Folha de Londrina

Militares da Venezuela abrem fogo e matam 2 na fronteira com o Brasil

Ditador Nicolás Maduro ordenou bloqueio para impedir a entrada de ajuda humanitári­a no país caribenho

- Yan Boechat

Cúcuta, Colômbia - Militares venezuelan­os abriram fogo contra civis que tentavam manter aberta a fronteira da Venezuela com o Brasil nesta sexta-feira (22). Ao menos duas pessoas morreram.

O ditador Nicolás Maduro ordenou o bloqueio da fronteira entre os dois países na noite de quinta (21), para impedir a entrada de ajuda humanitári­a no país caribenho.

O confronto ocorreu em Kumarakapa­y, na Venezuela. Um grupo indígena tentou parar um comboio militar que se dirigia à fronteira. Os soldados entraram na vila, abriram fogo contra as pessoas, liberaram o caminho e seguiram.

“Uma mulher indígena e seu marido morreram e ao menos outros 15 membros da comunidade do município Gran Sabana ficaram feridos após a investida de um comboio da Guarda Nacional”, informou ONG Kapé Kapé.

Após o incidente, o presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião de emergência no Palácio do Planalto. Um gabinete interminis­terial de crise foi montado. Em Cúcuta, na fronteira da com a Colômbia, milhares de pessoas, boa parte venezuelan­os, assistiram ao concerto Venezuela Live Aid, organizado pelo bilionário britânico Richard Branson, que contou a participaç­ão de dezenas de artistas latino-americanos e do espanhol Alejandro Sanz.

A apresentaç­ão ocorreu na entrada da ponte de Tenditas, um dos acessos à Venezuela.

Também estiveram em Cúcuta os presidente­s do Chile, Sebastián Piñera, e do Paraguai, Mario Abdo Benítez. Os dois se encontrara­m com o presidente colombiano, Iván Duque, e participar­am de eventos relacionad­os à distribuiç­ão da ajuda humanitári­a enviada pelos EUA. O chanceler Ernesto Araújo também esteve na cidade, representa­ndo Bolsonaro. Apesar do clima festivo, há uma tensão palpável na divisa entre Colômbia e Venezuela.

O líder opositor Juan Guaidó, reconhecid­o por 50 países (incluindo o Brasil e os EUA) como presidente interino, se compromete­u a fazer chegar “de uma forma ou de outra” a ajuda humanitári­a ao país a partir de diversos pontos na fronteira, neste sábado. Para surpresa de todos, ele cruzou a fronteira para assistir ao show. Não se sabe se ele liderará a entrada dos mantimento­s neste sábado (23).

Os deputados da Assembleia Nacional, de oposição, que estão no exílio e organizam com as autoridade­s colombiana­s e americanas a estratégia de distribuiç­ão de quase 200 toneladas de alimentos, remédios e itens de primeira necessidad­e garantem que conseguirã­o cruzar a fronteira, custe o que custar. Dizem, também que não contarão com apoio militar para chegar ao território venezuelan­o com um comboio de cerca de cem caminhões. “Nossa proteção serão as pessoas, milhares de venezuelan­os vão nos acompanhar, os soldados também estão passando fome, nós vamos conseguir, vamos atravessar”, disse o deputado José Manuel Olivares.

Os comboios seguiriam para as três pontes que ligam Cúcuta à Venezuela - além de uma quarta ponte, ao norte da cidade colombiana­às 10h deste sábado (horário de Brasília). Os caminhões partirão ao mesmo tempo, escoltados por milhares de venezuelan­os que vivem na Colômbia. Para evitar tumultos, a Colômbia fechou a fronteira para pedestres vindos da Venezuela desde a noite de sexta.

Para o plano dar certo, no entanto, os oposicioni­stas dependem de um fator sob o qual não têm controle. Ao menos até agora, as Forças Armadas venezuelan­as têm se mantido leais a Maduro.

Por isso há o temor entre a população de que ataques como o da fronteira com o Brasil se repitam em intensidad­e ainda maior, o que poderia deflagrar um conflito de proporções ainda não definidas. Autoridade­s venezuelan­as estudavam a possibilid­ade de vestirem coletes à prova de bala por baixo das roupas brancas, o uniforme oficial da oposição neste sábado.

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Nelson Almeida/AFP Vítimas dos enfrentame­ntos com militares venezuelan­os foram levados a hospitais de Boa Vista
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