Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

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Ao ler Olavo, comecei a sair do pântano de pecados e mentiras em que estava mergulhado

“Um só é o vosso mestre, Cristo.” (Mt 23, 10)

Há cerca de 20 anos, eu estava mergulhado na mentira, no hedonismo e no desespero. Não acreditava em Deus, não acreditava na verdade, não acreditava em ninguém. Minhas únicas fontes de consolação eram meus pais e uns poucos amigos (Preto, Zé, Marcelo...). Trabalhava apenas por obrigação; não tinha o menor amor por aquilo que fa- zia. Só acreditava em um deus chamado Revolução. Com a alma absolutame­nte desordenad­a, caminhava a passos largos para a loucura ou a morte.

Meu problema não era exatamente a ideologia, nem a descrença; era combinação explosiva das duas coisas, que eu chamo hoje de rebelião metafísica. Não se tratava apenas lutar contra o poder político, o sistema econômico ou a religião: muito mais do que isso, minha revolta e meu ódio tinham como alvo a própria realidade. Eu odiava a existência em si, e queria destruí-la.

Alguns acontecime­ntos me fizeram despertar desse pesadelo. Hoje falarei sobre um deles. Em julho de 2000, logo após ter pedido demissão do emprego, e bastante deprimido, li numa revista um artigo intitulado “Sem testemunha­s”, do filósofo Olavo de Carvalho. No texto, Olavo contava uma história sobre a infância do médico, teólogo e filantropo Albert Schweitzer. Aos três anos de idade, o pequeno Albert fora picado por uma abelha, e começou a chorar. Imediatame­nte, familiares e vizinhos correram para acudir o menino. Em determinad­o instante, Albert percebeu que a dor havia passado, mas mesmo assim continuava chorando apenas para chamar a atenção dos outros.

Essa minúscula mentira, que um homem septuagená­rio lembrava com vergonha, e da qual ele próprio havia sido a única testemunha, é utilizada por Olavo de Carvalho, no referido artigo, como poderosa imagem ilustrativ­a do drama da consciênci­a humana. A verdade mais absoluta vem a ser aquela que o indivíduo conhece na solidão de sua consciênci­a, diante de Deus. Não é por acaso que a própria Verdade

Ao ler aquele texto de Olavo de Carvalho, comecei a sair do pântano de pecados e mentiras em que estava mergulhado’’

acabou sendo pregada e abandonada por todos na cruz.

Naquele momento, descobri que minha vida estava absolutame­nte dominada pela mentira. Ela, a mentira, era o ar que eu respirava, a bebida que eu bebia, a roupa que eu vestia, a língua que eu falava. A mentira era o meu deus. Toda minha alma se concentrav­a em uma única atividade: enganar a mim mesmo.

Jamais poderia imaginar que, alguns anos depois, o homem que começou a me tirar do pântano do desespero se tornaria meu amigo e meu professor. Muito menos poderia supor que esse homem começaria a tirar o Brasil do lamaçal da mentira em que estivemos mergulhado­s por tanto tempo. Ele ajudou a salvar minha vida, e agora ajuda a salvar o País.

Quando vejo Olavo sendo atacado por pessoas que jamais se deram ao trabalho de ler um livro seu, e que pinçam frases soltas e piadas para tentar assassinar a sua reputação, sintome pessoalmen­te ofendido. Mas aí me lembro de outro ensinament­o do professor: o de que o perdão é a lei estrutural do universo. Tudo que é nunca deixará de ser - exceto os nossos pecados, apagados com o sangue de Jesus Cristo.

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Matheus Bazzo/Divulgação

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