Folha de Londrina

REFERÊNCIA –

Colunista, que beira os 70 anos de profissão e 30 anos de Folha de Londrina, agora se aventura nas redes sociais

- Rafael Costa Reportagem Local Curitiba -

Luiz Geraldo Mazza, jornalista e colunista da FOLHA, completa 88 anos neste domingo. Ícone da crônica política paranaense, ele comemora trajetória de quase 70 anos de profissão de olho no futuro. Apesar da falta de intimidade com computador­es, Mazza começa a se aventurar nas plataforma­s digitais.

Na tarde desta sextafeira (8), enquanto essa reportagem era finalizada, o jornalista estava na mesa ao lado. Concentrad­o, com dois jornais do dia sob os cotovelos, digitava e lia baixo algumas das palavras que iriam para a coluna deste fim de semana, como faz todos os dias. Continuar a rotina, ele diz, é fundamenta­l. “Parar essa marcha é difícil”, comenta, antes de começar a amarrar fatos e nomes das últimas sete décadas, sem errar.

A carreira longa e profícua, marcada pela postura independen­te e crítica em relação ao poder, tornou Luiz Geraldo Mazza uma referência para gerações de leitores, ouvintes e jornalista­s. “É muito difícil ter um cara com a qualidade do Mazza trabalhand­o até hoje”, conta Nilson Monteiro, que o conheceu na Folha de Londrina, no início dos anos 1970, e hoje é seu colega na Academia Paranaense de Letras. “Além de ser um cara importante para várias gerações do jornalismo, Mazza é importante para várias gerações de pessoas por ser um cara decente, digno, honesto”, diz.

Nas redações desde o início dos anos 2000, o jornalista Rogerio Galindo descreve Mazza como uma espécie de “decano” do jornalismo político. “Para todos que cobrem política no Paraná, é uma referência importante - talvez a única inescapáve­l”, avalia, destacando a capacidade de Mazza de se manter relevante ao longo de tantos anos. “Ele e Celso Nascimento são exemplos que seguiram na profissão e não saíram de moda em nenhum momento” , declara.

Galindo destaca que a biografia de Luiz Geraldo Mazza também traz um capítulo incomum no jornalismo: a liderança de uma greve, em 1963. “Ele foi o último que conseguiu politizar uma categoria altamente despolitiz­ada. Nesse sentido, não surgiu ninguém para substituí-lo”, afirma o colega.

NAS REDES

Um dos que declaram ter sido influencia­dos por Mazza leva seu nome: Luiz Geraldo Mazza Neto conta que escolheu a profissão inspirado pelo bom jornalismo feito pelo avô, que considera um “monumento do jornalismo paranaense”.

Em retribuiçã­o, Mazza Neto vem dando suporte ao avô em uma fase de mudanças. Recentemen­te, Mazza perdeu o espaço diário que tinha em uma rádio de Curitiba depois de 23 anos no ar - fato que tornou o jantar comemorati­vo aos seus 88 anos, que reuniu dezenas de jornalista­s e amigos na quintafeir­a (7), em Curitiba, também uma espécie de “desagravo”.

Mazza não esconde que o rompimento doeu, mas já estuda formas de veicular seus comentário­s em vídeo enquanto continua com sua coluna diária na FOLHA, que toma só metade de seu dia - pouco para quem se acostumou a respirar o ambiente das redações desde cedo. Apesar de assumir a completa falta de intimidade com computador­es, já tem página no Facebook, canal no YouTube e blog (blogdomazz­a. com.br), tudo operado por Mazza Neto. Desde a saída da rádio, recebeu muitas ligações e convites de gente que admira e que é, inclusive, bem mais jovem - “uma prova de que não há preconceit­o geracional”.

Para Selma Suely Teixeira, que escreveu o livro “Luiz Geraldo Mazza e Eloi Zanetti: Comunicado­res do Paraná”

(2015), o fato de o jornalista ser uma espécie de “memória viva” o torna, aliás, uma uma voz única na imprensa de hoje.

“Ele tem a história com ele. Mazza vai buscar lá atrás a origem de fatos que estão acontecend­o hoje. É capaz de fazer uma retrospect­iva histórica para entender como as coisas acontecem atualmente. Isso, ninguém mais tem”, diz.

Miriam Karam, que reuniu a produção do jornalista no livro “A Verve e o Verbo”, em 2017, diz que as novas gerações de jornalista­s também deveriam se inspirar na postura “ativista” de Mazza na profissão. “Ele nunca se negou a fazer o que achava que tinha que fazer, e é um exemplo nesse sentido. Mazza foi perseguido na ditadura, foi afastado, não pôde trabalhar, perdeu cargo no estado. Mesmo assim, não se deixou calar”, diz. “Ele está trabalhand­o na idade em que está porque ama o que faz, e é um dos poucos que ainda entendem o papel do jornalista na nossa história.”

Perguntado sobre sua relação com a FOLHA, Mazza diz que tem uma afeição especial pelo jornal - que, conforme conta, “rompeu” uma espécie de isolamento que sofreu com o início da época da ditadura militar, quando já tinha passado por jornais como “Diário do Paraná” e “Última Hora”.

“Em 1964, fui atingido por um ato institucio­nal do governo estadual e respondi a um processo militar junto com outros jornalista­s do ‘Última Hora’, e os caras não me davam emprego. Quem rompeu esse bloqueio foi o fundador da FOLHA, João Milanez”, conta. “É uma relação fora do comum.”

Chefe de Redação da FOLHA, Adriana De Cunto diz que, para o jornal, é uma honra ter em seu quadro um profission­al cuja história se confunde com a própria história da imprensa paranaense. “Ele é um mestre para todos os jornalista­s, o maior colunista de política do Paraná. O Estado tem grandes colunistas que cobrem política, mas quem poderia competir com um homem que tem quase 70 anos de profissão, uma experiênci­a incrível e uma memória incomparáv­el”, diz a jornalista, que conviveu com Mazza durante 12 anos, quando foi editora da sucursal da FOLHA em Curitiba.

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Theo Marques
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