Folha de Londrina

Filme israelense leva o Urso de Ouro

Nadav Lapid foi premiado no Festival de Berlim por ‘Synonimes’, que expõe o governo direitista de Benjamin Netanyahu

- Luiz Carlos Merten

Na entrevista que deu ao jornal O Estado de S. Paulo, a presidente do júri do Festival de Berlim, atriz Juliette Binoche, disse que não se via premiando um filme dirigido por mulher somente para seguir a agenda feminista em voga na indústria, com sucessivos movimentos de afirmação feminina. Tudo bem, há que respeitar, mas, para o gosto pessoal do repórter, que torcia por dois filmes - “Ondog” do chinês (mongol) “Wang Quan’an”, e “God Exists, Her Name is Petrunya”, de Teona Strugar Mitevska -, as escolhas não poderiam ter sido mais discutívei­s, quando não desastrosa­s.

O júri outorgou o Urso de Ouro para “Synonymes”, de Nadav Lapid, que, na véspera - sexta-feira, (15) -, já recebera o prêmio da crítica. Muito se discutirá essa escolha, mas o diretor, que fez um filme parcialmen­te biográfico sobre um jovem israelense que foge para Paris para se distanciar de suas origens, disse que “Synonymes” expõe Israel no governo direitista de Benjamin Netanyahu.

Só isso já incita a gostar do filme. Como curiosidad­e, vale destaque que Lapid, no breve encontro que teve com o repórter no final da premiação da crítica, revelou que seu sonho é conhecer o Brasil. Seu filme, com cenas fortes, deve provocar escândalo em Israel e nas comunidade­s judaicas de todo o mundo, incluindo a de São Paulo.

Petrunya venceu o prêmio do júri ecumênico. Nas premiações paralelas, o Brasil terminou recompensa­do como prêmio da Anistia Internacio­nal para “Espero Tua (re)Volta”, de Eliza Capai, sobre as ocupações de escolas em 2015.

O prêmio à melhor contribuiç­ão artística para a fotografia de “Out Stealing Horses”, de Hans Petter Moland, destacou, apesar das belas paisagens, um dos piores filmes do evento. O de direção para Angela Schanelec, anunciado pelo chileno Sebastián Lelio - de “Uma Mulher Fantástica” -, premiou um filme esquisito, “I Was at Home”, But, mas que não se pode dizer que seja ruim. Os prêmios de interpreta­ção para o casal chinês de “So Long, My Son”, de Wang Xiaoshuai - Yong Mei e Wang Jingchun -, podem ter sido excessivos, mas o filme é bom e não poderia ser ignorado.

O júri premiou o roteiro de “La Paranza dei Bambini”, do italiano Claudio Giovannesi, coescrito pelo diretor com o autor do livro, Roberto Saviano, e Maurizio Braucci. Os três subiram ao palco e, como Eliza Capai, que discursou denunciand­o a violência no Brasil, Braucci foi veemente contra o tratamento que o governo da Itália vem dando à questão dos refugiados.

Outro prêmio para a Alemanha, o de Alfred Bauer, para um filme particular­mente inovador. Foi para “System Crasher”, de Nora Fingscheid, sobre uma garota - menina selvagem - em guerra com as instituiçõ­es. François Ozon recebeu o prêmio especial do júri por “Grâce à Dieu”, sobre pedofilia na Igreja. Ele beijou sua compatriot­a, Juliette, elegantíss­ima, toda de branco, e foi muito aplaudido ao dedicar seu prêmio aos três homens que denunciara­m o abuso que sofreram de um padre da arquidioce­se de Lyon. “São meus heróis”, disse.

 ?? John Mac Dougall/ AFP ?? O diretor Nadav Lapid com o Urso de Ouro: na véspera, o filme ‘Synonimes’ já havia levado o prêmio da crítica
John Mac Dougall/ AFP O diretor Nadav Lapid com o Urso de Ouro: na véspera, o filme ‘Synonimes’ já havia levado o prêmio da crítica

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil