Folha de Londrina

AOS DOMINGOS PELLEGRINI

Naquele tempo namoravam assim, era tudo diferente, nem pipoca tinha no cinema. Só o filme

- D.pellegrini@sercomtel.com.br

- Oi, estou aqui na varanda da minha casa, que você não conhece ainda. E você?

- Na sala do meu apê, naquele sofá que você conheceu, e com panela chiando ali na cozinha.

- E eu com roupa lavando na máquina. - Pois é, deviam inventar panela de pressão que também parasse sozinha.

- Que é que você está cozinhando? - Chuchu.

- Em panela de pressão? Não é mole demais?

- Não sei, nunca cozinhei chuchu. - Fique atenta. Nossa, panela, chuchu, está até lembrando o namoro da minha bisavó. Ela contava que conheceu meu bisavô na rua, quando o carro dele atolou na frente da casa dela e...

- Atolou?!

- É, naquele tempo a rua era de terra, e todo mundo foi ajudar a empurrar pra desatolar, respingou barro no vestido dela, então ela dizia que foi um namoro que começou igual Adão e Eva, do barro. Aí começaram a namorar na casa dela, onde eles ficavam sentados na sala enquanto minha trisavó passava roupa, o tempo todo de olho. - Que namoro, hem!

- Mas bastava minha trisavó ir ver alguma coisa na cozinha, eles pegavam na mão... - Pra que?

- Naquele tempo namoravam assim. Era tudo diferente, nem tinha pipoca no cinema.

- Então que é que eles faziam?

- Só viam o filme, acredita? E depois do cinema iam pra praça chupar sorvete, e se era de groselha, mostravam a língua vermelha um pro outro...

- Por falar nisso, naquela festa em que a gente se conheceu, depois de tudo que aconteceu, não lembro: eu usei camisinha?

- Usou, eu coloquei em você, não lembra?

- Vodca me faz esquecer.

- Também pudera! Você bebe sempre no gargalo? Alô, oi!

- Oi, desculpe, é que você falou do namoro da sua bisa, eu estava lembrando na namoro da minha avó. Ela ficou noiva oito anos, esperando meu avô se formar, trabalhar, montar casa, só aí casaram! Oito anos!

- Nossa, dava pra fazer dois cursos na universida­de.

- E o mais incrível é que ficaram casados a vida inteira e ela teve oito filhos!

- Por falar nisso, acho que vou adotar um, não sei se poodle ou bassê, que é que você acha?

- Não sei, tenho gato, dá muito menos trabalho. Alô!

- Desculpe, agora sou eu quem estava lembrando, o trabalho que minha mãe deu a meu pai no namoro deles. Era num tempo em que chamavam de amizade colorida ir pra cama, e ele vivia querendo ir pra cama e ela falava não, pra isso tem tempo. Até que, dias antes do casamento, ele exigiu o teste da cama! Ou ela deitava com ele, ou ele desmarcava o casamento.

- Aí ela foi pra cama com ele.

- Sim: na casa de móveis, onde foram comprar cama, ela deitou, falou pra ele deitar também, ele deitou, ela perguntou e daí, passei no teste da cama? E ele contava que até aquele momento ainda tinha uma duvidazinh­a se devia casar com ela, aí não teve mais dúvida.

- E a gente, gata, quando vai se ver de novo?

- Se for só pra ver, já estamos nos vendo na telinha, né.

- Falando sério, gostei dessa história de namoros, e eu sei fazer uma salada de chuchu com queijo que...

- Chuchu?! Esqueci dele, então por isso esse cheiro no ar!

- Se derreteu, faço suflê de chuchu!

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