Mãe de Daniel depõe no segundo dia de audiência
Testemunhas sigilosas que teriam ido a um encontro marcado pela família Brittes para alinhar versões também prestaram depoimento
Curitiba - O segundo dia da audiência de instrução do processo que apura a morte do jogador Daniel Corrêa Freitas, nesta terçafeira (19), foi marcado pelo encontro da mãe do jogador com os réus e pelo depoimento de um amigo da vítima, que trouxe pela primeira vez ao caso a versão de que teria sido beijado por Cristiana Brittes na comemoração que precedeu o crime, na madrugada do dia 27 de outubro de 2018, em uma casa noturna de Curitiba.
Também falaram, sob sigilo, três testemunhas que estiveram presentes na residência dos Brittes no dia do crime, além da ex-companheira de Daniel, com quem ele teve uma filha hoje com dois anos.
As testemunhas sigilosas falaram pela manhã. Na avaliação da defesa e também da assistência da acusação, os depoimentos colocaram em dúvida a suposta participação de Cristiana, que a promotoria acusa de homicídio por não ter tentado impedir as agressões e ter “aderido” ao crime - confessado por Edison Brittes Júnior, seu marido.
“Hoje serviu especificamente para confirmar que Cristiana não teve qualquer participação no homicídio”, disse o advogado de defesa Claudio Dalledone Junior, que representa os Brittes. Nilton Ribeiro, advogado da família de Daniel e assistente da acusação, disse que a dúvida precisará ser apurada na fase de julgamento. Ambos esperam que os réus sejam levados ao tribunal do júri.
Não há, contudo, previsão de término sequer para a fase da audiência de instrução, inicialmente programada para ser concluída até esta quarta-feira (19). Das dezenas de testemunhas listadas por acusação e defesa, apenas dez já falaram ao longo destes dois dias. Novas datas devem ser marcadas, segundo um do advogados de defesa.
Nesta segunda-feira (18), foram ouvidas três testemunhas sigilosas que teriam ido a um encontro marcado pela família Brittes em um shopping para alinhar versões que contariam à polícia.
A mãe de Daniel, Eliana Corrêa Freitas - uma das testemunhas de acusação consideradas “informantes” - falou por cerca de uma hora. Ela disse que cumpriu o papel de defender a reputação do filho frente ao que considera uma estratégia da defesa dos acusados para tentar justificar o crime.
A versão defendida pelo advogado da família Brittes sustenta que Daniel foi morto em consequência de uma tentativa de estupro da esposa do réu confesso, Cristiana Brittes. “Ele está tentando denegrir a imagem do Daniel. Não vão conseguir”, disse, em entrevista à FOLHA. “Daniel era um menino bom, muito amado, muito querido de todos. Se a defesa dos assassinos for denegrir a imagem dele, está perdida e vai ter que procurar outro rumo para tentar diminuir as penas”, disse.
À imprensa, Dalledone disse está sendo traçado um perfil de Daniel, incluindo um acidente do carro que envolveria o uso de bebida alcoólica e um episódio de desrespeito a uma mulher em Belo Horizonte. A vítima do assassinato precedido de tortura, que foi encontrada com o órgão sexual decepado, “não era uma flor de candura”, segundo o advogado. “Ele arrastou essa família para a cadeia. Ele construiu criminosos. A atitude dele fez isso”, disse.
NOVO ELEMENTO
Sexto depoimento do dia, o testemunho de Lucas Muner, amigo de Daniel em Curitiba, trouxe um elemento até então não citado no processo. Ele contou que Cristiana Brittes “roubou um selinho” na festa de aniversário de Allana Brittes, filha do casal, na madrugada do dia do crime. Ele também relatou que ouviu que Cristiana teria “ficado” com amigos de amigos, mas não identificou quem forneceu essas informações.
Para Dalledone, trata-se de uma testemunha criada para atacar Cristiana. A FOLHA acompanhou parte do depoimento: o advogado insistiu para que Lucas identificasse o amigo que contou a informação e disse que gravações das câmeras de segurança da casa noturna serão periciadas para confirmar o beijo de Cristiana Brittes. Dalledone também bateu boca com o assistente de acusação, Nilton Ribeiro. Ele e outros advogados da defesa acusaram Ribeiro de utilizar questões de ordem para interromper linhas de raciocínio durante o interrogatório das defesas. A juíza pediu “urbanidade”.
Defesa dos Brittes alega que Daniel foi morto em consequência de uma tentativa de estupro da esposa do réu confesso