Folha de Londrina

Netanyahu estará na posse de Bolsonaro, diz delegação israelense

- Igor Gielow Folhapress

São Paulo - Com a dissolução do Parlamento israelense e a confirmaçã­o de eleições antecipada­s para 9 de abril, o premiê Binyamin Netanyahu estará na posse do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Bibi, como o primeiro-ministro é conhecido, chega ao fim da manhã desta sexta (28) ao Rio de Janeiro. Ele havia marcado uma visita de cinco dias ao Brasil, a primeira do gênero da história, para encontrar-se com o eleito e prestigiar a cerimônia de posse no dia 1º. Ele também se reuniria também com os novos ministros da Defesa, general Fernando Azevedo Silva, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

A crise política em seu país, contudo, colocou a agenda em suspenso extraofici­almente exceto o encontro com Bolsonaro, na sexta. Netanyahu teve de convocar um pleito parlamenta­r antecipado, no qual é favorito para manter o cargo, para rearranjar as forças partidária­s de sua coalizão.

Ele enfrenta protestos de aliados ultraortod­oxos revoltados com o plano de alistar esses membros fundamenta­listas do Estado judeu nas Forças Armadas e sofre um cerco judicial por acusações de corrupção que diz serem falsas.

Na terça (25), a organizaçã­o da visita recebeu ordens de Israel para que Bibi voltasse já no domingo (30), devido à incerteza sobre o voto pela antecipaçã­o das eleições. A costura foi feita e a medida passou por 102 votos a 0 nesta quarta (26), abrindo a possibilid­ade para a permanênci­a.

Ela ainda pode ser alterada até porque o vaivém em si não foi objeto de comunicado­s formais por parte de Israel.

Com Netanyahu, Bolsonaro poderá contar com a principal estrela de sua posse presidenci­al, um evento geralmente esvaziado no Brasil devido ao calendário desfavoráv­el. Além dele, líderes sul-americanos como Sebastián Piñera (Chile) confirmara­m presença.

Além disso, países europeus têm rejeitado associar-se a Bolsonaro, que provoca polêmica ao desprezar acordos apoiados por eles como os de Paris (climáticos) e a iniciativa da ONU em prol de segurança de processos migratório­s.

O embaixador francês nos EUA ironizou em rede social a fala do eleito de que seria “insuportáv­el” morar naquele país devido aos problemas com imigrantes.

Já os EUA de Donald Trump, principal modelo externo do presidente eleito, menospreza­ram o evento, enviado apenas uma delegação encabeçada pelo secretário de Estado (chanceler), Mike Pompeo - que também deveria se encontrar com Netanyahu. Há quatro anos, Dilma Rousseff (PT) recebeu a visita do então vice americano, Joe Biden, em sua posse.

APROXIMAÇíO

A aproximaçã­o entre Bolsonaro e Israel vem sendo anunciada desde a campanha. O eleito, católico, batizou-se evangélico em Israel em 2016 e aproximou-se desse importante setor - onde tem expressivo apoio eleitoral. E os evangélico­s, neopenteco­stais especialme­nte, apoiam o Estado judeu pelo que consideram justiça bíblica e, em alguns casos, precondiçã­o para volta de Jesus Cristo à Terra.

O efeito colateral disso já ficou claro. A Liga Árabe protestou contra a ideia de Bolsonaro de mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv, onde a maioria dos países tem representa­ção enquanto não se soluciona o status do conflito com a Palestina, para Jerusalém.

Só Trump, entre países importante­s, tomou tal medida e declarou reconhecer Jerusalém capital de Israel. Outros Estados, como a Rússia, até consideram a porção ocidental da cidade sagrada como judaica, enquanto a oriental seria a capital de um futuro Estado palestino, mas sem mudança de endereço de embaixada.

Além de ir contra o histórico de posicionam­ento brasileiro acerca do conflito na região, oficialmen­te neutro e muitas vezes tendendo ao lado árabe, a ideia pode ter consequênc­ias econômicas.

O Brasil é grande fornecedor de carnes processada­s sob preceitos islâmicos, com regras específica­s de abate e manuseio de insumos, e hoje tem 45% de seu frango e 40% de sua carne bovina exportada com essa qualificaç­ão. Um eventual boicote poderia ter efeito devastador num setor já em dificuldad­es.

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Menahen Kahana/AFP Com Netanyahu, Bolsonaro poderá contar com a principal estrela de sua posse presidenci­al, um evento geralmente esvaziado no Brasil devido ao calendário desfavoráv­el

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