Folha de Londrina

O IMPACTO DO LUTO

- Laís Taine e Simoni Saris Reportagem Local

A sucessão de tragédias ocorridas no início do ano causou comoção nacional. Psicólogos entrevista­dos pela FOLHA avaliam as consequênc­ias dos desastres no inconscien­te coletivo. Assim como parentes de vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), Letícia Lunardi (foto) vive com a dor pela morte trágica do marido. Há três anos, o motorista Odair José Martins foi arrastado pelas águas do rio Bandeirant­e do Norte, em Rolândia, e nunca foi encontrado. Sem ter um corpo para velar, ela acha estranho se dizer viúva. Sobreviven­te do incêndio no CT do Flamengo, Pablo Ruan fala sobre o alívio e a tristeza pela perda dos amigos. Tragédia no Ninho do Urubu abre debate para condições dos alojamento­s de jovens atletas no País; reportagem visita espaços em Londrina

Escapar de um incêndio, ajudar três amigos e perder dez deles. O atleta londrinens­e Pablo Ruan Messias Cardozo, 16, é um sobreviven­te na tragédia do CT (Centro de Treinament­o) do Flamengo, conhecido como Ninho do Urubu, no Rio de Janeiro. Mas se de um lado há o alívio por estar vivo, do outro, a tristeza por estar vivendo o luto por colegas com quem dividia alojamento.

Amparado por psicólogos e assistente­s sociais disponibil­izados pelo clube, o jovem dá tempo ao tempo. Quando retornou à cidade, dois dias depois do incêndio, não conseguia analisar a situação. “Não penso em nada, só penso em estar com a minha família”, respondeu. Uma semana depois, após do pouco contato com familiares das vítimas e dos outros sobreviven­tes, afirma que vai continuar esperando, que não pretende decidir algo por enquanto.

O jovem afirma que no início se sentia culpado. “No começo eu sentia que poderia ter ajudado mais, mas não tinha o que fazer”, lamenta. Agora, com o apoio de amigos e familiares e de ajuda profission­al, afirma estar melhor e que consegue ajudar a própria família a se tranquiliz­ar com a situação. Nesse tempo, aproveita a companhia de familiares e amigos, vivendo um dia de cada vez, na recuperaçã­o e busca por dias melhores. “No momento é difícil, mas depois passa. O Flamengo está apoiando e o tratamento está indo bem, falaram que é bom para o emocional e psicológic­o”, afirma.

No caso do incêndio no Centro de Treinament­o do Flamengo, a comoção e o sentimento de luto coletivo ganham ainda mais força por terem como vítimas jovens no início da vida e cheios de sonhos. “Esse luto social simbólico dos jovens que estavam começando a acreditar que poderiam chegar a um lugar melhor afeta literalmen­te a questão da esperança das pessoas. A gente projeta nos outros [as nossas expectativ­as] e, logicament­e, o choque e o impacto são maiores”, ressalta o psicólogo Tonio Luna. (Leia mais na Pág.11)

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Laís Taine Sobreviven­te Pablo Ruan Cardozo e a mãe Valquíria Messias

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