Folha de Londrina

'Vale não pode ser condenada por um acidente', diz executivo

- Anne Warth

Brasília - O presidente da Vale, Fábio Schvartsma­n, disse nesta quinta-feira (14) que a companhia de mineração é uma “joia brasileira” que não pode ser condenada pelo que aconteceu na barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), e deixou 166 mortos e 155 desapareci­dos. O executivo reconheceu que o sistema de monitorame­nto de barragens da companhia tem falhas e disse que todo o processo será revisado com base nas melhores normas internacio­nais.

“A Vale é uma das melhores empresas que eu conheci na minha vida. É uma joia brasileira, que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu em sua barragem, por maior que tenha sido a tragédia”, disse, ao participar de audiência pública na Câmara dos Deputados. “A Vale humildemen­te reconhece que, seja lá o que vinha fazendo, não funcionou, pois uma barragem caiu.”

Schvartsma­n afirmou que a companhia está em contato com o U.S. Army Corps of Engineers, órgão que licencia todas as barragens nos EUA, para revisar seus processos. O executivo disse ainda que o órgão poderá “colaborar com o novo Código de Mineração, introduzin­do novas regras para o funcioname­nto de barragens”.

O Código de Mineração brasileiro é de 1967, e a proposta enviada pelo governo Michel Temer em 2017, por meio de Medida Provisória, perdeu validade no ano passado, pois a Câmara dos Deputados não votou o projeto. Pelo Código de Mineração, a multa máxima que pode ser aplicada a uma mineradora por violar a legislação é de R$ 3.421,06.

“Vamos trabalhar de todas as formas possíveis para descobrir o que aconteceu”, disse Schvartsma­n.

“A Vale não quer, não pode e não deve ter problemas com barragens. Isso que aconteceu é inaceitáve­l, então, vamos recorrer a ajuda externa.”

O executivo disse ainda que a Vale vai realizar um seminário com especialis­tas internacio­nais para discutir aperfeiçoa­mentos nas regras para construção e manutenção de barragens.

A Vale tem cerca de 500 barragens de mineração e, de acordo com o presidente da empresa, o ideal é que o processo não seja burocrátic­o e seja feito localmente, com independên­cia e de forma ágil. “É essencial compreende­r que a questão de barragens se sustenta em algo fundamenta­l, que é o laudo de estabilida­de, concebido por especialis­tas nacionais e internacio­nais. É a pedra fundamenta­l para mineração na Vale, no Brasil e no mundo”, disse. “É impossível gerir um sistema que, mundialmen­te, tem dezenas de milhares de barragens no mundo se não for com base nesse sistema. Se a barragem corre risco iminente, o especialis­ta não dará o laudo de estabilida­de. Todo o sistema operaciona­l é um sistema de delegação”, acrescento­u. Schvartsma­n afirmou que a Vale tem 70 anos de história e nunca teve problemas com barragens antes do episódio de Brumadinho. A barragem de Mariana, que se rompeu em novembro de 2015 e causou 19 mortes, pertencia à Samarco, joint venture entre a Vale e a BHP Billiton.

A Vale humildemen­te reconhece que, seja lá o que vinha fazendo, não funcionou"

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Sergio Lima/AFP Presidente da Vale, Fábio Schvartsma­n participou de audiência pública na Câmara dos Deputados

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