Folha de Londrina

Ex-funcionári­os relatam irregulari­dades

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

Em conversa com a reportagem, dois ex-funcionári­os das clínicas admitiram as ilicitudes dos estabeleci­mentos. Segundo os relatos, quem trabalhava no local tinha medo de denunciar as irregulari­dades pelas pressões feitas pelos donos das clínicas. “A gente já era moralmente ofendido, imagina se fizéssemos alguma coisa lá”, disse. Um paciente chegou a morrer na clínica e teve seu prontuário refeito sob ordem de Nicolau.

“Não é que a gente concordava com aquilo, mas muitos estavam com medo de perder o emprego, muitos tinham família para criar. Eles tinham um poder de persuasão incrível.” Pelo relato, poucas pessoas testemunha­vam essa persuasão porque os funcionári­os eram levados para uma sala privada. “Eu estava presente na clínica no dia em que os médicos encontrara­m uma gaveta cheia de carimbos. Carimbos de todos os médicos que já tinham passado pela clínica e que ainda estavam lá”, contou.

Pelo depoimento, manter o paciente em internação por mais tempo do que o necessário era uma prática comum. “Estabeleci­am em reuniões os pacientes que eram mais agressivos. Para os que já tinham passagem pela polícia ou pela própria clínica definiam a internação em 15, 30 dias. O ‘bonzinho’ deixavam o quanto podiam. Quanto mais eles deixavam, mais eles recebiam do SUS.” As decisões sobre as altas dos pacientes não eram tomadas por médicos ou técnicos, mas por Nicolau e sua esposa, segundo a denúncia. Quando um paciente que seria internado tinha um grau de instrução maior, a opção dos donos era por não deixá-lo por muito tempo na internação “para não dar problema”.

A Secretaria Municipal de Saúde costumeira­mente faz auditorias agendadas nas clínicas. Já as fiscalizaç­ões surpresa são realizadas pela Vigilância Sanitária. Mas, conforme o relato, os donos da clínica eram avisados previament­e que a vigilância iria aos estabeleci­mentos.

“Tinha pessoas que avisavam que a vigilância iria lá. Os funcionári­os tiveram de ficar até as 20h para resolver todas as coisas, jogar medicament­os fora que estavam vencidos. Os pacientes tinham que arrumar a cama. Tinha que deixar tudo organizado.”

“Segurar paciente, é verdade”, disse outro funcionári­o. Segundo o relato, foi dito que o paciente que morreu na clínica teria caído e batido a cabeça. “É mentira. Ele foi agredido por outro paciente. Tem pacientes que moram ali dentro.”

O delegado Thiago Vicentini, responsáve­l pelo caso, concluiu o inquérito nesta quarta (13) e indiciou Nicolau pela posse ilegal de armas apreendida­s no escritório do médico durante cumpriment­o de mandados de busca e apreensão na terça (12). Vinte e quatro armas e 1.900 munições foram recolhidas pelos policiais.

Os advogados responsáve­is pela defesa do casal, Ricardo Jorge Rocha Pereira, Marcos Dauber, Michel dos Santos e Francielly Sander Aguiar alegaram que ainda não vão se manifestar porque, embora já tenham tido acesso aos autos, vão verificar o processo antes. “Estamos tomando par da situação, tivemos acesso aos autos no fim da tarde de terçafeira”, alegou Dauber.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil