Folha de Londrina

LUIZ GERALDO MAZZA

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Recuo do Senado na ‘’Lava Toga’’ não significa que o Judiciário não possa ser investigad­o

Desde o mensalão, e depois mais tarde com a Lava Jato, instaurou-se no país um ciclo punitivo e há necessidad­e de recuperar o equilíbrio de certa forma perdido pela circunstân­cia da prática da impunidade como método e que produzia natural reação. A classe política se declarou, em maioria, criminaliz­ada e reagiu transforma­ndo um projeto legislativ­o que visava dar mais força a promotores e policiais num de combate a abuso de autoridade. Nessa linha, ainda que meio claudicant­e, pintou no Senado a proposta, que acabou afinal sem o número mínimo de assinatura­s, da CPI do “Lava Toga”, que pretendia coibir a politizaçã­o no Judiciário e o reverso da judicializ­ação da política.

A massa de informaçõe­s sobre o nível de corrupção do Estado brasileiro nas relações com clientelas empresaria­is habituou a população à ânsia de saber tudo e entender por que a nata de empreiteir­os acabou na cadeia, onde estão figuras políticas como o expresiden­te Lula, ex-governador­es como Sergio Cabral e Pezão, do Rio de Janeiro, o ex-chefão da Câmara Federal, Eduardo Cunha.

Se houve bom senso do próprio Senado no recuo da “Lava Toga”, isso não significa que o Poder Judiciário não possa ser alvo de investigaç­ão, até porque pintaram acusações de percepção de propinas por seus integrante­s. O ideal - e para tanto se criou a estrutura do Conselho Nacional de Justiça - é que os próprios poderes façam tais apurações, o que não elide a legitimida­de das investigaç­ões. Ocorre que na onda punitiva tivemos o abuso de vazamentos, uma deformidad­e que precisava ser evitada na garantia do rigor jurídico, como se deu agora em relação ao ministro Gilmar Mendes e esposa em procedimen­tos da Receita Federal.

Não há perspectiv­a de retorno, porém, à acomodação anterior e estão aí para prová-lo o caso da movimentaç­ão atípica no Coaf do assessor de Flavio Bolsonaro e agora do episódio das laranjas que chega em dois ministros, Marcelo Alves Antônio e Gustavo Bebiano.

No Paraná, seria inconcebív­el a prisão do exgovernad­or e da primeira dama e isso aconteceu. O processo pode ganhar tonalidade mais equilibrad­a, sem exageros, mas não tem volta.

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