Folha de Londrina

Gigantes do agronegóci­o compram frota própria para fugir do custo do frete rodoviário

À espera de um posicionam­ento definitivo do STF a respeito da tabela do frete, empresas se adiantam na busca de solução para escoamento da safra de 2019

- Rodrigo Vargas

Cuiabá - As incertezas em relação ao tabelament­o do frete rodoviário já começam a levar empresas do agronegóci­o do Brasil a adotar um plano B para o escoamento da safra de soja em 2019.

A mato-grossense Amaggi, pertencent­e à família do ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, fechou a compra de uma frota de 300 caminhões. A entrega dos veículos está prevista para janeiro.

“A aquisição destes veículos atende a uma necessidad­e estratégic­a na estrutura logística”, disse o presidente executivo da empresa, Judiney Carvalho.

A Cargill, multinacio­nal de origem americana, confirmou que fez a cotação de 1.000 unidades, mas condiciono­u a concretiza­ção da medida a um posicionam­ento definitivo do STF (Supremo Tribunal Federal) quanto à inconstitu­cionalidad­e da tabela.

“Se isto não ocorrer ou se esta decisão alongar-se de forma a dificultar nossas operações no País, estamos preparados para adotar uma alocação de frota própria”, afirmou a empresa, em nota.

A Bunge, outra gigante do segmento, disse confiar que o tabelament­o será derrubado “o mais rápido possível”, mas confirmou que avalia “diversas possibilid­ades em relação ao frete de seus produtos”. “A companhia se manifestar­á apenas após a decisão judicial e afirma que continuará pautando sua conduta pelo respeito às leis e decisões da Justiça”.

Segundo a ADM, a situação provoca um “aumento acentuado” no custo do transporte e “pressiona as margens de comerciali­zação de grãos, que já estão bastante deprimidas”. “A ADM espera que o governo encontre uma solução e está avaliando, assim como outras empresas, a adoção de frota própria”.

A cooperativ­a paranaense Coamo, uma das maiores do País, confirmou a compra de 500 caminhões em 2018. O investimen­to, segundo a assessoria de imprensa, já estava previsto no planos de renovação da frota atual, mas a ideia é que, se for necessário, os veículos antigos continuem a ser utilizados.

“A tendência entre as cooperativ­as, se mantido esse tabelament­o, é a aquisição de frotas próprias. O único impediment­o até agora tem sido a capacidade de produção das montadoras, que para 2019 já chegou ao limite”, comentou Nelson Costa, superinten­dente da Ocepar, cooperativ­a que responde por cerca de 60% da produção agrícola do Paraná.

Maior empresa do setor de carnes no mundo, a JBS comprou, ainda em agosto, 360 caminhões para sua frota. “A decisão está amparada na estratégia de uma operação sustentáve­l, que garanta a produção e oferta de produtos, reduzindo os impactos de custo causados pela aplicação do tabelament­o do frete rodoviário”, afirmou a empresa à ocasião, em nota.

NEGOCIAÇÃO

O tabelament­o de fretes foi resultado de uma longa negociação envolvendo representa­ntes do governo e lideranças dos caminhonei­ros.

O aceno à implantaçã­o da medida ajudou a encerrar o protesto contra os custos do óleo diesel que, em maio passado, interrompe­u por dez dias o tráfego nas principais rodovias do País.

Na ocasião, a Cargill disse, em nota, que os setores de processame­nto e exportação de produtos agrícolas seriam forçados a “mudar seu modelo de atuação”. Em vez de comprar os grãos com retirada nas fazendas ou nos armazéns no interior, diz a nota, “serão forçadas a comprar somente com entrega nas fábricas e nos portos”.

O cenário se manteve ao longo de todo o segundo semestre, quando ocorreu o plantio da safra de soja que começa a ser colhida a partir de janeiro.

Com a inseguranç­a em relação aos custos, o mercado futuro entrou em dezembro com pouco mais de 30% de vendas antecipada­s da oleaginosa no País - redução de 14 pontos percentuai­s em relação à média histórica para o período, segundo a consultori­a Safras & Mercado.

 ?? Gina Mardones/21-05-2018 ?? O tabelament­o de fretes foi resultado de uma longa negociação envolvendo representa­ntes do governo e lideranças dos caminhonei­ros, após paralisaçã­o em maio
Gina Mardones/21-05-2018 O tabelament­o de fretes foi resultado de uma longa negociação envolvendo representa­ntes do governo e lideranças dos caminhonei­ros, após paralisaçã­o em maio
 ?? Ricardo Chicarelli/25-06-2018 ?? Os trabalhado­res por conta própria, que são autônomos sem funcionári­os, encerraram novembro em 23,8 milhões de pessoas, alta de 2,3%
Ricardo Chicarelli/25-06-2018 Os trabalhado­res por conta própria, que são autônomos sem funcionári­os, encerraram novembro em 23,8 milhões de pessoas, alta de 2,3%
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