Economia será termômetro da gestão Ratinho Jr.
O governador eleito Ratinho Junior (PSD) será empossado na manhã da próxima terça-feira (1º), em Curitiba e, à tarde, viaja a Brasília para acompanhar a posse de Bolsonaro. Analistas ouvidos pela FOLHA apontam que o cenário econômico do País será determin
Mais do que a conjuntura regional, o cenário econômico do País a partir de 2019 será determinante para o sucesso político de Ratinho Junior (PSD) à frente do Palácio Iguaçu. Essa é a avaliação de analistas políticos ouvidos pela FOLHA a respeito das perspectivas do mandato do deputado estadual e ex-secretário de Beto Richa no governo da quarta economia nacional.
“Se sairmos dessa crise e dessa estagnação, este governo terá condição de implantar sua agenda, principalmente a conexão com o mercado”, afirma o cientista político e professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Emerson Cervi. Ele ressalta que essa premissa deve valer para os demais governadores eleitos pela agenda liberal e aos que foram vitoriosos a reboque do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
O professor de ética e filosofia política da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Elve Cenci aponta que a própria escolha do secretariado de Ratinho indica um desejo de continuidade do modelo de gestão de seu antecessor, Beto Richa, marcado no campo econômico por um polêmico ajuste fiscal promovido na metade final do mandato do ex-governador tucano.
Nomes importantes da equipe de Ratinho Junior que compuseram a equipe de Richa são Norberto Ortigara, que foi secretário de Agricultura durante toda a gestão, e Reinhold Stephanes, que foi secretário de Administração e irá ocupar a nova pasta da Gestão Pública com as mesmas funções da antiga. “A base de apoio tanto de Ratinho quanto da Cida Borguetti veio do governo anterior. Até a base da Assembleia Legislativa demonstra isso”, afirma Cenci.
Quanto ao enxugamento de secretarias, de 28 para 15 pastas definas pelo novo governador, o professor não vê benefício imediato à gestão. “É mais um impacto midiático e político. Vai dar mais poder aos nomeados. Mas nem tanto eficácia administrativa. O acúmulo de pasta pode trazer morosidade nas decisões. Mas é claro que diminui o loteamento político para instrumentalizar a máquina.”
PODER ECONÔMICO
Para exemplificar a importância do comportamento da economia na gestão de Ratinho Junior, o cientista político Emerson Cervi lembra que os principais aliados do governador eleito são da cúpula do poder econômico do Paraná. O futuro vice-governador, Darci Piana, presidiu a Fecomércio-PR, e Edson Campagnolo, da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Panará), participou ativamente da campanha eleitoral. “Seus principais interlocutores vêm do setor econômico, não são de movimentos sociais, minorias ou outros segmentos da sociedade”, observa.
Um desses pilares é a criação do PAR (Programa de Parcerias do Paraná), outra bandeira da nova gestão para permitir a privatização ou terceirização de serviços públicos como os presídios. “Ratinho tem esse tema como ponto central. Se houver problema legal ou se não encontrar empresários interessados em investir, boa parte do seu programa de governo cai por água abaixo”, analisa Cervi.
O cientista político lembra que a política de PPPs (Parcerias Público Privadas) implantada pelo antecessor Beto Richa (PSDB) não teve eficácia, devido à crise econômica entre 2012 e 2017. “Essas coisas ficaram no papel. Vai depender de como ele irá refazer esse projeto e como seus interlocutores estão dispostos a investir no governo dele. É preciso dar uma resposta à sociedade, senão o governo ficará náufrago, isso será um problema ao político Ratinho Junior, que é um político que tem uma trajetória pela frente e com certeza não pretende encerrar carreira cedo.”
PROTAGONISMO REGIONAL
O professor Elve Cenci destaca ainda que apesar de anúncios técnicos para a Educação e Controladoria, Ratinho Junior não conseguiu escapar das indicações políticas como dos deputados Ney Leprevost (Justiça, Família e Trabalho), Guto Silva (Casa Civil) e Sandro Alex (Infraestrutura).
Cenci também critica a falta de protagonismo de Londrina na nova gestão, pela importância regional e econômica que tem. “Não temos um único nome verdadeiramente da cidade entre os 15 nomes definidos no primeiro escalão, repete o que aconteceu na gestão anterior. Onde é que fica a liderança de Londrina nas tomadas de decisões para o Estado?”, questiona.
Outro ponto que deve prevalecer, segundo o professor da UEL, é mais uma vez o amplo apoio da Assembleia Legislativa. “A fidelidade dos deputados estaduais ao governador é quase que total e absoluta, isto é histórico no Paraná. Porque são poucos são independente ou de oposição.”
O acúmulo de pasta pode trazer morosidade nas decisões. Mas é claro que diminui o loteamento político”