Folha de Londrina

Áudios vazados por Bebianno confrontam versão de Bolsonaro

Vazamentos mostram que presidente conversou com ex-ministro três vezes antes de receber alta

- Gustavo Uribe Folhapress

Brasília - O presidente Jair Bolsonaro conversou com o ex-ministro da Secretaria­Geral Gustavo Bebianno pelo aplicativo de mensagens Whatsapp três vezes no dia 12 de fevereiro, um dia antes de sua alta médica no hospital Albert Einstein, na capital paulista.

Os áudios das conversas entre os dois, divulgados pela revista Veja, confrontam a versão do presidente de que ele não havia falado naquele dia com o então auxiliar. As gravações mostram ainda que ambos conversara­m também sobre o esquema de candidatur­as laranjas do PSL, revelado pela Folha de S.Paulo e que levou à queda de Bebianno.

No diálogo sobre o escândalo, o presidente faz referência à denúncia de que uma candidata laranja em Pernambuco recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição do ano passado. Bolsonaro afirma que querem “empurrar essa batata quente” em seu colo.

“Querer empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestid­ade e falta de caráter. Agora, todas as notas pregadas nesse sentido foram nesse sentido exatamente, então a Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, pra apurar a verdade. Tudo bem, vamos ver daí quem deve pagar, tá certo? Eu sei que você é dessa linha minha aí. Um abraço”, disse.

Em entrevista ao jornal O Globo, Bebianno disse na semana passada que havia conversado três vezes com o presidente. No dia seguinte, no entanto, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) disse que o então ministro havia mentido, o que foi chancelado pelo presidente, em entrevista à TV Record.

Nas gravações divulgadas, que seriam das conversas daquele dia, Bolsonaro e Bebianno falaram sobre o cancelamen­to de viagem de uma comitiva de auxiliares à Amazônia e sobre uma audiência que o ministro teria com o vice-presidente de Relações Institucio­nais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo.

“Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto: eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximand­o da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionam­ento”, disse.

A exoneração de Bebianno foi confirmada nessa segunda (18) pelo porta-voz da Presidênci­a, general Otávio Rêgo Barros, naquilo que Bolsonaro já havia sinalizado nos bastidores.

Bebianno caiu após uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que a Folha de S.Paulo revelou a existência de um esquema de candidatur­as laranjas do PSL para desviar verba pública eleitoral. O partido foi presidido por ele durante as eleições de 2018, em campanha de Bolsonaro marcada por um discurso de ética e de combate à corrupção.

PÁGINA VIRADA

Com o agravament­o da crise no governo, após o vazamento de áudios do presidente Jair Bolsonaro, o Palácio do Planalto orientou a equipe ministeria­l a não falar sobre o assunto publicamen­te e a tratar o ex-ministro da Secretaria-Geral Gustavo Bebianno como “página virada”.

A ordem, repassada em reunião ministeria­l nessa terça-feira (19), foi de que o foco de todo o governo neste momento deve ser a reforma previdenci­ária e o pacote anticrime, em uma estratégia para tentar ofuscar o episódio que teve como desfecho a primeira queda no primeiro escalão da nova gestão.

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Isac Nóbrega/PR Bolsonaro pediu aos ministros que virem a página sobre Bebianno e foquem na Reforma da Previdênci­a

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