E o Oscar pode ir para... Tudolevaacrerqueoprêmio máximo deve ficar entre as memórias do mexicano Cuarón e as aventuras de Freddie Mercury. Mas há azarões
Ea Netflix conseguiu afinal. “Roma”, sua produção mais aclamada - embora o grande público não a tenha visto nas salas, restando somente a exibição para poucos em streaming - é uma das mais fortes candidatas para arrebatar vários Oscar na cerimônia que acontece no Teatro Dolby de Los Angeles, neste domingo (24) a partir das 22 horas (Globo e TNT transmitem a festa). São dez indicações para o filme que pode consolidar o poder do trio de realizadores mexicanos em Hollywood : Alejandro Iñárritu já levou o prêmio de melhor diretor duas vezes seguidas (“Birdman” em 2015 e “O Regresso”, 2016), e Guillermo Del Toro ganhou na categoria ano passado com “A Forma da Água”. Se Alfonso Cuarón levar, Trump e seu muro da vergonha vão se ressentir.
Mas o que ninguém poderia imaginar, pelo menos antes da concessão dos Globos de Ouro, é que surgiria outro forte concorrente, “Bohemian Rapsody”, a ‘biopic’ de Freddie Mercury que nem sequer tem diretor, ou se tem não aparece nos créditos (é Dexter Fletcher), já que os produtores trataram de esconder o nome do original, um amedrontado Bryan Singer, que bem antes de concluir as filmagens protagonizou uma crônica arrepiante como pivô de uma série de denúncias de assédio homossexual.
Mas para não deixar a noite maçante como em todos os anos existeoboatodeq ue a Academia enxugaria a cerimônia em uma hora, mas não foi uma promessa oficial -, há candidat osq ue podem atravessar o caminho dos dois principais favoritos. Como “Green Book”, por exemplo, um mix muito palatável entre drama antirracista e apologia ao humanismo, dosado por um humor bem temperado. Ou o pouco ortodoxo drama histórico “A Favorita”, que representa a definitiva canonização do inquietante grego Yorgos Lanthimos, agora mais domesticado pelos generosos orçamentos da América (leia-se Netflix, again...). Seu título pode assustar, e o filme tem sua força maior no trio bem calibrado de intérpretes femininas (Olivia Colman, Emma Stone e Rachel Weisz), todas candidatas ao Oscar de interpretação, q uenãose cansam de elogiar a direção “lo ucae brilhante” de Lanthimos.
Atenção para dois títulos que podem miscigenar a premiação: “Pantera Negra”, com sete nominações, não porque seja um filme de super-heróis (algum dia ou Marv el ou DC, devem leva r,é questão de tempo), mas porque, ao lado de “Infiltrado na Klan”, do renascido Spike Lee (inédi toem Londrina) cumprem os requisitos do cinema afro-americano no Oscar, depois da insistente e vitoriosa campanha hashtag #OscarSoWhite, que nos últimos anos vem revertendo (embora não totalmente), os preconceitos raciais da Academia.
“Nasce uma Estrela” e “Vice”, embora desfilem qualidades, não devem levar grande coisa. A música de Lady Gaga é uma certeza. A generosa presença que “Vice” obteve nesta lista somente é explicável em função do argumento político: é um filme anti-Trump e, aos olhos da Academia, por si só isto já é um mérito. De qualquer maneira, a cinebiografia de Dick Cheney, o mais pernicioso, nocivo e maligno vice-presidente dos EUA dividiu a crítica e deve dividir também os votantes. Resta Christian Bale e sua altamente calórica interpretação.
Como em vezes anteriores, as nominações são retóricas. Faz sentido que “Roma” esteja disputando o título de melhor filme no geral e como melhor filme em língua estrangeira? Tem possibilidade de ganhar nas duas categorias? Muito difícil entender este raciocínio, a não ser pela desenvoltura, descontração e determinação no trânsito da Netflix pelos corredores de uma Hollywood que parece ter ser rendido às novas regras, a uma nova política de produção e exibição de filmes.