Folha de Londrina

POLÊMICA

Objetivo da medida é proporcion­ar agilidade aos processos; MP pede revogação do decreto

- Geral@folhadelon­drina.com.br Luís Fernando Wiltemburg e Fernanda Circhia Reportagem Local

Paraná flexibiliz­a licenciame­nto ambiental e MP pede revogação do decreto

Onovo secretário do Meio Ambiente do Paraná, Marcio Nunes, baixou decreto que permite terceiriza­r a emissão de licenciame­ntos e autorizaçõ­es ambientais e outorgas de recursos hídricos (permissões para exploração e interferên­cia em corpos hídricos) para profission­ais autônomos. O documento, assinado na terça-feira (12) - mesmo dia em que Nunes foi empossado na pasta -, foi contestado pelo MP (Ministério Público), que pede a revogação da medida.

A resolução permite que profission­ais autônomos elaborem relatórios técnicos e façam vistorias in loco em processos de licenciame­nto ambiental. Atualmente, a função é exclusiva de profission­ais do IAP (Instituto Ambiental do Paraná). O decreto é voltado para obras de menor impacto ambiental, excluindo da terceiriza­ção os processos que demandem EIA/RIMA (estudo e relatório de impacto ambiental), que permanecer­ão sob responsabi­lidade do Estado.

Pelo decreto, os profission­ais autorizado­s serão cadastrado­s e capacitado­s pelo instituto, em parceria com conselhos profission­ais. O documento também proíbe que os profission­ais que emitam os laudos tenham qualquer vínculo com o requerente, sob pena de exclusão do cadastro e denúncia aos órgãos de classe. O decreto entra em vigor em 30 dias e ainda depende de regulament­ações.

Ao dar posse a Nunes, o governador Ratinho Júnior disse que a administra­ção estadual pretende agilizar os processos de licenciame­nto ambiental para aliar a sustentabi­lidade com o desenvolvi­mento econômico.

O MP, entretanto, entende que a fiscalizaç­ão ambiental é função privativa do Estado e que a terceiriza­ção dos processos fere dispositiv­os constituci­onais e a legislação ambiental vigente, além de implicar em risco ao meio ambiente. A recomendaç­ão administra­tiva para a revogação do ato do secretário foi elaborada pelo Gaema (Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente) em Curitiba, em parceria com a Promotoria de Defesa do Meio Ambiente.

Márcio Nunes argumentou que a medida não se trata de terceiriza­ção. “Na verdade é um apoio técnico. Um produtor rural, por exemplo, poderá contratar um engenheiro agrônomo para fazer um relatório inicial, que dá início ao processo de licenciame­nto. Em seguida, contratará um técnico para assinar o relatório, para que depois obtenha a licença de instalação e operação, as quais serão emitidas pelo próprio órgão licenciado­r, que continua responsáve­l pela fiscalizaç­ão”, alegou.

“São 3.000 engenheiro­s agrônomos formados por ano no Paraná. A mudança do processo possibilit­a reconhecim­ento aos profission­ais que acabaram de sair da faculdade. Nós estamos em um mundo moderno e por mais de 30 anos esses processos não foram revistos”, acrescento­u.

O secretário afirmou ainda que o governo busca agilidade, mas que isso não significa flexibiliz­ação das leis, e que será muito severo com as irregulari­dades constatada­s.

Para o Crea-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná), a função privativa do Estado não é ofendida pelo decreto, uma vez que o licenciame­nto ambiental segue uma atribuição exclusiva dos órgãos estatais e os profission­ais autônomos executaria­m apenas algumas etapas do processo. “O que nós entendemos é que o governador busca manter a necessidad­e de uma análise bastante criteriosa, mas dando agilidade ao processo”, afirmou o presidente do Crea-PR, Ricardo Rocha de Oliveira.

Ele disse que a parceria pode ser positiva porque já existem processos semelhante­s, com a delegação de etapas para profission­ais autônomos, em outros órgãos, como controles de origem de fitossanit­ários. Além disso, ele cita o decreto federal 9.507/2018, pelo qual o governo federal regulament­ou a execução indireta de serviços da administra­ção pública federal mediante contrataçã­o de terceiros.

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José Fernando Ogura/ANPr “Nós estamos em um mundo moderno e por mais de 30 anos esses processos não foram revistos”, argumentou Marcio Nunes
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