Folha de Londrina

Passeio pela leitura nos muros da escola

Reproduçõe­s de capas de livros chamam a atenção de quem passa perto de Escola Estadual Professor João Rodrigues

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Quem passa na frente da Escola Estadual Professor João Rodrigues, no conjunto Antares (zona leste de Londrina), se depara com um muro “colorido” por diversas obras literárias retratadas por meio de grafite. São reproduzid­as capas ou lombadas de livros como Dom Casmurro, de Machado de Assis; O Menino Maluquinho, de Ziraldo; A Culpa é das Estrelas, de John Green; e Jogos Vorazes, de Suzanne Collins. A diretora da escola, Cláudia Regina Victor, 45, destacou que a princípio a maior finalidade era tirar a pichação. “O nosso muro era muito depredado, com palavrões e figuras feias. A gente sabia que se pintássemo­s o muro normalment­e, os pichadores voltariam e estragaria­m tudo novamente”, observou.

Segundo a diretora, após a grafitagem, os pichadores não agiram mais. “Um exaluno grafitou um pedaço do muro e onde ele fez a arte ninguém pichou”, observa Victor, explicando que como ele podia fazer o trabalho somente aos sábados, acabou contratand­o outra pessoa. O autor das ilustraçõe­s é o grafiteiro Raphael Augusto Fagion e a escola fez promoções, como venda de pastel e pizza, para arrecadar dinheiro para comprar o material usado no muro.

Para definir o tema das ilustraçõe­s, a diretora ressaltou que a intenção era mostrar algum projeto que funcionass­e bem na escola. “Decidimos retratar lá fora o que vivemos aqui dentro e uma das coisas mais fortes é o projeto de leitura, que funciona muito bem, porque nossa bibliotecá­ria é uma pessoa muito ativa”.

Com a leitura, a nota no Ideb (Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica) melhorou muito: foi de 4,7 em 2017 para 5,7 em 2018. “Ficamos em sexto lugar em Londrina, o que para nós é uma grande alegria e mostra mais uma vez o resultado de um trabalho feito com dedicação e zelo. No quesito qualidade de ensino, no final de 2017, nossos alunos do nono ano participar­am da prova do Saep (Sistema de Avaliação do Educaciona­l do Paraná). Nossas médias em português (283,1) e matemática(284,3) foram bem acima da média do Estado e da totalidade das escolas que compõe o Núcleo Regional de Londrina (média de 251,5 em português e 259,4 em matemática)”, relatou.

A leitura enriquece ideias e experiênci­as intelectua­is, no entanto os alunos da escola não tinham um espaço apropriado porque a biblioteca havia sido incendiada de maneira criminosa em 2012. “Limpamos uma sala de aula, fizemos calçada, colocamos sofá, ar-condiciona­do e criamos um ambiente gostoso para eles”, destacou Victor, dizendo que assumiu a direção neste ano. Quando surgiu a ideia de pintar o muro com livros, uma pessoa que opinou bastante foi a agente de leitura Maria Aparecida Burque, conhecida como Maria da Biblioteca.

Ela passou a indicar quais obras tinham mais leitura entre os alunos e as obras clássicas que precisam constar no muro. O grafiteiro foi levado para a biblioteca para conhecer as obras que iria reproduzir. “Muitos gostaram bastante da nova pintura. Os que não tinham lido procuravam na biblioteca para ler. É um estímulo à leitura e virou curiosidad­e de outros alunos”, apontou.

Entre os alunos que gostaram da iniciativa estão as irmãs Larissa Emanuelly e Júlia Nicole Fantini, respectiva­mente do nono e do oitavo ano. Ambas elegeram o livro Irmão Negro, de Walcyr Carrasco, como a obra retratada que mais gostaram. Larissa por exemplo, tomou conhecimen­to do livro pelo muro. “Fui procurar o livro e gostei bastante”, destacou. Júlia até já fez prova cujo conteúdo se referia ao livro. “É um livro muito bom. Outro que gostei foi ‘Quando meu pai perdeu o emprego’, de Wagner Costa” ,destacou. Ela viu o nome do livro no muro e se interessou pelo título.

A mãe das meninas, a esteticist­a Lílian Cristiane Fantini de Almeida, ficou feliz com todo esse processo. “Eu nunca tinha visto um colégio com essa inspiração para incentivar a leitura. Diante de tantas coisas que estão acontecend­o, retratar livros em forma de grafite faz os jovens gostarem e incentiva a leitura. Tirei várias fotos das minhas filhas na frente dos muros”, afirmou.

A vizinhança também elogiou a iniciativa da escola. A dona de casa Ivonete da Paz Missaka mora em frente ao portão de entrada do estabeleci­mento. Ela relatou que gostou da pintura porque dá uma sensação de mais limpeza. “O bairro estava feio. Foi a melhor coisa que a escola poderia ter feito”, declarou.

Outra vizinha é a professora aposentada da educação especial na Apae, Dorvalina Cabral Melo. “O livro Dom Casmurro, do Machado de Assis, que está na entrada da escola, eu li na época em que fui estudante. Quando vi, isso me remeteu ao passado, àquela época. Gostei tanto que pedi para fazerem grafites semelhante­s no meu muro, mas não deu certo. O muro ficou mais bonito. Desperta a leitura”, declarou.

Decidimos retratar lá fora o que vivemos aqui dentro e uma das coisas mais fortes é o projeto de leitura” Eu nunca tinha visto um colégio com essa inspiração para incentivar a leitura”

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Ricardo Chicarelli Segundo a diretora, alunos gostaram tanto da grafitagem que passaram a frequentar a biblioteca para buscar livros retratados no muro

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