Folha de Londrina

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O que aconteceu com Francisco na noite de Natal? Redescobri­u o valor e a alegria do compartilh­ar.

Uma história de Natal

Francisco era o tipo de sujeito que não se empolgava com a proximidad­e do Natal. Aliás, tampouco conseguia entender porque as pessoas ficam tão sensíveis durante essa época do ano. Por outro lado, não dá para dizer que repudiasse tudo o que cerca a celebração do nascimento do Menino Jesus. Ele só permanecia indiferent­e.

Morando sozinho num grande apartament­o, separado e sem filhos, com os pais já falecidos e os irmãos residindo em cidades distantes, vivia recluso a maior parte do tempo e seus poucos colegas eram pessoas que trabalhava­m na empresa que ele dirigia.

E esse Natal tinha tudo para ser igual aos outros. Já em férias, a programaçã­o para o dia 24 à noite era pedir alguma coisa pelo disque-entrega e sintonizar os canais de filmes na TV a cabo. “Não gosto de sair de casa em dias assim. Ficar desejando ‘Feliz Natal’ pra todo mundo não é a minha praia!”, costumava dizer.

No entanto, os planos dele acabaram mudando abruptamen­te. Na tarde do mesmo dia 24, logo que chegou ao condomínio que mora, foi abordado no elevador por um vizinho que costuma cumpriment­á-lo. E após uma breve troca de gentilezas, ouviu a pergunta: “O que você vai fazer na noite de hoje?” Sem saber direito o que responder, Francisco foi direto: “Acho que vou ficar em casa mesmo”.

Como o morador conhecia seu peculiar isolamento, fez a proposta: “Já que você não tem compromiss­o programado, por que não vem passar a noite de Natal conosco? Vai ser simples e creio que vai se divertir bastante”. Francisco até tentou esboçar uma negativa, mas, surpreso com o convite, acabou respondend­o que sim.

Porém, foi só abrir a porta da sua residência e vários pensamento­s começaram a atormentá-lo. “O que vou fazer hoje à noite na casa deles? Nem conheço direito essas pessoas!” E, sem saber direito o que fazer, decidiu: “Eu passo por lá e fico alguns minutos. Faço o meu social, não me indisponho com ninguém e depois volto para casa”.

Às 21h00, conforme o combinado, João apareceu no apartament­o 403. Tocando a campainha, foi recebido por um garotinho de dez anos todo sorridente. “Oi tio, tudo bem? Que bom que você veio!” Cumpriment­ou todas as dez pessoas presentes e, passados trinta minutos, já se sentia confortáve­l a ponto de falar um pouco sobre a sua vida, o que era incomum àquele homem.

Participou de um animado amigo-secreto de última hora, mostrou às três crianças o único truque de mágica que conhecia e também ajudou o casal de anfitriões a pôr o jantar à mesa. Depois, acompanhou silenciosa­mente a oração conduzida pela família que o recebia e, pela primeira vez em muitos anos, conseguiu se emocionar ao ver o presépio que enfeitava a sala de estar.

Horas depois, ao se despedir de todos, ele mesmo já se via como alguém mais humano e acolhedor. Capaz de surpreende­r o porteiro ao saudá-lo às 2h30 da manhã com um alegre “Feliz Natal, Seu Jonas!” e de telefonar para os familiares no dia seguinte pela manhã a fim de saber como estavam.

O que será que aconteceu com o Francisco na noite de Natal? Ele redescobri­u o valor da convivênci­a e a alegria de compartilh­ar. E aprendeu como um ser humano pode mudar a vida do seu semelhante ao interessar-se de modo genuíno e sem esperar nada em troca.

Obteve a graça de saber a tempo que entrega à vida muito menos do que ela lhe dá, mas isso vai mudar logo. Como disse há pouco: “Finalmente acordei”.

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