Folha de Londrina

‘Mais político do que financeiro’, define especialis­ta sobre contingenc­iamento

- Vitor Struck Reportagem Local

Após a publicação nesta semana de um decreto assinado pelo governador Ratinho Junior (PSD) que determina contingenc­iamento de 20% das despesas do Estado, gestores de instituiçõ­es e universida­des estaduais viram sua preocupaçã­o aumentar diante do novo “desafio” financeiro. O corte que, de acordo com o governo representa um adiamento na liberação dos recursos, impacta em R$ 124 milhões o orçamento da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) e HU hospital Universitá­rio), de modo que poderia compromete­r o funcioname­nto no último trimestre deste ano.

Para o professor Sidney Pereira do Nascimento, chefe do Departamen­to de Economia da UEL e coordenado­r do Grupo de Pesquisa em Eficiência da Gestão Pública (GPEGP), anunciar e realizar o contingenc­iamento desta forma pode não trazer o resultado esperado do ponto de vista técnico, mas “apenas no marketing político”.

Pereira pondera que cortes são comuns sempre ao início de uma nova gestão e até lembra suspensões de todos os pagamentos do Estado por 90 dias realizadas no início das gestões de Beto Richa (PSDB), em 2011, e de Roberto Requião (MDB), em 2003. Entretanto, é crítico com relação à decisão e aos efeitos que essas medidas podem gerar para o ano que vem.

“Nesse caso agora foi para dizer que o governo vai fechar o ano com corte de até 20%. Isso na prática não deve acontecer. Em alguns lugares se consegue reduzir, em outros não”, pondera.

“Esse é um sinal, mas também dá um sinal para o fornecedor de que ele corre o risco de não receber. A economia vive de expectativ­as, se a expectativ­a é de haver um risco, você emite ali o risco financeiro”, emenda.

Para o professor, um aumento nos preços dos produtos ofertados se daria por conta da saída de alguns fornecedor­es, o que acarretari­a em perda de competitiv­idade.

Além disso, Ratinho Junior já anunciou a fusão de secretaria­s e o congelamen­to do próprio salário e de secretário­s estaduais, que poderiam ser reajustado­s por conta do chamado “efeito cascata” ocasionado pela indexação do teto constituci­onal ao subsídio dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Questionad­o sobre quais medidas poderiam ter sido tomadas em primeiro lugar, Pereira cita uma reestrutur­ação total dos procedimen­tos de trabalho.

“Quando eu digo sobre uma folha de papel que precisa de cinco carimbos, isso ainda existe. É extremamen­te desnecessá­rio e custa muito caro. Quando se elimina isso você economiza dinheiro e estas pessoas poderiam ser realocadas num hospital onde faltam atendentes, por exemplo”, avalia.

Ainda em dezembro do ano passado a então governador­a, Cida Borghetti (PP), afirmou ter passado aplicações do Banco do Brasil com R$ 4,3 bilhões, sendo R$ 400 milhões de “folga” para o uso da nova gestão.

Para professor, reestrutur­ação dos procedimen­tos de trabalho teria efeito prático maior

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