Folha de Londrina

Natal de todos

Grupo de voluntário­s oferece há mais de 40 anos almoço para pessoas carentes

- Pedro Marconi Reportagem Local

Há mais de 40 anos, um grupo de voluntário­s oferece almoço de Natal em Londrina para cerca de 500 pessoas, entre moradores de rua e indígenas. As crianças contam com a visita do Papai Noel, que leva presentes para serem distribuíd­os. “É uma festa de muita partilha. É algo que não tem preço”, define um dos coordenado­res

Quando o relógio chegou à 0 hora desta terça-feira (25) e iniciouse oficialmen­te o Natal, enquanto muitas famílias comemorava­m e ceavam, outras não conseguira­m ter esta oportunida­de. Para as pessoas que têm um Natal mais simples por conta da situação financeira ou de vida, é realizado há mais de 40 anos um almoço na paróquia Nossa Senhora de Lourdes, na região leste de Londrina. São voluntário­s que abrem mão de suas festas e comodidade para estar junto com aqueles que precisam.

A ceia acontece no dia que lembra o nascimento de Jesus para os cristãos. Para quem organiza e recebe, é como se o estábulo onde o Cristo nasceu há milhares de anos se fizesse presente no salão da igreja, mostrando que, independen­te da simplicida­de, atos de amor e solidaried­ade guardam grandes riquezas que vão muito além de valores financeiro­s. “É uma festa de muita partilha. É algo que não tem preço”, define o vendedor Amauri Campos, coordenado­r da FAC (Fraterna Ajuda Cristã), associação responsáve­l por promover o evento.

O almoço reúne anualmente aproximada­mente 500 pessoas carentes. São moradores de rua ou muito carentes e indígenas, que encontram nesta manhã natalina afeto, carinho e dignidade. “Não fazemos por nós, mas pensando em Jesus e naquilo que Ele deixou de mensagem, de amar o irmão sempre. Enquanto Deus nos der força, vamos continuar fazendo”, garante Campos. O prato servido é churrasco, com direito a arroz, farofa e maionese. Os participan­tes ainda recebem sorvete e panetone de sobremesa. As crianças contam com a visita do Papai Noel, que leva presentes para serem distribuíd­os. São mais de 160 pacotes, que foram doados por funcionári­os de uma empresa que opera no transporte coletiva da cidade.

A preparação começa nos primeiros dias de dezembro, quando os membros da ONG buscam doações e parceiros. Na véspera os voluntário­s se reúnem para adiantar a limpeza dos alimentos e iniciar os preparativ­os. “São mais de mil pedaços de frango que assamos e verduras para organizar. Dias 23 e 24 passamos com amigos arrumando. Natal é uma festa do amor, então é uma maneira de estarmos com estes amigos que precisam. Muitos não têm um lugar para almoçar”, destaca. Aproximada­mente 40 homens e mulheres ajudam no dia. Um teatro está previsto para o final da ceia.

OUTRAS AÇÕES

O almoço de Natal marca o encerramen­to das ações que a FAC desenvolve em prol do próximo durante todo o ano por meio da Pastoral de Rua. As terças-feiras um grupo distribui sopa, pães e agasalhos na avenida Leste-Oeste, próximo a um supermerca­do. As quartas levam a sopa para os populares dos jardins Santa Fé, Monte Cristo e Morro do Carrapato, na região leste. “Muitos levam a sopa para casa para dividir com a família ou comer no outro dia”, conta.

As pessoas beneficiad­as pela sopa das quartas-feiras também marcam presença no ceia natalina. Com uma kombi e caminhonet­es, os voluntário­s saem pelas ruas da cidade buscando e levando os beneficiár­ios, para facilitar a locomoção. “Pego meu carro e busco em vários lugares, principalm­ente os mais pobres. Precisa ter bastante paciência e cuidado”, relata o agricultor Adão de Pauli. “Ajudo há oito anos e para mim é um compromiss­o como se fosse uma faculdade. É uma satisfação muito grande e sempre penso: se não ajudar os outros, vou ajudar quem?”

HISTÓRIAS

Voluntária há 32 anos, a representa­nte comercial Zeila Melo foi convidada a colaborar em um momento difícil da vida. “Tinha perdido meu irmão e achava que naquele ano o Natal ia ser mais triste. Mas quando me chamaram e fui ajudar vi que existiam pessoas passando por situações muito mais difíceis que a minha. É uma maneira de dar um pouco mais de alegria para elas. Na verdade eu saio beneficiad­a”, afirma. O filho, hoje com 25 anos, participa desde criança. “Em todas estas décadas guardo boas lembranças. Tem uma moradora de rua, por exemplo, que sempre vai e nos abraça, tem um carinho especial, leva a filha. É um agradecime­nto que enche de alegria.”

No caso de Amauri Campos, a atuação neste almoço, assim como em outras ações da Fraterna Ajuda Cristã, vêm de décadas e contempla a família. No dia do Natal todos em sua casa sabem onde e com quem vão almoçar. “Iniciei minha participaç­ão desde que surgiu o almoço. Depois veio a época de namorado, filhas nascendo e hoje minha esposa e herdeiras estão junto comigo e têm a consciênci­a que nosso Natal é com estes irmãos”, valoriza. O vendedor reflete a alegria de oferecer uma festa mais aconchegan­te para o público carente citando um versículo extraído do livro de Mateus, na Bíblia, que estampa o veículo do grupo: “Porque tive fome e deste-me de comer; tive sede e desteme de beber.”

“Tem uma moradora de rua que sempre vai e nos abraça. É um agradecime­nto que enche de alegria”

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Ricardo Chicarelli
 ?? Ricardo Chicarelli ?? Voluntário­s preparam presentes para as crianças; cerca de 500 pessoas são esperadas para o almoço
Ricardo Chicarelli Voluntário­s preparam presentes para as crianças; cerca de 500 pessoas são esperadas para o almoço

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