Ex-funcionários relatam irregularidades
Em conversa com a reportagem, dois ex-funcionários das clínicas admitiram as ilicitudes dos estabelecimentos. Segundo os relatos, quem trabalhava no local tinha medo de denunciar as irregularidades pelas pressões feitas pelos donos das clínicas. “A gente já era moralmente ofendido, imagina se fizéssemos alguma coisa lá”, disse. Um paciente chegou a morrer na clínica e teve seu prontuário refeito sob ordem de Nicolau.
“Não é que a gente concordava com aquilo, mas muitos estavam com medo de perder o emprego, muitos tinham família para criar. Eles tinham um poder de persuasão incrível.” Pelo relato, poucas pessoas testemunhavam essa persuasão porque os funcionários eram levados para uma sala privada. “Eu estava presente na clínica no dia em que os médicos encontraram uma gaveta cheia de carimbos. Carimbos de todos os médicos que já tinham passado pela clínica e que ainda estavam lá”, contou.
Pelo depoimento, manter o paciente em internação por mais tempo do que o necessário era uma prática comum. “Estabeleciam em reuniões os pacientes que eram mais agressivos. Para os que já tinham passagem pela polícia ou pela própria clínica definiam a internação em 15, 30 dias. O ‘bonzinho’ deixavam o quanto podiam. Quanto mais eles deixavam, mais eles recebiam do SUS.” As decisões sobre as altas dos pacientes não eram tomadas por médicos ou técnicos, mas por Nicolau e sua esposa, segundo a denúncia. Quando um paciente que seria internado tinha um grau de instrução maior, a opção dos donos era por não deixá-lo por muito tempo na internação “para não dar problema”.
A Secretaria Municipal de Saúde costumeiramente faz auditorias agendadas nas clínicas. Já as fiscalizações surpresa são realizadas pela Vigilância Sanitária. Mas, conforme o relato, os donos da clínica eram avisados previamente que a vigilância iria aos estabelecimentos.
“Tinha pessoas que avisavam que a vigilância iria lá. Os funcionários tiveram de ficar até as 20h para resolver todas as coisas, jogar medicamentos fora que estavam vencidos. Os pacientes tinham que arrumar a cama. Tinha que deixar tudo organizado.”
“Segurar paciente, é verdade”, disse outro funcionário. Segundo o relato, foi dito que o paciente que morreu na clínica teria caído e batido a cabeça. “É mentira. Ele foi agredido por outro paciente. Tem pacientes que moram ali dentro.”
O delegado Thiago Vicentini, responsável pelo caso, concluiu o inquérito nesta quarta (13) e indiciou Nicolau pela posse ilegal de armas apreendidas no escritório do médico durante cumprimento de mandados de busca e apreensão na terça (12). Vinte e quatro armas e 1.900 munições foram recolhidas pelos policiais.
Os advogados responsáveis pela defesa do casal, Ricardo Jorge Rocha Pereira, Marcos Dauber, Michel dos Santos e Francielly Sander Aguiar alegaram que ainda não vão se manifestar porque, embora já tenham tido acesso aos autos, vão verificar o processo antes. “Estamos tomando par da situação, tivemos acesso aos autos no fim da tarde de terçafeira”, alegou Dauber.