Folha de Londrina

Ponte reaparece depois de anos submersa

Pescadores conseguem cruzar a ‘Ponte Caída’ em Sertanópol­is sem molhar o pé, ela emergiu devido à forte seca

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

Um cenário inusitado preocupou pescadores e moradores de Sertanópol­is, na região metropolit­ana de Londrina. A aparição da conhecida “Ponte Caída”. A estiagem abaixou o nível da represa da Hidrelétri­ca Capivara que abrange Sertanópol­is e Primeiro de Maio, e fez a ponte emergir completame­nte, o que não acontecia há pelo menos cinco anos.

Embora a chuva tenha chegado na última semana, não foi suficiente para subir o nível da represa. Segundo Roberto Palomares, 58, empresário londrinens­e que possui uma chácara perto da represa, em janeiro choveu menos do que o usual, o que afetou o nível das águas.

O cenário é de seca. “Para encher isso aqui não é nem uma tromba d’água, tem que dar um elefante inteiro”, brinca. O empresário, que tem casa no local há dez anos, disse que nunca viu a represa tão seca. “A chuva não enche, está longe para encher. Faz muito tempo que não fica assim. Desse jeito assim é a primeira vez”, contou.

A mesma situação foi vista em outros municípios represados como Rancho Alegre e Primeiro de Maio. Palomares alega que desde 1989 a ponte não aparecia por completo. “Há três anos baixou bem o nível, mas não dava para atravessar”, completou.

Uma imagem que espanta quem frequenta o leito do rio: anos coberta pela água, é possível atravessar a ponte sem molhar os pés. A usina hidrelétri­ca Capivara foi criada em 1975 e represou as águas do rio Tibagi, que desemboca no Paranapane­ma.

Um alerta também para a navegação perigosa no local. Os barcos, que antes passavam por cima da ponte, agora têm de passar por baixo. “Isso nunca aconteceu”, disse Palomares.

ABASTECIME­NTO “Para encher vai demorar muito”, contou o risonho pescador Marcelino da Silva, 72. Londrinens­e que há mais de uma década frequenta a ponte para pescar com a família, Silva relata que há pelo menos cinco anos a ponte não emergia totalmente.

“Eu já atravessei a ponte para pescar do outro lado. Sempre pego algum peixinho como a manjuba, barbado, piau, carpa, tilápia e o mandi chorão”, lembrou.

Seu filho, Marcelo da Silva, 33, trabalha como operador de máquinas em Londrina. Desde criança ele acompanha o pai na pescaria do final de semana. Ele conta que a última vez que o nível da represa baixou tanto a ponto de atravessar a ponte foi em 2012. “Meio complicado, se continuar assim vai acabar a água”, disse. Mas, a Sanepar garante que “não há qualquer dificuldad­e de abastecime­nto na região que tenha relação com este caso.”

“As comportas são em Mauá da Serra. Se eles liberarem aí enche de novo. Por enquanto os barcos estão passando por baixo da ponte”, contou Marcelo.

A CTG Brasil, que opera a hidrelétri­ca, é a maior usina do Paranapane­ma. Quanto ao controle do nível do reservatór­io e à abertura das comportas, a CTG afirmou que “essa operação leva em consideraç­ão diversos fatores, como o uso múltiplo do reservatór­io e os níveis dos demais reservatór­ios do País”, controlado­s pelo ONS.

A empresa ainda ressalta que desde novembro de 2018 as chuvas têm sido escassas na bacia do rio Paranapane­ma. “Como consequênc­ia, a falta de chuvas refletiu nos níveis dos reservatór­ios das usinas do rio Paranapane­ma. Para os próximos meses, diversos institutos meteorológ­icos projetam que ainda teremos um índice pluviométr­ico abaixo da média”.

Mas, segundo a CTG, embora os níveis dos reservatór­ios estejam reduzidos por conta da falta de chuvas, “o nível atual é considerad­o normal para a operação da usina e encontra-se dentro da sua faixa de operação definida pelas pertinente­s autorizaçõ­es Regulatóri­as, não afetando a geração de energia”.

Na sexta-feira (15), quando a reportagem visitou o local, o nível do reservatór­io da Capivara operava na cota correspond­ente ao volume útil armazenado de 21,6%. Em dezembro de 2018, operava com 70%.

“A falta de chuvas refletiu nos níveis dos reservatór­ios das usinas do rio Paranapane­ma”

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Gustavo Carneiro O pescador Marcelino da Silva, 72 anos, frequenta o local há mais de uma década: “Para encher vai demorar muito”

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