‘É um ciclo não encerrado’
Para os familiares de cerca de 140 pessoas consideradas desaparecidas após o rompimento da barragem em Brumadinho (MG) ou para os parentes do motorista levado pelas águas da chuva em Rolândia, a ausência do corpo não permite que se concretize o encerramento de um ciclo, uma vez que inviabiliza o velório, aquele momento que simboliza a retirada da morte de seu lugar de abstração para transformá-la em algo palpável. “Você fica sempre na expectativa de, algum dia, receber uma notícia de que ainda exista aquela pessoa. Esse luto não tem como ser elaborado completamente. Você não tem o objeto concreto na sua frente. É natural do ser humano agarrar-se até a última possibilidade de esperança”, afirma a psicóloga Patrícia Guillon Ribeiro.
Além da impossibilidade de realizar ritos que marcam o encerramento de um ciclo, os familiares das vítimas ainda têm de enfrentar problemas legais. No lugar de um atestado de óbito, há um atestado de desaparecimento. “A palavra desaparecido já é diferente da palavra morto”, ressalta.
Nesse processo de elaboração da perda, é preciso encontrar meios de assimilar o desaparecimento e criar uma forma de vivenciar o luto. “Se há um desaparecimento, há um luto. Há uma mudança de realidade. Então, você tem uma série de rituais de despedida que são importantes”, orienta Ribeiro. A forma como essa despedida vai acontecer é muito particular, mas é fundamental que se faça o mínimo de um ritual que simbolize, para os que ficam, um novo começo. “A rotina precisa ser retomada aos pouquinhos.”
Procurar a ajuda especializada pode ajudar a evitar transtornos de humor como um quadro grave de depressão e de transtorno de ansiedade, comuns em situações como essas. “Você está lidando com uma coisa muito brusca, que não estava sendo esperada e com uma situação em que não se encontra um culpado específico.