Folha de Londrina

Ano que passa, ano que vem...

Embora seja importante listar objetivos para o próximo ano, psicóloga alerta que propósitos de vida não devem “engessar” o indivíduo

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

Ao finalizar um ano e iniciar outro ciclo, costumeira­mente as pessoas ficam mais melancólic­as e pensativas sobre a vida. A psicóloga Cláudia Cantero explica que, além do balanço do ano passado e das metas para o ano seguinte, os brasileiro­s têm uma prática cultural de reunir a família nesta época do ano. “É uma época de celebração e muitas pessoas ficam deprimidas por querer estar com pessoas que não estão mais entre nós, que já faleceram, ou por algum motivo de separação, ou por briga, não estão presentes. Tem essa questão de não conseguir cumprir as metas do ano que passou, mas também toda essa questão da celebração e do precisar estar junto.”

Vale muito neste momento uma reflexão de como foi o ano, pensando quais metas foram traçadas para 2018 que não foram cumpridas e fazer um levantamen­to dos motivos delas não terem dado certo. “Algumas vezes as pessoas podem ter colocado uma expectativ­a muito alta nessas metas, ou eram propósitos difíceis de serem alcançados. Quando as pessoas traçam um objetivo muito maior do que a própria realidade oferece, isso pode ser muito frustrante”.

Manter os pés no chão é uma dica fundamenta­l, traçando projeções mais condizente­s com a realidade. “Indo aos poucos, dando um passo de cada vez”, pontuou. Um exemplo disso é a dieta. “Há pessoas que pensam que no próximo ano querem emagrecer 25 quilos. Se elas não conseguire­m cumprir essa meta, ficarão frustradas. Só que essa pessoa tem que pensar sempre no processo. Enquanto ela está no processo de emagrecime­nto, indo para a academia, fazendo dieta, ela está se cuidando gradativam­ente, está dormindo melhor, os exames médicos estão melhores.”

Contudo, se essa pessoa não entra em contato com a gratidão pela análise do processo, a frustração aumenta. “Que tal ao invés de colocar menos 25 quilos como meta, objetivar perder 10 quilos até dezembro do ano que vem? Ao invés de trocar o carro pelo modelo do ano, trabalhar para que seja um carro de pelo menos três anos antes?”, sugere.

Ter o pé no chão é deter objetivos de Ano Novo coerentes com o modelo de vida do indivíduo, conforme acredita Cantero. “Claro que nós temos condições de alcançar sonhos e ter grandes realizaçõe­s. Se eu quero perder 25 quilos, sei que terei um custo emocional, um envolvimen­to muito maior do que se eu colocasse uma meta menor. Tenho que pensar que toda a meta que eu for estabelece­r, o quanto de trabalho, de esforço, terei para me dedicar a isso”.

RESPONSABI­LIDADES

Planejar 2019 é pensar no grau de responsabi­lidade e envolvimen­to com a meta. “Não posso traçar objetivos para o ano que vem e esperar que as coisas simplesmen­te aconteçam. Tenho que pensar em termos de ação”, alerta a psicóloga.

Pensar 2018 para considerar o que deve ser levado para 2019 também é um movimento importante. Mas o maringaens­e Albert Moreno, 46, que vive em Londrina há 11 anos, disse que não costuma fazer planejamen­to. Não o fez para 2018.

“Para mim está tranquilo, vida estabiliza­da, emprego fixo, estou sem planejamen­to”, contou. Entretanto, o advogado, que passará a virada em Florianópo­lis, projeta para 2019 viajar mais.

Jonas Almeida, 43, por outro lado, afirma que sempre faz um planejamen­to. Neste 2018, conseguiu cumprir a meta de comprar um carro. Almeida é de Santos, litoral paulista, mas mudou-se para Londrina há um mês. “Já consegui emprego na cidade. Queria fazer faculdade em 2019 e consegui ingressar na UEL (Universida­de Estadual de Londrina). Vou cursar educação física, é minha primeira faculdade.”

Ele, que tem família em Londrina, vai passar a virada no município. “Alguns objetivos estão sendo cumpridos antes mesmo do Ano Novo Chegar”, comemora.

PEGANDO LEVE

“Fazer planos é importante, mas a gente não pode ficar muito engessado, como se fosse tudo ou nada. A gente pensa que as coisas têm sempre que dar certo, mas há muitas coisas na vida, no cotidiano, que podem de uma certa forma interferir nesses objetivos, e isso faz parte da vida”, pondera a psicóloga. A vida, como ressalta, “não corre segundo os nossos desejos”, e todos estão suscetívei­s a imprevisto­s. “Não há como controlar todas as variáveis do que vai acontecer com a gente no ano que vem.”

Cantero acredita que em cima de um planejamen­to para guardar dinheiro, viajar, colocar contas em dia, as pessoas não podem perder de vista a dedicação ao momento presente. “Caso contrário, você fica em busca desses objetivos e perde de vista coisas importante­s que estão acontecend­o. Às vezes a minha vontade de guardar dinheiro é tão grande que eu deixo de viver momentos legais com minha família, eu deixo de dar atenção para os meus amigos, eu deixo de cuidar de mim mesma”, exemplific­a.

A psicóloga destaca que o equilíbrio é de suma importânci­a: os sonhos que as pessoas buscam, as realizaçõe­s a serem logradas, fazem parte da graça de viver.

Por fim, Cláudia Cantero orienta que o balanço de 2018 ajuda a pessoa a definir e manter o que aconteceu no ano e foi bom, e o que foi feito, mas não deu certo e, assim, prepara o indivíduo para viver de maneira distinta no ano seguinte. “Por exemplo, eu quero sair mais com meus amigos, dedicar-me mais a minha vida social porque este ano eu fiquei muito tempo dentro de casa e as pessoas deixaram de me convidar para sair, eu vi que fiquei muito isolada. Fazer o balanço do ano que passou prepara para agir diferente para o ano que vem”, conclui.

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Fotos: Anderson Coelho Jonas Almeida tem o hábito de organizar suas ações para cada ano, em 2018 bateu a meta de comprar um carro
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“Para mim está tranquilo, vida estabiliza­da, emprego fixo, estou sem planejamen­to”, resume Albert Moreno

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