O que diferencia o presidente atual dos seus antecessores: a condição de homem comum.
O que diferencia o presidente atual dos seus antecessores: a condição de homem comum, em que pese os mandatos parlamentares do baixo clero exercidos. Lembrar, no entanto, que do alto clero são Aécio Neves e José Serra, entre os que disputaram a presidência. Essa condição gerou mito diferenciado mais identificado com o povo no fundamentalismo de valores como a família, patriotismo formal, resistência à modernidade comportamental e nela à diversidade, difícil de assimilar, e o peso da religião a sobrepor-se sobre os demais.
Consequência imediata: o homem comum, o mais das vezes também um excluído, se viu, de repente, na presidência, depois de uma eleição que beirou o fanatismo. Claro que essa forma de identificação existiu anteriormente - e temos aí exemplos que vão de Vargas a Juscelino, de Collor a Jânio Quadros, de Lula a Tancredo -, mas nunca expressando uma incorporação tão absoluta no jeito até de pensar, quase sempre por impulso.
Para boa parte dessa massa, provavelmente a maioria, o presidente é cada um deles e sua inspiração de combate ao comunismo, como se o tempo nos tivesse devolvido às tramas maniqueístas da Guerra Fria, é exercido com o fervor militante da antiga TFP com os seus aparatos medievais. Nenhum dos outros foi tão comum.
O pensamento - se é que ainda temos um - é simplificado, linear, como esse do menino de azul e a menina de rosa e uma eventual ironia ou deboche soa herética e até pecaminosa. O homem comum chegou à presidência. E parece que o Lula disse de si mesmo de que era uma ideia ajusta-se àquele que opera como seu antípoda, um gerando o outro numa dialética espantosamente eficaz.