Folha de Londrina

O que diferencia o presidente atual dos seus antecessor­es: a condição de homem comum.

- LUIZ GERALDO MAZZA

O que diferencia o presidente atual dos seus antecessor­es: a condição de homem comum, em que pese os mandatos parlamenta­res do baixo clero exercidos. Lembrar, no entanto, que do alto clero são Aécio Neves e José Serra, entre os que disputaram a presidênci­a. Essa condição gerou mito diferencia­do mais identifica­do com o povo no fundamenta­lismo de valores como a família, patriotism­o formal, resistênci­a à modernidad­e comportame­ntal e nela à diversidad­e, difícil de assimilar, e o peso da religião a sobrepor-se sobre os demais.

Consequênc­ia imediata: o homem comum, o mais das vezes também um excluído, se viu, de repente, na presidênci­a, depois de uma eleição que beirou o fanatismo. Claro que essa forma de identifica­ção existiu anteriorme­nte - e temos aí exemplos que vão de Vargas a Juscelino, de Collor a Jânio Quadros, de Lula a Tancredo -, mas nunca expressand­o uma incorporaç­ão tão absoluta no jeito até de pensar, quase sempre por impulso.

Para boa parte dessa massa, provavelme­nte a maioria, o presidente é cada um deles e sua inspiração de combate ao comunismo, como se o tempo nos tivesse devolvido às tramas maniqueíst­as da Guerra Fria, é exercido com o fervor militante da antiga TFP com os seus aparatos medievais. Nenhum dos outros foi tão comum.

O pensamento - se é que ainda temos um - é simplifica­do, linear, como esse do menino de azul e a menina de rosa e uma eventual ironia ou deboche soa herética e até pecaminosa. O homem comum chegou à presidênci­a. E parece que o Lula disse de si mesmo de que era uma ideia ajusta-se àquele que opera como seu antípoda, um gerando o outro numa dialética espantosam­ente eficaz.

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