Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

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Meu Deus, onde está o Sr. Óbvio? Preciso falar com ele agora. É urgente. Caso de vida ou morte

“Você vai acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?”

Meu Deus, onde está o Sr. Óbvio? Preciso falar com ele agora. É urgente. Caso de vida ou morte. Quer dizer, quase. Mas, por favor, alguém aí ache o Sr. Óbvio pra mim.

Telefonei várias vezes, o celular está fora de área. E os risquinhos do WhatsApp ainda não ficaram azuis.

Você conhece Sr. Óbvio? É óbvio. Todo mundo conhece. Mas não custa descrevê-lo: nem alto, nem baixo; nem magro, nem gordo; um par de olhos; um par de pernas; um par de braços; duas orelhas. Sr. Óbvio tem sido visto comendo, bebendo e dormindo. Sem esquecer a respiração e os batimentos cardíacos, que nunca param. Foi visto pela última vez vestindo roupas. Detalhe: calçava sapatos. Sr. Óbvio é um homem comum, esse excluído.

Óbvio que Sr. Óbvio é uma sábia pessoa. Sr. Óbvio para no sinal vermelho, observa no sinal amarelo e segue no sinal verde. Sr. Óbvio é mais previsível que o resultado de uma partida quando Mick Jagger torce para um dos times. Mesmo assim, tem sido tão difícil achá-lo quanto determinar a posição das partículas do átomo. Sr. Óbvio é um elétron em forma de gente. E é gente boa. Quando é apresentad­o a uma pessoa, Sr. Óbvio diz: “Como vai?”

Quando se despede da mesma pessoa, diz: “Muito prazer.”

Ele abre a porta do carro para as moças e senhoras. Não joga papel no chão. Separa o lixo orgânico do reciclável. Desafina no karaokê. Para ele, a grama é verde, o céu é azul, menino nasce menino e menina nasce menina.

Você quer esquecer alguém? Deseja arrumar um bom emprego? Não sabe como pagar suas dívidas? Está entre a Crush e a empada? Caiu numa boca de lobo e percebe a aproximaçã­o das ratazanas? Deixe com Sr. Óbvio, e tudo se resolverá. Tá com Sr. Óbvio, tá com Deus. Não me venha com problemáti­ca, ele tem a solucionát­ica. Esse Sr. Óbvio é maravilha.

Depressão? Sr. Óbvio é melhor que mil Prozacs. Barriga? Antes Sr. Óbvio que 10 milhões de abdominais. Mal-estar? Sr. Óbvio é mais eficaz que um carregamen­to de Engovs. Guerra? Sr. Óbvio é mais convincent­e que mil exércitos.

Sr. Óbvio acorda às 7 horas e dorme às 22. Não tem vícios. Não tem neuroses. Não tem manias. Trabalha e ganha salário (nem pouco, nem muito). Paga impostos. Não gasta mais do que arrecada. Vai ao clube nos sábados. Vai à praia nas férias. Vai ao restaurant­e no Dia das Mães. Tem um cachorro. É contra a fome e a favor do amor materno. Não gosta de pagar pedágio (mas paga), de pegar gripe (mas pega) nem de esperar na fila (mas espera).

Sr. Óbvio faz uma coisa de cada vez. Nunca pôs o carro na frente dos bois. Sabe que dois e dois são quatro. Ama os amigos, mas teria dificuldad­e em amar os inimigos, caso os tivesse. Seu único inimigo, ao que tudo indica, foi um passarinho que fez cocô em sua cabeça, quando ele caminhava pela rua Pandiá Calógeras, às 14h22 do dia 6 de junho de 1991. Mas depois Sr. Óbvio perdoou o passarinho - e o passarinho, coitado, já morreu.

Desconfia-se que Sr. Óbvio é feliz. Por isso, ele desaparece­u. Ninguém mais o vê; ninguém mais fala sua língua. Pois Nelson Rodrigues estava certo: “Só os profetas enxergam o óbvio”.

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