Deputados divergem sobre início das duas gestões
Aliados reforçam medidas econômicas e enxugamento da máquina; oposição diz temer cortes em políticas públicas e projetos considerados essenciais
- Como já era esperado, deputados de partidos da base e da oposição aos governos Jair Bolsonaro (PSL) e Ratinho Junior (PSD) têm percepções diferentes sobre esse início dos mandatos. Enquanto os aliados reforçam as medidas econômicas e de “enxugamento” tomadas, os demais dizem temer cortes em políticas públicas e projetos essenciais.
Tanto Bolsonaro quanto Ratinho obtiveram apoio maciço de lideranças de diversas regiões do Paraná e, consequentemente, dos eleitores, o que também aumenta a expectativa em torno dos desempenhos das gestões. O presidente recebeu 68,4% dos votos válidos no Estado. Já o governador ficou com 60%, sendo eleito ainda no primeiro turno.
“A gente tem uma expectativa grande com o governo Bolsonaro e com o Ratinho, porque a população realmente fez uma aposta para mudar, e mudar radicalmente”, resumiu Tercílio Turini (PPS). Membro da bancada independente na AL (Assembleia Legislativa) durante os governos Beto Richa (PSDB) e Cida Borghetti (PP), ele migrará neste ano para a ala governista.
Segundo Turini, ainda não é possível fazer uma análise detalhada da administração estadual, uma vez que o novo Executivo está na fase do diagnóstico. “Muitos convênios e contratos foram assinados praticamente no apagar das luzes. O governo está correto em avaliar. Tem que fazer esse pente fino para saber onde está pisando e planejar os próximos passos”.
Além de cancelar convênios dos últimos dois meses de administração da pepista, Ratinho contingenciou 20% do orçamento. “Acredito que em pouco tempo, tomando pé da situação, ele vai liberar. Aí a gente precisa ficar atento, porque tem setores que são sensíveis, atividades essenciais, como na saúde e na educação. Aqui na nossa região , as universidades foram as mais atingidas. Precisa ter agilidade nesse diagnóstico para atender todas as demandas”, pontuou.
“No resto, o governo está em formação ainda. Nomeou o primeiro escalão, nem todos os diretores de cargos importantes... Em fevereiro a gente vai saber a verdadeira cara. A gente que ajudou a eleger torce para que ele acerte”, completou. Sobre a redução no número de secretarias, de 28 para 15, o político do PPS destacou que era promessa de campanha. “Ele se elegeu com esse discurso e logicamente está fazendo. É uma medida positiva logo no início. Importante que venha acompanhada do enxugamento de cargos comissionados”, defendeu.
RESSALVAS
Reeleito “para seguir na oposição”, o deputado estadual Requião Filho (MDB) faz ressalvas quanto à anunciada diminuição na máquina. “Qual foi a redução verdadeira no número de cargos e de gastos? Você retira um secretário, mas a secretaria ainda existe. Os comissionados existem. Precisamos saber se houve realmente redução orçamentária e o impacto. Isso não foi apresentado”.
O emedebista também é contrário ao Programa de Parcerias do Paraná, que facilita a implementação das PPPs (parcerias público-privadas) e é o carrochefe da administração Ratinho. “É cópia de uma ideia que deu errado em todo o Brasil. Os grandes escândalos de corrupção são com PPPs que fogem ao controle do Estado. Não existe fiscalização. O Estado entra com todo o dinheiro e todo o risco. Se dá certo, a empresa fica com o lucro. Se dá errado, o Estado fica com o prejuízo. Acho absurdo e ainda veremos ‘Lava-jatos’ e similares num futuro próximo no Paraná”.
Requião Filho afirmou que vê com preocupação o bloqueio de verbas, sobretudo nas universidades estaduais e hospitais. “Demonstra as áreas que ele acha menos importantes. Os cortes são sempre em cima de quem mais precisa (?) Eu espero que os novos deputados que se elegeram dizendo ter compromisso com a transparência, com a vontade pública, realmente mantenham esse discurso na prática e a gente tenha uma Assembleia mais crítica, onde o debate se faça necessário; bem diferente do que tivemos nos últimos quatro anos”.
GOVERNO FEDERAL
Em relação ao governo federal, o parlamentar do MDB comentou que falta planejamento. “Soltam uma notícia para um jornal, para ver qual a reação do público, e desmentem se ela desagrada. Estão fazendo uma confusão. Os ministros sequer conversam a mesma língua. As demissões e contratações são sumárias. Parece que realmente era uma campanha de brincadeira e de repente deu certo. Agora não sabem o que fazer. É como um casal que vai a Las Vegas, toma um porre e decide casar, mas não pensou na vida conjugal”.
De acordo com Tercílio Turini, o governo Bolsonaro está “dentro da lógica que se propôs”. “Nomeou uma equipe econômica mais técnica. Vamos ver se consegue realmente fazer os encaminhamentos necessários, as reformas. A da previdência se não consegue aprovar no primeiro semestre acho que começa a bater cabeça. Tem uma equipe econômica com visão de mercado. Realmente é algo dentro do que ele vinha dizendo, de mais liberdade”.
Questionado sobre as vezes em que o presidente voltou atrás depois de um anúncio, contudo, Turini falou em “erro primário”. No último dia 4, Bolsonaro informou que havia assinado decreto elevando o percentual do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Na mesma entrevista, afirmou que o ministro Paulo Guedes anunciaria a possibilidade de diminuir o teto da alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Física, de 27,5% para 25%. Entretanto, após a repercussão negativa, o aumento foi suspendo.
“Um governo novo corre esse risco mesmo. Foi mais na questão de compensar a lei que dava incentivos para a Sudam e a Sudene (superintendências de Desenvolvimento da Amazônia e do Nordeste), aumentar IOF e baixar IR. Faltou combinar com a equipe econômica. Foi um erro primário, mas um aprendizado”, justificou.
General Eduardo Villas Bôas,
na transmissão de cargo de comandante do Exército
Precisamos saber se houve realmente redução orçamentária e o impacto. Isso não foi apresentado”
A gente tem uma expectativa grande, porque a população realmente fez uma aposta para mudar radicalmente”