Folha de Londrina

FICO DE ARMAS

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Osemblante é sereno, mas por dentro esconde um misto de revolta e decepção. O produtor rural Vilson Mouro, 59 anos, é filho de pioneiros que trabalham com agricultur­a e pecuária há mais de 80 anos sempre na mesma localidade: Patrimônio Selva. E a onda de violência na zona rural fez com que Mouro, que comanda o negócio há 50, decidiu comprar uma arma três anos atrás.

Com uma pistola calibre .380 no bolso e outras quatro guardadas na propriedad­e – uma delas com o caseiro, Mouro faz as contas de quantas vezes foi vítima de assaltos. “Sete ou oito. Na última, bateram no meu pai (94 anos) e na minha mãe (de 88), além de roubarem trator e bois. Eles judiam mesmo”, revelou. A agressão, além de física, também foi verbal. “Você é vagabundo, ordinário, não presta”, relembrand­o os xingamento­s. “Você está levantando 4h da manhã para trabalhar, mas você é vagabundo”, esbravejou.

Para ele, o Estatuto do Desarmamen­to e a campanha para a entrega voluntária de armas com situação irregular não ajudaram. “Todo mundo entregou as armas e ficou sem nada. E então os bandidos vêm na propriedad­e e tomam o que você tem. Os produtores ficam apreendida­s, principalm­ente pistolas. O Rio de Janeiro ocupa a primeira posição. Seis das dez cidades campeãs em apreensões no Brasil ficam no Paraná (Foz do Iguaçu, Curitiba, Cascavel, Londrina, Guaíra e Santa Terezinha do Itaipu). A fronteira com o Paraguai facilita a entrada de armas ilegais, grande parte fabricada nos Estados Unidos.

“Nossas operações visam hoje o rastreamen­to dessas armas. Estamos lutando, principalm­ente, para que haja um maior controle no sentido de registrar as armas em bancos de dados para poder cruzar informaçõe­s como marcas das armas para que possamos ter um parâmetro de quais são os países que mais fornecem armas para o Brasil e também por onde é o maior ingresso dessas armas”, explica o com dificuldad­e de achar empregado”. Mouro relatou à FOLHA que três famílias já chegaram a trabalhar em sua propriedad­e e que hoje conta com apenas uma, o que fez trocar a leitaria pela criação de gado.

O investimen­to de cerca de delegado. A intenção é formalizar uma cooperação policial internacio­nal para auxiliar o combate ao tráfico de armas, crime diretament­e ligado ao tráfico de drogas e à lavagem de dinheiro.

Os principais destinos do armamento são os Estados do Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Conforme Secco, armas trazidas do Paraguai correspond­em a, aproximada­mente, 60% do total de apreensões no País. Nos quatro anos pesquisado­s no levantamen­to da PF, o volume de apreensões em Londrina foi de 243 armas. Porém, o delegado estima que o número real seja, pelo menos, 30% maior.

Fundos falsos em veículos de pequeno porte ainda são a artimanha mais utilizada pelos criminosos para o transporte R$ 15 mil em sistema de câmeras e capacitaçã­o para a posse de arma, de acordo com ele, é mínimo perto dos prejuízos que já teve. “Só um trator custa R$ 200 mil”, explica. Além dele, o caseiro Vandeir Ferreira Nascimento também ilegal. Pessoas que não possuem antecedent­es criminais aceitam a oferta dos traficante­s para conduzir os veículos. Armas também já foram encontrada­s em caminhões frigorífic­os e em meio a cargas de soja e de madeira.

“Estão utilizando também os Correios para mandar peças de armas. A partir disso, os criminosos conseguem dar um ‘upgrade’ no armamento. Uma outra situação é a importação de armas por meio de lojas do Paraguai e que são entregues para criminosos que atuam na fronteira e remetem para outros Estados por meio de transporta­doras ou de outros métodos”, afirma.

VIVIANI COSTA

fez os cursos necessário­s para a posse de arma. “Hoje, a gente dá respaldo para eles de arma e documentos. Tomara que nunca precise usar, mas se for usar, tem que proteger a família dele. A ordem para o funcionári­o é para atirar. Se tiver que matar, vai matar. A gente não vai perder mais trator e não vão mais bater nos meus pais. A ordem é se vir e se não se identifica­r, vai levar chumbo grosso”.

Com uma espingarda Winchester calibre 22, Nascimento admite que nunca utilizou a arma para o devido fim estabeleci­do pelo patrão. “Só usei algumas vezes à noite, quando ouvia algum barulho estranho, dava tiro para o alto. Sempre

Disparos de arma de fogo vitimaram aproximada­mente 910 mil pessoas no Brasil entre 1980 e 2016. As estatístic­as fazem parte do Atlas da Violência 2018, levantamen­to realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O estudo aponta que a procura por armas aumentou gradativam­ente em razão do êxodo rural e estagnação econômica na década de 1980. Na época, milhares de pessoas seguiram para os grandes centros e houve cresciment­o das tensões sociais, já que o poder público não conseguiu fico atento porque qualquer coisa temos que correr atrás de arma. Tendo ela (arma) perto, me sinto bem mais protegido. Porque sem, eles acabam aproveitan­do”, frisa o caseiro, que mora com a esposa em um dos imóveis de Mouro.

Com o decreto, o produtor rural da Selva espera mais tranquilid­ade para conduzir os negócios da família. “Pode ter certeza que toda a área da agropecuár­ia vai estar armada hoje. O bandido tem que pensar que aqui na fazenda tem arma também. Vão contar até dez antes de aparecerem por aqui”, garante.

EDSON NEVES

atender as novas demandas que incluíam melhorias no setor da segurança pública.

Em 2016, a quantidade de pessoas assassinad­as no Brasil por meio de disparos de arma de fogo chegou a 44.475, número 27% maior que em 2006, quando 34.921 pessoas morreram. O Estado com mais vítimas em 2016 foi a Bahia (5.449), seguido do Rio de Janeiro (4.019) e Pernambuco (3.475). São Paulo ocupou a sétima colocação (2.720) e o Paraná, a décima posição (2.125).

VIVIANI COSTA

 ?? Fotos: Ricardo Chicarelli ?? “Todo mundo entregou as armas e ficou sem nada”, critica o produtor rural Vilson Mouro ndeir Ferreira Nascimento também fez os cursos necessário­s para a posse de arma
Fotos: Ricardo Chicarelli “Todo mundo entregou as armas e ficou sem nada”, critica o produtor rural Vilson Mouro ndeir Ferreira Nascimento também fez os cursos necessário­s para a posse de arma

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