboram com outros elementos de prova, ressalta o auditor fiscal da Receita. Peres confirma que só as informaçõe­s obtidas na web - como uma foto de carro de luxo em uma rede social que o contribuin­te não declarou -, não podem servir como prova contundent­e de sonegação. “Ocorre que a informação não pode servir como prova única para alguma medida da Receita. Se ela vê uma foto de carro de luxo nas redes sociais de um contribuin­te isso não dá a entender que ele é proprietár­io daquele bem.” Além disso, para realizar as fiscalizaç­ões, a RF pode fazer uso apenas de informaçõe­s tornadas públicas na internet, a não ser que haja uma autorizaçã­o judicial.

Porém, mesmo não sendo prova única, as informaçõe­s da internet servem como indícios que levam a investigaç­ões posteriore­s, acrescenta Peres. “Fotos de viagens ao exterior, por exemplo, vão fazer que a Receita dedique mais tempo procurando informaçõe­s sobre aquele contribuin­te. As redes sociais revelam muito sobre nós mesmos.”

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Shuttersto­ck Só nos dois últimos anos, o valor sonegado que partiu de mais de 10 mil fiscalizaç­ões com representa­ções penais sob influência de redes sociais e internet já chega a R$ 20 bi

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