FOGO AMIGO
Um dos pivôs de esquema revelado por jornal, Bebianno é chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro; base aliada se divide sobre denúncias
Filho de Bolsonaro ataca ministro Bebianno e caso dos laranjas do PSL abre crise no governo
São Paulo - A revelação do esquema de candidaturas laranjas do PSL pela Folha de S.Paulo provocou uma crise no governo de Jair Bolsonaro, alavancada pelo ataque do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno.
Nomes importantes da bancada do PSL na Câmara se manifestaram sobre o caso, aumentando a tensão no partido, que está sob pressão com a série de reportagens do jornal sobre o uso de candidaturas laranjas para desviar verba do fundo partidário nas eleições.
No centro da crise estão o presidente atual do PSL, o deputado federal Luciano Bivar (PE), e Bebianno, que presidiu o partido no ano passado, inclusive durante o período eleitoral.
Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) afirmou nessa quarta-feira (13) em rede social que o ministro mentiu ao dizer que conversou três vezes com seu pai, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), no dia anterior. “Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmo: ‘É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo e retransmitido pelo Antagonista’.”
O presidente quer uma solução rápida para o caso, discutiu com o ministro e o fez cancelar agendas, o que aumentou a pressão entre aliados para que Bebianno peça para sair do governo.
O deputado Alexandre Frota (PSL-SP) afirmou que o seu partido “não passará a mão na cabeça de bandido”. “Ontem , a maioria dos partidos de esquerda que subiram aqui falou que o PSL é um partido de laranjas. O PSL não é um partido de laranjas”, afirmou Frota.
“Qualquer secretário, deputado, ministro envolvido em qualquer coisa, essa laranja podre vai cair”, disse. A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) criticou Carlos Bolsonaro pelo ataque feito a Bebianno. “Não pode se misturar as coisas. Filho de presidente é filho de presidente. Temos que tomar cuidado para não fazer puxadinho da Presidência da República dentro de casa para expor um membro do alto escalão do governo dessa forma”, disse Joice.
ESQUEMA
Reportagem da Folha de S.Paulo deste domingo (10) revelou que o grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. O dinheiro foi liberado por Bebianno.
Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos.
O dinheiro do fundo partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a conta da candidata em 3 de outubro, quatro dias antes da eleição. Na época, o hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência era presidente interino da legenda e coordenador da campanha de Jair Bolsonaro (PSL), com foco em discurso de ética e combate à corrupção.
Apesar de ser uma das campeãs de verba pública do PSL, Lourdes teve uma votação que representa um indicativo de candidatura de fachada, em que há simulação de atos de campanha, mas não empenho efetivo na busca de votos.
A candidatura laranja virou alvo da Polícia Federal, da Procuradoria e da Polícia Civil do estado.