Inserção no mercado
A dificuldade de pessoas trans encontrarem emprego levou a transexual Maitê Schneider a criar em 2013 o Transempregos, um grupo de empregabilidade que tenta conectar pessoas trans a vagas compatíveis com suas formações acadêmicas. “Se empregamos uma pessoa ou 10 mil a gente já está cumprindo o papel a que nos propusemos”, explica a curitibana.
Segundo Schneider, uma empresa que trabalha junto da Transempregos há cinco anos tem, de 78 mil funcionários, 1.300 declarados trans. “Já empregamos milhares de pessoas”, conta.
Para ela, a exclusão de pessoas transgêneras do mercado de trabalho se dá pelos preconceitos, os “estigmas inconscientes devido ao não conhecimento”. “Dificilmente uma pessoa conhece alguém que se identifique como transgênero. Normalmente isso está vinculado a estigmas negativos como prostituição e drogas, páginas policiais de jornais, noticiários e coisas desse tipo”, pondera.
Ainda há uma série de tabus pela falta de conhecimento, pontua Schneider. Ela acredita que a ignorância leva ao medo. “Outro ponto é que a maioria dessas mulheres trans foram abandonadas por suas famílias, não conseguiram se estabelecer em colégios, saem da escola por conta de bullying. Essa população, na qual me incluo, tem uma dificuldade muito grande de acesso a capacitações e isso prejudica a entrada no mercado de trabalho.”
A luta pela inserção não é só no mercado de trabalho. Uma conquista para o segmento foi o fato do SUS (Sistema Único de Saúde) oferecer a operação de mudança de sexo desde 2008. Na rede privada, o custo da cirurgia pode ultrapassar R$ 20 mil. Outra vitória para o grupo foi o entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal), em maio do ano passado, de possibilidade de alteração de nome e gênero no registro civil sem procedimento cirúrgico para alterar o sexo.
Conforme a médica Débora Anhaia de Campos, o ambulatório trans municipal de Londrina foi fechado em 2008. “Não há perspectiva de reabertura porque não há investimento. Na atenção primária, nos últimos 11 anos há uma diminuição de investimentos”, assegura. Para a médica, pessoas trans em processo de hormonização poderiam ser atendidas por médicos da família, caso eles fossem capacitados para isso. “São hormônios que podem ser subscritos em uma UBS (Unidade Básica de Saúde)”.
O atendimento ao público trans em Londrina hoje funciona por iniciativa voluntária de Anhaia e de movimentos sociais, com apoio da Defensoria Pública. “Não dava para esperar mais dez anos e ver as pessoas trans morrendo, sendo marginalizadas, usando medicação clandestina sem ter acesso mínimo à saúde e dignidade”, frisa.