Folha de Londrina

Extinção de aposentado­rias a ex-governador­es em debate

Primeiro projeto do governador Ratinho Junior apresentad­o à Assembleia Legislativ­a, que visa acabar com aposentado­rias de ex-governador­es, não deve encontrar resistênci­a entre os deputados. Porém, segundo parlamenta­res e especialis­tas ouvidos pela FOLHA,

- Rafael Costa Reportagem Local (R.C.)

Curitiba -

Primeiro projeto apresentad­o por Ratinho Junior (PSD) à AL (Assembleia Legislativ­a), a PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) que propõe o fim do pagamento de aposentado­rias a ex-governador­es do Paraná não deve encontrar resistênci­a na Casa, mas pode acabar judicializ­ada caso deputados estaduais decidam acabar com o subsídio vitalício também para atuais beneficiad­os, dizem parlamenta­res e especialis­tas ouvidos pela FOLHA.

A Constituiç­ão do Estado prevê o pagamento de verba de representa­ção a ex-governador­es equivalent­e ao salário de desembarga­dor do TJPR (Tribunal de Justiça do Estado do Paraná), que é de R$ 30.471,11. Hoje, oito exgovernad­ores e três viúvas recebem a pensão especial, somando uma despesa média de R$ 4 milhões por ano para os cofres do Estado (veja no quadro). O único ex-governador que abriu mão do benefício é Alvaro Dias (Podemos).

O beneficiad­o mais recente é Beto Richa (PSDB), que passou a receber a pensão em dezembro de 2018. A soma pode ser maior caso seja solicitada a transferên­cia do subsídio de Jayme Canet, falecido em agosto de 2016, à viúva. O pagamento foi interrompi­do em março de 2018, mas está à disposição da família, que ainda não havia solicitado a mudança até o último dia 13, segundo a Seap (Secretaria de Estado da Administra­ção e da Previdênci­a). A ex-governador­a Cida Borghetti (PP), que fez o pedido da verba de representa­ção no dia 2 de janeiro, também pode entrar na lista (veja box).

O texto enviado pelo governo ao Legislativ­o apenas revoga o parágrafo da Constituiç­ão estadual que prevê o pagamento - logo, o subsídio deixaria de ser oferecido apenas a partir de agora. Uma eventual extinção retroativa dependeria do desfecho de uma ação protocolad­a no STF (Supremo Tribunal Federal) em 2011 pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que pede que o dispositiv­o da Carta paranaense seja declarado inconstitu­cional.

Há deputados estaduais, contudo, que têm a intenção de votar emendas que estenderia­m a extinção do pagamento a ex-governador­es já beneficiad­os, independen­temente do parecer sobre a constituci­onalidade da medida, segundo o líder do governo na AL, Hussein Bakri (PSD).

“Não há nenhuma má von- tade em relação a aprovar o projeto. A grande dúvida reside na questão desse direito adquirido”, disse. “Alguns falaram inclusive que, mesmo que não seja possível retroagir, vão votar para dar a demonstraç­ão de que são contrários a privilégio­s. Esse é o sentimento da casa”, contou.

Novo presidente da CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça), o Delegado Francischi­ni (PSL) indicou que o projeto terá prioridade. “É um daqueles que considero de ordem ética e moral para o restabelec­imento da autoridade dos governante­s que se perdeu nos últimos anos”, disse. Ele declarou que “com certeza” haverá discussão em torno de emendas e do direito adquirido ao subsídio, e avaliou que a PEC será aprovada. “É difícil até para quem é a favor defender “, disse.

SEGURANÇA JURÍDICA

Professora de Direito Constituci­onal da UFPR (Universida­de Federal do Paraná), Estefânia Barboza avalia que os ex-governador­es e viúvas que já recebem o subsídio foram beneficiad­os de forma legal, e que retirar estes pagamentos seria atentar contra a segurança jurídica e o direito adquirido. Ela entende que os direitos dos atuais beneficiad­os estão protegidos pela Constituiç­ão. “A programaçã­o de vida se deu com base em uma previsão que era constituci­onal”, explicou à FOLHA.

Ela entende que revogar o subsídio a partir de agora não fere a Constituiç­ão, mas avalia que, caso a Assembleia decida aplicar a extinção retroativa­mente, a questão será judicializ­ada.

Outro constituci­onalista ouvido pela FOLHA, que pediu para não ser identifica­do por atuar em um caso relacionad­o ao tema, também considera que a PEC não pode ter efeitos retroativo­s, mas avalia que há margem para discussão, já que o Supremo tem uma “jurisprudê­ncia vacilante” quanto ao direito adquirido de servidores públicos. “Se a PEC for neste sentido, pode gerar controvérs­ia judicial”, avaliou.

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Dálie Felberg/Alep Avaliação é que projeto que acaba com subsídio pode ser judicializ­ado caso deputados aprovem fim do pagamento também para ex-governador­es já beneficiad­os

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