Folha de Londrina

Cultivo de maconha para tratar autista

- Marina Dayrell

São Paulo - O TJ- SP ( Tribunal de Justiça de São Paulo) autorizou uma fisioterap­euta, mãe de uma menina de seis anos diagnostic­ada com autismo, a cultivar maconha em sua casa, em Campinas, no interior paulista, para produzir óleo de Cannabis, utilizado no tratamento da criança.

O salvo- conduto foi dado por um ano, atendendo a habeas corpus da Defensoria Pública de São Paulo. A decisão é inédita no Tribunal paulista e pode criar jurisprudê­ncia, diz a Defensoria

Em voto vencedor, o desembarga­dor Carlos Bueno citou precedente­s judiciais de outros Estados e alegou não ver motivos para negar o pedido.

A criança foi diagnostic­ada aos dois anos com transtorno do espectro autista. Em 2017, ela passou a usar óleo de extrato de maconha importado, com a autorizaçã­o da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas os trâmites e os altos custos dificultar­am a importação.

Relatórios médicos do Caps- IJ (Centro de Atenção Psicossoci­al Infanto-Juvenil), que acompanham o desenvolvi­mento da menina, e da escola onde estuda, atestaram a melhora no quadro da criança após o início do tratamento e recomendar­am a sua continuida­de.

Segundo a mãe, antes de começar a usar o óleo de extrato de maconha, a filha apresentav­a dificuldad­es para desenvolve­r a fala e interagir socialment­e, irritabili­dade, crises de ausência, tremores e espasmos musculares. “Ela começou a dormir bem e ficar mais tranquila. As crises violentas diminuíram muito. Antes eu colocava capacete nela em casa. Cheguei a perder o último dente molar após uma cabeçada dela”, conta.

Também houve melhoria em concentraç­ão, fala e interações sociais “Antes não sentia fome, frio, dor; depois começou a identifica­r “A fisioterap­euta já havia tidoum habeas corpus preventivo negado em 2018.

A Defensoria Pública divulgou manifestaç­ão da mãe da criança. “Agora me sinto respeitada como mãe, pois antes me senti ofendida ao ouvir que era imprudente. É a paz de poder chegar em casa e saber que estou agindo corretamen­te perante a sociedade”, declarou. A mulher ressaltou, ainda, “a satisfação de abrir caminho a outras famílias que precisam do tratamento”.

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