Folha de Londrina

Acuado, Bebianno recorre a Maia e Guedes para tentar se manter no governo

Para aliados do presidente, crise pode ameaçar a votação de projetos importante­s, como a reforma da Previdênci­a; Bebianno diz que presidente teme receber “algum respingo”

- Talita Fernandes e Angela Boldrini Folhapress

Brasília -

Em meio à crise das candidatur­as laranjas do PSL, reveladas pela Folha de S.Paulo, o ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, recorreu ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), para traçar uma estratégia de sobrevivên­cia no governo.

O desentendi­mento público se deu após a publicação de reportagen­s que mostrasaíd­a ram que o PSL, então sob a presidênci­a de Bebianno, usou um esquema de direcionam­ento de verbas públicas a candidatas laranjas em Minas Gerais e Pernambuco.

No dia em que foi acusado de ter mentido pelo presidente e pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), Bebianno se aconselhou com Maia em uma conversa que entrou pela madrugada de quinta-feira (14).

Advogado, o chefe da Secretaria-Geral também recorreu a advogados e integrante­s do Judiciário para traçar a melhor estratégia para se blindar no caso. Da série de encontros, que contou com a participaç­ão de amigos próximos, ficou definido que a se daria por meio da pauta econômica.

Aliados do presidente entendem que hoje o principal fiador do governo é o ministro da Economia, Paulo Guedes, com sua agenda de re- formas e privatizaç­ões. Com isso, qualquer crise do campo político pode ameaçar a votação de projetos importante­s, como a reforma da Previdênci­a, e inviabiliz­ar o futuro da gestão Bolsonaro.

Após o encontro, ficou definido que Maia procuraria Guedes para levar a mensagem de que a demissão de Bebianno e o prolongame­nto da crise podem prejudicar o calendário da reforma, que será apresentad­a na semana que vem ao Congresso. Maia ligou para Guedes para passar a mensagem e deu declaraçõe­s públicas em favor de Bebianno.

Guedes e Bebianno são os principais interlocut­ores do governo com o presidente da Câmara, que não tem uma relação de proximidad­e com o ministro-chefe Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O presidente da Casa chegou a agradecer publicamen­te o ministro após sua reeleição.

Eles lembram ainda que o governo de Michel Temer viu sua proposta de reforma naufragar por duas crises políticas. A primeira delas foi um desentendi­mento público entre os ministros Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Marcelo Calero (Cultura). Num segundo momento, a reforma foi parada no Congresso com a delação da JBS, na qual o próprio Temer foi alvo de gravações do empresário e delator Joesley Batista.

MILITARES

um sinal de deslealdad­e, o que é mal visto no meio militar.

Os assessores mais próximos pretendem conversar com o presidente para alertálo de que a proximidad­e de Carlos pode trazer novas crises para o governo.

Na leitura deles, o episódio de quarta foi uma crise gerada espontanea­mente pelo vereador num momento em que era esperada uma sinalizaçã­o positiva para o governo, com o retorno de Bolsonaro a Brasília, após ter sido submetido a uma cirurgia, e de conclusão da reforma da Previdênci­a, prioridade desta gestão no primeiro semestre.

RESPINGO

Acuado pelos ataques da família Bolsonaro, o ministro Gustavo Bebianno diz que não teme investigaç­ões por conta do esquema de candidatur­as laranjas do PSL. “Não sou moleque, e o presidente sabe. O presidente está com medo de receber algum respingo”, disse o ministro em entrevista à revista Crusoé.

Bebianno, que foi braçodirei­to de Bolsonaro durante a campanha eleitoral, afirmou nesta quinta-feira (14) que não vai se demitir até falar diretament­e com o presidente. O ministro foi um dos primeiros a se engajar na campanha eleitoral do agora presidente, quando, segundo seus amigos, nem mesmo o próprio Bolsonaro acreditava nela.

Questionad­o pela Crusoé se vê um possível complô para derrubá-lo, Bebianno negou. “Acho que há o desejo de atingir o presidente de alguma forma”, disse. Mas criticou declaração do mandatário ao Jornal da Record, na qual admitiu a possibilid­ade de demitir o ministro fazê-lo “voltar às origens”.

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Luiz Macedo/ Câmara dos Deputados Rodrigo Maia: demissão de Bebianno e o prolongame­nto da crise poderiam prejudicar o calendário da reforma
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