Natal de todos
Grupo de voluntários oferece há mais de 40 anos almoço para pessoas carentes
Há mais de 40 anos, um grupo de voluntários oferece almoço de Natal em Londrina para cerca de 500 pessoas, entre moradores de rua e indígenas. As crianças contam com a visita do Papai Noel, que leva presentes para serem distribuídos. “É uma festa de muita partilha. É algo que não tem preço”, define um dos coordenadores
Quando o relógio chegou à 0 hora desta terça-feira (25) e iniciouse oficialmente o Natal, enquanto muitas famílias comemoravam e ceavam, outras não conseguiram ter esta oportunidade. Para as pessoas que têm um Natal mais simples por conta da situação financeira ou de vida, é realizado há mais de 40 anos um almoço na paróquia Nossa Senhora de Lourdes, na região leste de Londrina. São voluntários que abrem mão de suas festas e comodidade para estar junto com aqueles que precisam.
A ceia acontece no dia que lembra o nascimento de Jesus para os cristãos. Para quem organiza e recebe, é como se o estábulo onde o Cristo nasceu há milhares de anos se fizesse presente no salão da igreja, mostrando que, independente da simplicidade, atos de amor e solidariedade guardam grandes riquezas que vão muito além de valores financeiros. “É uma festa de muita partilha. É algo que não tem preço”, define o vendedor Amauri Campos, coordenador da FAC (Fraterna Ajuda Cristã), associação responsável por promover o evento.
O almoço reúne anualmente aproximadamente 500 pessoas carentes. São moradores de rua ou muito carentes e indígenas, que encontram nesta manhã natalina afeto, carinho e dignidade. “Não fazemos por nós, mas pensando em Jesus e naquilo que Ele deixou de mensagem, de amar o irmão sempre. Enquanto Deus nos der força, vamos continuar fazendo”, garante Campos. O prato servido é churrasco, com direito a arroz, farofa e maionese. Os participantes ainda recebem sorvete e panetone de sobremesa. As crianças contam com a visita do Papai Noel, que leva presentes para serem distribuídos. São mais de 160 pacotes, que foram doados por funcionários de uma empresa que opera no transporte coletiva da cidade.
A preparação começa nos primeiros dias de dezembro, quando os membros da ONG buscam doações e parceiros. Na véspera os voluntários se reúnem para adiantar a limpeza dos alimentos e iniciar os preparativos. “São mais de mil pedaços de frango que assamos e verduras para organizar. Dias 23 e 24 passamos com amigos arrumando. Natal é uma festa do amor, então é uma maneira de estarmos com estes amigos que precisam. Muitos não têm um lugar para almoçar”, destaca. Aproximadamente 40 homens e mulheres ajudam no dia. Um teatro está previsto para o final da ceia.
OUTRAS AÇÕES
O almoço de Natal marca o encerramento das ações que a FAC desenvolve em prol do próximo durante todo o ano por meio da Pastoral de Rua. As terças-feiras um grupo distribui sopa, pães e agasalhos na avenida Leste-Oeste, próximo a um supermercado. As quartas levam a sopa para os populares dos jardins Santa Fé, Monte Cristo e Morro do Carrapato, na região leste. “Muitos levam a sopa para casa para dividir com a família ou comer no outro dia”, conta.
As pessoas beneficiadas pela sopa das quartas-feiras também marcam presença no ceia natalina. Com uma kombi e caminhonetes, os voluntários saem pelas ruas da cidade buscando e levando os beneficiários, para facilitar a locomoção. “Pego meu carro e busco em vários lugares, principalmente os mais pobres. Precisa ter bastante paciência e cuidado”, relata o agricultor Adão de Pauli. “Ajudo há oito anos e para mim é um compromisso como se fosse uma faculdade. É uma satisfação muito grande e sempre penso: se não ajudar os outros, vou ajudar quem?”
HISTÓRIAS
Voluntária há 32 anos, a representante comercial Zeila Melo foi convidada a colaborar em um momento difícil da vida. “Tinha perdido meu irmão e achava que naquele ano o Natal ia ser mais triste. Mas quando me chamaram e fui ajudar vi que existiam pessoas passando por situações muito mais difíceis que a minha. É uma maneira de dar um pouco mais de alegria para elas. Na verdade eu saio beneficiada”, afirma. O filho, hoje com 25 anos, participa desde criança. “Em todas estas décadas guardo boas lembranças. Tem uma moradora de rua, por exemplo, que sempre vai e nos abraça, tem um carinho especial, leva a filha. É um agradecimento que enche de alegria.”
No caso de Amauri Campos, a atuação neste almoço, assim como em outras ações da Fraterna Ajuda Cristã, vêm de décadas e contempla a família. No dia do Natal todos em sua casa sabem onde e com quem vão almoçar. “Iniciei minha participação desde que surgiu o almoço. Depois veio a época de namorado, filhas nascendo e hoje minha esposa e herdeiras estão junto comigo e têm a consciência que nosso Natal é com estes irmãos”, valoriza. O vendedor reflete a alegria de oferecer uma festa mais aconchegante para o público carente citando um versículo extraído do livro de Mateus, na Bíblia, que estampa o veículo do grupo: “Porque tive fome e deste-me de comer; tive sede e desteme de beber.”
“Tem uma moradora de rua que sempre vai e nos abraça. É um agradecimento que enche de alegria”