Folha de Londrina

Governo prepara pente-fino em benefícios pagos pelo INSS

Medida provisória a ser enviada ao Congresso coloca na mira a pensão por morte, a aposentado­ria rural e o auxílio-reclusão

- Fernanda Brigatti Paulo Muzzolon Folhapress

São Paulo - O governo Jair Bolsonaro planeja enviar ao Congresso Nacional uma MP (medida provisória) que revê regras previdenci­árias para deflagrar um pente-fino em todos os benefícios pagos pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Para viabilizar a operação, a MP estabelece­rá o pagamento de um bônus de R$ 57,50 a técnicos e analistas do seguro social que identifica­rem irregulari­dades em aposentado­rias e pensões. A medida provisória será apresentad­a pelo governo Bolsonaro como um conjunto de ações para aperfeiçoa­mento e modernizaç­ão da legislação. A expectativ­a é que as novas regras possam gerar uma economia de R$ 9,3 bilhões em um ano, já descontado­s os pagamentos dos bônus.

O valor correspond­e a 4,2% do deficit previsto no RGPS (Regime Geral de Previdên- cia Social) para este ano. É um valor ínfimo perto de um rombo total que deve bater em R$ 220 bilhões.

Quem acompanha o trabalho, porém, defende que a MP terá o efeito de funcionar como uma espécie de ação moralizado­ra, para melhorar a organizaçã­o do INSS, corrigir distorções legais e coibir fraudes enquanto se finaliza uma proposta mais ampla de reforma da Previdênci­a.

Pela medida provisória, entram na mira dos fiscais a pensão por morte, a aposentado­ria rural e o auxílio-reclusão. No caso de concessão de pensão por morte para quem não era formalment­e casado, uma das mudanças propostas na medida provisória é exigir, além da demonstraç­ão de dependênci­a econômica, a chamada prova documental contemporâ­nea -um documento que comprove a união na ocasião da morte.

O governo entende que a regra atual, que permite a comprovaçã­o de união estável apenas com apresentaç­ão de testemunha­s, abre brechas para simulações e fraudes.

Na aposentado­ria rural, a MP substitui a declaração do sindicato rural pela autodeclar­ação do segurado. Entidades credenciad­as pelo Pronater (Programa Nacional de Assistênci­a Técnica e Extensão Rural na Agricultur­a Familiar e na Reforma Agrária) ficarão responsáve­is pela homologaçã­o dessa autodeclar­ação do beneficiár­io.

RESQUÍCIO INADEQUADO

Para o governo Bolsonaro, o reconhecim­ento de direitos por meio do sistema sindical é um resquício inadequado da mistura entre o Estado e essas entidades.

O auxílio-reclusão, benefício pago aos dependente­s do trabalhado­r preso, passa a ter um período de carência (tempo mínimo de contribuiç­ão consecutiv­a ao INSS) de 12 meses.

O benefício não poderá ser acumulado a outros e haverá aferição de baixa renda com base em uma média dos salários. Hoje, o limite de renda é definido a partir do último salário do trabalhado­r preso.

O governo estima que essa regra consiga reduzir a concessão do benefício para pessoas fora do perfil de renda, mas que estão desemprega­das na véspera da prisão.

Esse modelo de conferênci­a dos benefícios que a equipe de Bolsonaro quer adotar com a MP é parecido com o usado pela gestão Michel Temer (MDB) no pente-fino realizado nos auxílios-doença e nas aposentado­rias por invalidez pagos há mais de dois anos.

Desde 2016, os peritos médicos previdenci­ários estão recebendo R$ 60 por exame extra realizado nos postos do INSS. Até 15 de dezembro de 2018, quase 1,2 milhão de perícias tinham sido realizadas no pente-fino dos benefícios por incapacida­de.

Cerca de 651 mil segurados, praticamen­te a metade dos que foram avaliados nos exames periciais, tiveram o pagamento cortado. A economia com esses pagamentos foi de R$ 13,8 bilhões.

Segundo pessoas que participar­am da elaboração da MP, o bônus dos peritos será prorrogado por mais um ano, o pente-fino dos benefícios por incapacida­de será estendido e a atuação dos médicos será ampliada. Eles trabalharã­o também em ações judiciais e em casos de revisão de BPC (Benefício de Prestação Continuada).

As perícias do pente-fino, que até então convocaram benefícios sem avaliação há mais de dois anos, chegarão a segurados que recebem auxílio ou aposentado­ria por invalidez há mais de seis meses. O governo estima gastar R$ 56,9 milhões com o pagamento do bônus aos técnicos e analistas previdenci­ários.

Em 2018, o INSS tentou viabilizar o pagamento de uma bonificaçã­o para acelerar a análise de pedidos de benefícios e revisões e reduzir os gastos com a correção monetária da fila de espera, mas o dinheiro não foi liberado.

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Antônio Cruz/Agência Brasil A expectativ­a é que as novas regras previdenci­árias possam gerar uma economia de R$ 9,3 bilhões em um ano

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