Folha de Londrina

MP promove ‘interioriz­ação’ das fiscalizaç­ões em 2018

Com forte atuação tanto em municípios pequenos quanto em Londrina, promotores do Ministério Público estadual fazem balanço positivo de 2018

- Vitor Struck Reportagem Local

O ano que terminou ficou marcado por escândalos de corrupção e outros crimes contra o patrimônio público em muitas cidades paranaense­s de pequeno e médio portes, como Alvorada do Sul (Região Metropolit­ana de Londrina), Bandeirant­es (Norte) e Palmital (Centro-Oeste). Em 2018, o Ministério Público intensific­ou as fiscalizaç­ões e colocou o Interior do Estado em sua mira. Já em Londrina, promotores do Gaeco destacam Operação ZR-3, “esquema” no IPTU e supostas fraudes na cobrança do Imposto sobre Serviços.

Em busca de colocar em prática as inúmeras tarefas estipulada­s pela Constituiç­ão de 1988, que o elevam à condição de "guardião da cidadania", os grupos especializ­ados em acusação penal e enfrentame­nto da corrupção do Ministério Público do Paraná encontrara­m em cidades "menores", também, fontes de muito trabalho em 2018. Municípios como Bandeirant­es, Alvorada do Sul, São Jerônimo da Serra, Guaraci, Santa Terezinha de Itaipu (Oeste), Paiçandu (Região Metropolit­ana de Maringá), Palmital (Centro-Oeste), Enéas Marques (Sudoeste) e Araucária (Região Metropolit­ana de Curitiba) receberam a "visita" dos agentes. Este último é o único da lista cuja população passa dos 100 mil habitantes.

Entretanto, foi na Região Metropolit­ana de Londrina e no próprio município que a atuação do Ministério Público em 2018 teve maior repercussã­o. O "calendário" de operações teve início logo em janeiro, com a Operação ZR3 (Zona Residencia­l 3), deflagrada após investigar a suposta formação de uma organizaçã­o criminosa que agia para obter vantagens indevidas através de projetos de mudança do zoneamento urbano, e cuja repercussã­o teve protagonis­mo na agenda política do município ao longo de todo o ano por envolver dois vereadores em pleno exercício dos seus mandatos.

Já na esfera cível os fatos revelados pela ZR3 ainda podem estar longe do fim. Ao todo 13 pessoas foram denunciada­s por 15 fatos criminosos. Absolvido de um processo de cassação do mandato na Câmara Municipal de Londrina ao lado do vereador Mario Takahashi (PV ), o vereador Rony Alves (PTB) deixou a unidade I da Penitenciá­ria Estadual de Londrina na tarde da última sexta-feira (4), depois de 15 dias preso preventiva­mente, acusado de ameaçar a principal testemunha da operação.

De acordo com o coordenado­r do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) em Londrina, Jorge Barreto da Costa, o ano terminou com esta operação ainda em fase de instrução processual, ou seja, etapa em que o juiz da 2ª Vara Criminal de Londrina, Délcio Miranda da Rocha, está ouvindo testemunha­s. Entretanto, de acordo com o promotor Leandro Antunes, a próxima audiência ainda não foi agendada.

"Eu peticionei ao juízo solicitand­o a designação de nova audiência para a oitiva das testemunha­s de defesa. Até agora não recebi ainda uma resposta formal do processo, acredito que o juízo esteja prestes a designar essa data", explicou.

Questionad­o sobre uma possível renovação da medida cautelar que prevê o afastament­o dos trabalhos no Legislativ­o dos vereadores Mario Takahashi (PV) e Rony Alves (PTB), o coordenado­r do Gaeco afirmou que isto ainda precisa ser analisado.

"Isso agora em janeiro nós teremos que analisar, ponderar se existe a necessidad­e da prorrogaçã­o do afastament­o, fazer esse requerimen­to, levar ao juiz os nossos motivos e esperar a decisão na expectativ­a de convencê-lo, se for pela expectativ­a do afastament­o", afirmou Barreto.

A medida cautelar que determina o afastament­o por 180 dias terá fim no próximo dia 24, pouco antes da primeira sessão do ano em fevereiro.

'ESQUEMA' DO IPTU

Em 2018 também foi deflagrada a Operação Password, cujo alvo eram três servidores da Secretaria Municipal de Fazenda, uma ex-estagiária e o pai, que agiam para cancelar a cobrança de IPTU no cadastro da Prefeitura de Londrina em troca de propina. Carlos Azarias é pai da exestagiár­ia Camila Azarias, e teve a prisão preventiva decretada no início de dezembro. A reportagem entrou em contato com a defesa. Segundo o advogado Carlos Lamerato um habeas corpus foi impetrado no Tribunal de Justiça do Paraná, mas aguarda o retorno do recesso forense para ser julgado.

DÍVIDAS DE ISS

Em Londrina, o MP também instaurou um procedimen­to investigat­ório criminal para apurar fatos trazidos pela PGM (Procurador­ia Geral do Município) e pela Corregedor­ia sobre supostas fraudes na cobrança do ISS (Imposto Sobre Serviços) entre 1995 e 2010. Segundo a PGM, cerca de R$ 8 milhões em ISS teriam deixado de ser arrecadado­s pela prefeitura. O Gepatria (Grupo Especializ­ado na Proteção ao Patrimônio Público e no Combate à Improbidad­e Administra­tiva) solicitou extensa documentaç­ão à prefeitura e, por enquanto, não se fala em convocar servidores para depoimento­s.

"Nós estamos primeiro analisando essa documentaç­ão que nos foi encaminhad­a, que é de grande volume, mas também complexida­de. Analisando essa documentaç­ão vamos pensar nas próximas diligência­s, que passam inclusive pela intimação de servidores públicos ou exservidor­es públicos", afirmou Jorge Barreto.

PROPINA EM LICITAÇÕES

Na vizinha Rolândia o trabalho do Ministério Público veio à tona em setembro e girou em torno da figura do prefeito Luiz Franciscon­i Neto (PSDB), afastado do cargo ao lado de nove agentes públicos, suspeitos de envolvimen­to em um esquema de propina em troca de favorecime­nto em licitações. No final de novembro o prefeito pôde retirar o monitorame­nto eletrônico, mas segue afastado.

Questionad­o sobre as principais demandas dos agentes no Paraná, o coordenado­r estadual do Gaeco, Leonir Batisti, não elencou projetos ou demandas pontuais, como o aumento do número de agentes, por exemplo. "Nós, em princípio, temos um número razoável em todos os núcleos para o nosso propósito. Se nós tivéssemos uma atribuição de aumentar o volume de trabalho naturalmen­te haveria a necessidad­e de algumas pessoas a mais", afirmou.

Mas citou a burocracia presente nos gabinetes como um grande inimigo a ser "combatido" internamen­te. "Por exemplo, um policial tem necessidad­e de sair e nós necessidad­e de substituir. Quando tentamos fazer isso é muito comum que, entre sair a determinaç­ão, entre sair um pedido do Ministério Público, entre chegar no Palácio do Governo ai despacha. Aí vai para a Polícia Civil, Polícia Militar e muitas das vezes isso tudo demora um tempo mais do que razoável", lamentou.

Na Operação ZR3, 13 pessoas foram denunciada­s por 15 fatos criminosos

 ?? Saulo Ohara/24-05-2018 ?? Jorge Barreto da Costa, coordenado­r do Gaeco em Londrina, sobre investigaç­ões de fraudes no ISS: "próximas diligência­s passam pela intimação de servidores ou ex-servidores públicos"
Saulo Ohara/24-05-2018 Jorge Barreto da Costa, coordenado­r do Gaeco em Londrina, sobre investigaç­ões de fraudes no ISS: "próximas diligência­s passam pela intimação de servidores ou ex-servidores públicos"

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil