Movimento Urban Sketchers traz outro olhar sobre a cidade
Exposição de crianças reúne desenhos da cidade; mostra pode ser vista no Espaço CEDDO
Um movimento chamado Urban Sketchers tem ajudado a lançar um outro olhar sobre Londrina. O grupo se reúne sempre aos finais de semana em um ponto da cidade para desenhar ao vivo as paisagens que observam. O resultado deste trabalho, com desenhos de crianças que têm entre 8 e 12 anos, pode ser visto até o dia 24 no Espaço CEDDO no centro da cidade.
O grupo Urban Sketchers teve início em 2007, quando o espanhol Gabi Campanario, artista visual e jornalista radicado nos EUA, criou um blog para expor seus desenhos de paisagens. Outros desenhistas também se interessaram e uma rede foi formada. No Brasil, o arquiteto Eduardo Bajzek montou um grupo de sketchers (desenhistas) em São Paulo no ano de 2011. Na época outros grupos espontâneos já se reuniam para desenhar, mas com o nome de Croquis Urbanos.
Em Londrina, o primeiro encontro de desenhistas de rua foi em 1º de março de 2015. Desde essa data, já são 196 encontros, o que faz do grupo londrinense um dos mais atuantes do Brasil. Depois de cada reunião, as produções são divulgados nas redes sociais dos grupos de Urban Sketchers de outras cidades e até de outros países.
Odil Ribeiro, um dos fundadores do grupo londrinense e atual coordenador, explica que o único pressuposto para participar é ter vontade de desenhar. “É uma reunião espontânea de interessados. É verdade que a prática e o tempo ajudam, mas quem pretende aprender segue o processo de aprender uma linguagem: aprende-se um pouco de tudo e as lições vão se completando ao longo do aprendizado.” Odil compara o aprendizado dos traços com o de uma nova língua. “É o mesmo princípio, aulas de temas diferentes que se completam no final do processo.”
Os encontros semanais têm duração de 2 horas e os pontos de encontro são escolhidos pelo coordenador do movimento. Entre os princípios seguidos para desenhar, Odil explica que é preciso produzir ao vivo. “Por isso os desenhos têm um caráter de registro do tempo e do local. Mais do que mostrar a arquitetura ou um objeto, o desenho vai mostrar características de uma época, do clima, com tempo nublado ou ensolarado. Além de revelar o próprio humor do desenhista. Pelo traço podemos ver se quem desenha está triste ou animado e satisfeito.” O Urban Sketchers de Londrina acolhe qualquer interessado em desenhar, mesmo sem experiência prévia.
DESENHISTA DE MÃO CHEIA
Gabriela dos Santos Pinto, 9 anos, é a integrante mais antiga do Urban Sketchers em Londrina entre as crianças. A mãe, Erika dos Santos Silva, conta que
tudo começou quando ela cursava Artes Visuais e estava envolvida com trabalhos da faculdade e por isso foi conhecer o projeto em um domingo junto com Gabriela. Naquele dia, os desenhistas estavam reunidos no Mercado Shangri-lá e Gabriela logo manifestou interesse em desenhar também. A partir daquele dia, Gabriela pediu para encontrar o grupo todo final de semana para desenhar.
Sobre a evolução de Gabriela nesses três anos, a mãe confirma que é visível. “A gente consegue ver a noção de perspectiva que ela adquiriu. E só de frequentar os encontros, sem ter contato com outras aulas mais específicas. Apesar de ser um traço infantil, ela já aprendeu algo mais técnico também.”
Para a mãe, é importante incentivar essas atividades pensando em não interferir no amadurecimento precoce da filha. “Vejo muitas crianças ligadas nos jogos de computador e outras atividades que nem são propriamente para crianças, mas a Gabriela gosta muito de ler e eu procuro incentivar isso também.”
Gabriela gosta de pesquisar materiais de desenho, entra nas lojas do ramo e busca conhecer mais sobre o tema. Mesmo assim, Erika acha que com 9 anos não se pode dizer ainda que a filha vai atuar na área como profissional. “É muito cedo. Também já imaginei que ela falaria em fazer arquitetura, mas ela pode perfeitamente ficar só desenhando por diversão. É uma habilidade que ela pode desenvolver por gosto mesmo.”
Sobre os encontros itinerantes, sempre em locais diferentes da cidade, a mãe conta que inclusive para ela mesma é um aprendizado. Muitos lugares que eles vão para retratar são desconhecidos. “É bem interessante, porque são tantos lugares legais que ficamos conhecendo e se não fosse pelo projeto, de ter essa iniciativa de sempre procurar novos locais, nós dificilmente saberíamos da existência.” Outra função dos encontros para desenhar é desenvolver o olhar crítico de quem participa. “Os vários tipos de lugares que a Gabriela acaba conhecendo ajudam a treinar o olhar e comparar os problemas, as belezas.
Acho importante que ela aprenda a olhar essas diferenças.”
Quem tem interesse em participar basta levar seu material e começar a desenhar com o grupo no dia combinado. “Como os desenhistas mais experientes estão sempre presentes, eles ensinam um pouco, dão dicas de técnica, é bem proveitoso”, completa Erika.
*Supervisão:
Célia Musilli Editora da Folha 2