Revela destaques da música brasileira
Site ‘Embrulhador’ divulga, anualmente, a lista ‘100 Melhores Discos da Música Brasileira’; um londrinense integra o ranking com CD lançado em 2018
Atradição de divulgação de listas com ranking de lançamentos de produções artísticas sempre criaram expectativas no público por serem consideradas uma espécie de guia contendo os melhores filmes, músicas ou livros de determinado período. Uma lista, em especial, tem chamado a atenção nos últimos anos por revelar nomes de cantores e bandas - na maioria das vezes independentes - que realizam trabalhos de qualidade Brasil afora, mas não estão na grande mídia. Trata-se do site “Embrulhador” que, anualmente, divulga a lista “100 Melhores Discos da Música Brasileira”, criada pelo jornalista Ed Félix, de Campina Grande (PB).
A lista de 2019, referente ao ano de 2018 (publicada no final de janeiro) trouxe o londrinense Bernardo Pellegrini na 41ª posição, com o CD “Outro Planos”, lançado oficialmente em julho do ano passado no FIML (Festival Internacional de Música de Londrina). No total, foram cerca de 1.100 álbuns lançados em 2018 - de todas as regiões do país - analisados pelo jornalista especializado. O primeiro lugar deste ano foi conquistado por Duda Beat com o álbum “Sinto Muito”, uma cantora de Recife (PE). Este já é o décimo ano em que Félix organiza a lista que, em anos anteriores, também colocou a cantora londrinense Simone Mazzer com os álbuns “Férias em Videotape” e “Simone Mazzer & Cotonete” na lista.
“É um trabalho que realizo de forma independente, indo atrás de tudo o que é lançamento relacionado a álbuns durante o ano inteiro. Não há qualquer restrição de gêneros, estilos ou ritmos”, detalha o editor. No entanto, não entram nessa lista EP´s (álbuns curtos), singles, coletâneas e gravações ao vivo. Tanto discos físicos como álbuns distribuídos pela internet são considerados. “Recebo muita coisa, mas grande parte do que escuto é resultado de pesquisas nas plataformas digitais.” Na escolha, baseada em seu gosto pessoal, ele atribui uma cotação de 0 a 100 com base em critérios como conceito, originalidade, referências, uniformidade, letras, instrumentos, produção e arte visual.
Já no caso de empate, outros pontos são considerados. “Dentre eles, participações especiais e formato de lançamento, com vantagem para discos que possuem versão física.” Com todos os discos da amostra avaliados, os cem que obtiverem as cotações mais altas aparecem na lista de melhores do ano. “Alguns discos que não entram na lista principal recebem menção honrosa, o que significa que são bons trabalhos, mas infelizmente não atingiram pontuação suficiente para estar entre os melhores do ano.” Além dos álbuns, o editor ainda realiza uma lista com melhores músicas e melhores instrumentistas. “Lançar apenas ‘singles’ é uma tendência que os artistas independentes também estão aderindo.”
PASSO A PASSO
A avaliação da amostra acontece em três etapas. Na primeira delas, todos os discos passam por audições iniciais - um processo rápido e dinâmico - em que podem ser classificados ou não para a próxima etapa. Só serão ouvidos por completo os discos classificados para a próxima fase. Na segunda etapa do processo, os discos classificados são avaliados faixa por faixa; essa é a fase mais longa e minuciosa. Já a terceira e última fase da avaliação é decisiva para que desempatar os discos que estão com a mesma cotação e definir suas posições na lista. Nessa etapa também são definidos quais trabalhos ganharão destaque na seleção de melhores instrumentistas, além das melhores músicas do ano, com o limite de uma faixa por disco.
O disco autoral “Outros Planos” pode ser considerado o marco de uma nova fase do cantor e compositor Bernardo Pellegrini - o eterno vocalista de “O Bando do Cão Sem Dono” - que não gravava desde 2010. Com doze composições inéditas, o álbum reuniu trinta músicos convidados, dentre eles, parcerias antigas como Maurício Arruda Mendonça, Mário Bortolotto, Edvaldo Santana e Adriano Garib, além de instrumentistas mais recentes como Emílio Mizão, Filipe Barthem, Rafael Fuca e o trio Cluster Sisters. Tudo captado por Julio Anizelli no Plugue Estúdio, em Londrina. “Foi um período de descobertas e de mergulho em uma vida inteira de criação, seja sozinho, em dupla ou em bando”, diz ele, com relação às mais de 150 músicas que estavam guardadas.
Parte dessa nova fase, aliás, também é marcada por entrar no mundo digital, disponibilizando um clipe na internet e as faixas nas plataformas de streaming de áudio antes mesmo do disco físico ficar pronto. “É uma dinâmica muito diferente de criação, mas que permite um alcance ainda maior, o que não significa mais fácil.” Integrar a lista concorrendo com milhares de trabalhos independentes, portanto, revelou ao compositor - em partes - esse novo modelo de produção e consumo. “Meu disco não é considerado um produto de grande consumo como os que estão na indústria do mercado; e essa lógica é perversa. Assim como eu, há vários outros. Descobri, ali, nomes que não conhecia. Todo esse ambiente permite um intercâmbio incrível entre os artistas”, conta.
Desde o lançamento, Pellegrini tem se dedicado ainda mais à arte da música, ocupando seu tempo com uma rotina de estudos e escritas literárias. “Consegui estabelecer uma disciplina na minha loucura”, brinca. Com isso, revela que já tem “outros planos” para um novo disco, em breve, que vai contemplar a música brasileira com muitas valsas e toadas, além de ritmos genuinamente brasileiros, valorizando as tradições. “A base será a canção com dois violões e voz, mostrando a diversidade”, adianta. Desde então, começou a letrar várias músicas que tinham composto. “O inusitado está na base das emoções e a minha energia vem daí, do que faz sentido para mim. A música é uma arte que faz as pessoas conviverem e organizarem seus próprios sentimentos.”(M.T.)