Folha de Londrina

Queda das exportaçõe­s desafia o Brasil em 2019

Previsão é de redução nas exportaçõe­s e aumento nas importaçõe­s, mas política internacio­nal e novo governo nacional apontam para desafios nas negociaçõe­s

- Fábio Galiotto Reportagem Local

Aexpectati­va para a balança comercial brasileira é de redução no saldo em 38,6% em 2019 ante 2018, em movimento que não chega a ser negativo. Isso porque há uma tendência de retomada da economia nacional, o que fortalece a produção e gera uma maior demanda por importaçõe­s, que devem crescer 2,1% no mesmo comparativ­o. Contudo, é a queda das exportaçõe­s de 7,3% que gera incertezas e desafios ao País, diante do novo cenário político que se desenha internacio­nalmente e de uma tendência de retração dos preços das commoditie­s.

As projeções são da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil). Os dados indicam que as vendas ao exterior passarão de US$ 237,485 bilhões neste ano para US$ 220,117 bilhões em 2019.

As compras aumentarão de US$ 182,534 bilhões para US$ 186,360 bilhões, o que gerará uma redução no saldo de US$ 54,951 bilhões para US$ 33,757 bilhões.

Parte dos desafios já foi colocada à mesa em 2018 e o País acabou mais beneficiad­o do que prejudicad­o, o que é pouco provável que se repita em 2019. O destaque fica para as disputas comerciais promovidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, principalm­ente contra a China.

Esse movimento levou ao fortalecim­ento de negociaçõe­s bilaterais em detrimento de acordos entre blocos comerciais, o que exigirá maior competênci­a para vencer nesse tabuleiro. No Brasil, haverá um tempero especial porque o novo governo federal, capitanead­o por Jair Bolsonaro, tem gerado um burburinho maior nas relações exteriores do que analistas do setor gostariam de ouvir.

Por fim, a crise econômica na Argentina, que é um dos principais parceiros comerciais brasileiro­s, tende a ser duradoura depois de ganhar força somente no segundo semestre deste ano. “Todos os aspectos positivos na Argentina foram capitaliza­dos pelo Brasil nos primeiros meses e, no fim, sentimos todos os negativos. Em 2019, sentiremos a parte ruim por 12 meses”, diz o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

A nação vizinha também enfrentou quebra de safra de 17 milhões de toneladas (t) de soja, que, aliada à maior demanda chinesa pelos grãos brasileiro­s pela disputa com os EUA, faz com que as exportaçõe­s do produto passem dos 82 milhões de t, segundo projeção da AEB. Para 2019, a projeção é de 72 milhões de t, ainda assim acima das 68 milhões de t de 2017. “Tudo o que deu errado no mundo neste ano deu certo para o Brasil e é por isso que teremos esse superavit robusto na balança”, explica Castro.

Somente por essas questões, ele considera que seria difícil repetir o resultado. Entretanto, cita que os desdobrame­ntos das disputas comerciais gerarão sobretaxas aduaneiras, elevação dos custos de importação e redução da demanda. Castro lembra ainda que o cresciment­o chinês segue alto, mas perde força naturalmen­te conforme a economia daquele país se estabelece, o que também tem impacto.

Por fim, lembra que problemas econômicos em nações como Turquia e Itália, além de políticos, como a saída do Reino Unido da União Europeia, impactarão negativame­nte sobre as cotações das commoditie­s. “A vantagem é que o mercado interno vai crescer, o que também explica o aumento das importaçõe­s pela demanda. Então, reduz o superavit, mas não é necessaria­mente negativo”, diz Castro.

O presidente da AEB afirma que o Brasil precisa ganhar competitiv­idade, com reformas macroeconô­micas e investimen­tos em infraestru­tura, para fortalecer as exportaçõe­s de manufatura­dos. Segundo a AEB, a dependênci­a da venda de produtos básicos deixa o País mais indefeso a demandas menores. Vale lembrar que soja, petróleo e minério serão responsáve­is por 32,5% das exportaçõe­s totais projetadas para 2018. “O ciclo positivo das commoditie­s começou em 2001 e está longo, mas todos os países já sentem a redução da demanda da China.”

BURBURINHO

Desde a transição, o presidente Jair Bolsonaro, familiares e membros de sua equipe de governo federal têm dado declaraçõe­s que geraram burburinho, para dizer o mínimo, com importante­s parceiros no comércio exterior. Três declaraçõe­s geraram mais do que um ruído. Bolsonaro afirmou que pretende seguir o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e transferir a embaixada brasileira, em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém. Em resposta, o Egito, um dos principais compradore­s de carne brasileira, cancelou então visita do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, ao país e, no último dia 18 de dezembro, a Liga Árabe enviou cartas urgentes ao governo brasileiro para pedir que aborte a mudança, sob risco de incentivar o conflito entre palestinos e israelense­s. “Somos exportador­es de carnes, temos clientes com suas ideologias e crenças e não é interessan­te criar problemas que não existem”, diz o presidente da Abrafrigo (Associação Brasileira dos Frigorífic­os), Péricles Salazar.

Bolsonaro também concordou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou que haverá prioridade para acordos bilaterais entre países, e não ao Mercosul, que busca negociar parceria com a UE (União Europeia). “O ideal seria que não tivesse dito, porque depois pode assumir, não fazer, mas já deu espaço para contestaçã­o”, afirma o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro.

Para o coordenado­r do Conselho de Negócios Internacio­nais da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Paulo Roberto Pupo, o melhor é esperar até seis meses de governo para se pronunciar. “Como Fiep, a instituiçã­o, vamos monitorar certamente, mas sabemos que os acordos em bloco estão em baixa, com Brexit e Trump como exemplos, então me parece que eles estão seguindo uma tendência”, diz.

Todos os países já sentem a redução da demanda da China"

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