Seu Pascoal, o expedicionário da FEB
Tive a honra de conhecer o seu Pascoal, um expedicionário da FEB (Força Expedicionária Brasileira), que lutou entre 1944 e 1945 na Segunda Guerra Mundial. Lembro que houve uma exposição na praça Marechal Floriano Peixoto, na década de 1980, em Londrina e ele estava lá. Na ocasião foram distribuídas pequenas placas de metal aos visitantes com o desenho de uma cobra fumando cachimbo. Ele me deu uma delas - que conservo até hoje. Eu já havia visto o desenho em livros de história e sabia que era uma alusão ao descrédito das pessoas de seu tempo em achar que o Brasil não participaria da Grande Guerra, pois diziam que era mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil entrar naquela grande guerra.
Foi uma época difícil. Primeiro a convocação, saber que teria que ir a outro país e enfrentar perigos os mais diversos. Do serviço na roça e enxada nas mãos, passou a empunhar armas para servir à Pátria. Foram enviados 25 mil pracinhas à Itália, registrados 443 mortos e cerca de 3 mil feridos. O Paraná contribuiu com 1.542 combatentes e 28 morreram. Dois mil e quinhentos do total de soldados brasileiros enviados tiveram graves mutilações e ficaram em hospitais dos Estados Unidos.
Quantas famílias não choraram a separação de seus filhos. Pais e mães que criaram os filhos para o trabalho e viviam no campo viveram o desespero e o medo de perder os filhos na guerra. Seu Pascoal perdeu grande parte da audição em combate. O Brasil, governado por Getúlio Vargas, não era um governo democrático, mas aliou-se com as potências, chamadas de Aliados, como GrãBretanha e Estados Unidos, contra os países do eixo, Alemanha (nazista), Itália (fascista) e Japão, depois de afundados navios brasileiros por submarinos Alemães em 1942. Os nossos pracinhas lutaram na Itália libertando as cidades de Massarosa, Camaiore e Monte Prano e enfrentou os rigores do inverno nos Apeninos. A tomada de Monte Castelo foi crucial a favor dos Aliados pois o exército alemão tentava conter as forças aliadas no Norte da Itália. Foi a batalha que marcou heroicamente a presença da Força Expedicionária Brasileira no grande conflito Mundial.
O Brasil enviou os expedicionários para combater ditaduras da Alemanha de Hitler e Mussolini da Itália, ambos com planos expansionistas e contra a democracia e a liberdade.
Conversando com o seu Pascoal muitas vezes eu percebia em seus relatos a correlação entre os costumes de lá da Itália com os daqui. A humanidade é a mesma em qualquer lugar. Nas cidades cheias de escombros famílias sobreviviam em meio à morte, o frio e o medo. E foram muitos os perigos. Não me recordo de tudo, mas ouvi muitas histórias. Os amigos que se foram, alimentos divididos com solidariedade, dias de frio intenso, muita disciplina e fé, muita fé para voltar com vida ao Brasil e rever seus familiares. Lembrava em suas histórias sempre o aspecto humano e sempre o vi como um homem extremamente religioso. Cumpriu seu dever com a Pátria e lutou a favor da democracia.
Hoje, quando ouvimos o termo fascista e nazista logo nos lembramos de Mussolini e Hitler, lembramos de coisas tristes pelas quais a humanidade passou. Que fiquem no passado. Respeitemos a memória daqueles que lutaram contra a pior forma de autoritarismo: a acusação imprópria de um termo impróprio a quem quer que seja.
Lembrava em suas histórias sempre o aspecto humano e sempre o vi como um homem extremamente religioso. Cumpriu seu dever com a Pátria e lutou a favor da democracia”