O felliniano Greca
Bastou o prefeito Rafael Greca, com aquela euforia permanente, que o faz algo que lembra uma criação do cineasta italiano Federico Fellini, aparecer anunciando sua saída da UTI para o apartamento hospitalar e nas redes sociais saudando os curitibanos, e fixou-se essa surpreendente atmosfera de confiança, de pegada, mesmo agredido pela cirurgia, que o transforma num personagem incomum da política e com todas as condições para aspirar a reeleição. Nem sempre o humor responde às suas crises, como quando é contrariado pela justiça na briga com médicos e terceirizadas ou nos entreveros com corporações em que revela viés autoritário. No Brasil, a exaltação ao sorriso contido de Getúlio Vargas, consagrada até em composição carnavalesca (“Bota o retrato do velho outra vez,// bota no mesmo lugar//, o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar”), ganha um tom de transbordamento nessa figura ímpar que fala das linhas do biarticulado e indica os pontos geográficos nesse roteiro em que dona Neném faz as compras e seu Zezé conversa com o padre na igrejinha do bairro, em cada lugar um testemunho identitário de amor-paixão pela cidade.
Se Fellini os visse, ele e a sua Margarita, os levaria, em sequestro, para Cinecitta, eternizando-os no celuloide. “La Nave Va” teria, é claro, a volta, posto que muitos desejassem o contrário.