Utopia dos delinquentes
Se existe aspiração de felicidade máxima, aquilo que se define como utopia, para os normais ela também favorece os delinquentes. O raciocínio decorre da vacilada do mito Sergio Moro na questão do caixa 2, visto como mal menor ao da corrupção, como não se tratasse de coisas ligadas, o acessório seguindo o principal.
Claro que isso tem pouco a ver com as utopias da Renascença - a de Tomas Morus, a de Campanella e a forjada na Nova Atlântida -, mas revela como de uma aspiração menor e até criminosa se pode gerar uma visão de mundo. A alegada criminalização da classe política pela Lava Jato é a bandeira de pequenos e grandes corruptos apanhados pela operação na doutrina de que Caixa 2 é um pecado venial dentre as formas de manipulação eleitoral, decorrentes até das vulnerabilidades da legislação, especialmente depois que cortaram o investimento privado na área de forma abrupta.
Há muito tempo se cultiva essa normalidade do Caixa 2 e a fauna crê - o que no momento aparenta absurdo - até numa anistia específica para os atingidos pela sanção decorrente e que devolveria “normalidade” à função da política no regime democrático. Nesse processo questões conceituais têm que ser olhadas com o maior rigor: uma concessão, por menor que seja, pode gerar o absurdo. Ademais, convenhamos, que discutir junto com a reforma previdenciária é um risco de avanços na luta essencial contra a corrupção se transformarem em moeda de troca, o que não fugiria aos nossos padrões.