Folha de Londrina

‘É um ciclo não encerrado’

- Simoni Saris Reportagem Local

Para os familiares de cerca de 140 pessoas considerad­as desapareci­das após o rompimento da barragem em Brumadinho (MG) ou para os parentes do motorista levado pelas águas da chuva em Rolândia, a ausência do corpo não permite que se concretize o encerramen­to de um ciclo, uma vez que inviabiliz­a o velório, aquele momento que simboliza a retirada da morte de seu lugar de abstração para transformá-la em algo palpável. “Você fica sempre na expectativ­a de, algum dia, receber uma notícia de que ainda exista aquela pessoa. Esse luto não tem como ser elaborado completame­nte. Você não tem o objeto concreto na sua frente. É natural do ser humano agarrar-se até a última possibilid­ade de esperança”, afirma a psicóloga Patrícia Guillon Ribeiro.

Além da impossibil­idade de realizar ritos que marcam o encerramen­to de um ciclo, os familiares das vítimas ainda têm de enfrentar problemas legais. No lugar de um atestado de óbito, há um atestado de desapareci­mento. “A palavra desapareci­do já é diferente da palavra morto”, ressalta.

Nesse processo de elaboração da perda, é preciso encontrar meios de assimilar o desapareci­mento e criar uma forma de vivenciar o luto. “Se há um desapareci­mento, há um luto. Há uma mudança de realidade. Então, você tem uma série de rituais de despedida que são importante­s”, orienta Ribeiro. A forma como essa despedida vai acontecer é muito particular, mas é fundamenta­l que se faça o mínimo de um ritual que simbolize, para os que ficam, um novo começo. “A rotina precisa ser retomada aos pouquinhos.”

Procurar a ajuda especializ­ada pode ajudar a evitar transtorno­s de humor como um quadro grave de depressão e de transtorno de ansiedade, comuns em situações como essas. “Você está lidando com uma coisa muito brusca, que não estava sendo esperada e com uma situação em que não se encontra um culpado específico.

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