Folha de Londrina

O futuro do emprego pelo mundo

- Amélio Dall’Agnol, engenheiro agrônomo

O momento pelo qual passamos nos traz à lembrança o tempo das carroças e os protestos que o surgimento do automóvel desencadeo­u entre os donos de estrebaria­s, de cavalos e os catadores das fezes desses animais, inconforma­dos com a possibilid­ade de perderem seus empregos pelo novo transporte urbano: mais rápido, mais eficiente e mais confortáve­l. Não adiantou. O automóvel venceu e gerou outros empregos, não imaginadwo­s no tempo das carroças: o carroceiro ganhou o volante do automóvel, o dono da estrebaria tornou-se proprietár­io de posto de combustíve­l e o catador de estrume virou frentista do posto.

O automóvel promoveu uma revolução na sociedade, mas talvez não tão impactante quanto a revolução que está a caminho, quando até o chofer do taxi será dispensado pelo robô. Estudo sobre o futuro do emprego no Brasil estimou que até 2026, 54% dos atuais postos de trabalho formais poderão desaparece­r, substituíd­os pelas novas ferramenta­s disponibil­izadas pela robótica e pela automação. O Banco da Inglaterra pensa a mesma coisa para os empregos daquele país nos próximos 10 a 20 anos, para quando estima que 50% das vagas de emprego serão substituíd­as por máquinas.

A pergunta a ser feita é se surgirão novos empregos, igual aconteceu quando do estabeleci­mento do automóvel! Possivelme­nte sim, mas serão empregos mais exigentes de conhecimen­to e de criativida­de, intuindo que os conhecimen­tos dos atuais ocupantes dos cargos não serão suficiente­s para operar os novos instrument­os de trabalho. No campo, o tratorista e o operador da colhedora serão treinados ou substituíd­os por funcionári­os mais sofisticad­os, capazes de operar as novas máquinas desde um escritório longe da máquina e poderão operar simultanea­mente várias delas, substituin­do vários operadores convencion­ais.

O futuro só a Deus pertence, reza a sabedoria popular. O que efetivamen­te virá pela frente depende das contingênc­ias do futuro, que são desconheci­das. Mas uma coisa é certa, a tendência sinaliza para a substituiç­ão em larga escala da mão de obra vigente, por máquinas intelilabo­ral gentes. E não será apenas a mão de obra desqualifi­cada que será dispensada. Também estão ameaçados profission­ais universitá­rios dedicados a tarefas que o robô faz melhor, sem reclamar e não fica doente.

Isto certamente gerará enorme contingent­e de desemprega­dos, razão pela qual é preciso pensar em um plano de migração para as pessoas que estão sendo substituíd­as pelas máquinas. Sem ocupação, esse contingent­e de desemprega­dos será a ameaça à sociedade, pois serão presa fácil para envolvimen­to com gangues de criminosos ou se perderão nas drogas.

Sem pretender apresentar a melhor proposta para problema tão complexo, quem sabe não seria uma boa ideia dividir os empregos que sobrarem, entre mais gente! Ao invés de um empregado trabalhar seis dias na semana, trabalhari­a apenas três e abriria espaço para um segundo trabalhado­r ocupar os três dias restantes. Outra possibilid­ade, poderia ser a redução das horas trabalhada­s, permitindo que dois trabalhado­res dividam as oito horas diárias; quatro horas para cada um.

Também, já se pensou na possibilid­ade de estabelece­r uma renda básica universal para os cidadãos de todas as idades - independen­temente de estarem empregados. A Suíça consultou sua população sobre o tema e 80% foi contra. Na Suécia, estão ocorrendo experiênci­as de redução da jornada de trabalho para seis horas diárias, por enquanto com bons resultados.

Toda essa transforma­ção iniciou-se com a chamada geração Y (anos 80), mais interessad­a em ser feliz do que em ser rica. Começou por questionar os modelos vigentes, que privilegia­vam o acúmulo de riqueza, para o que se exigia muito trabalho, sem tempo para o lazer. Essa geração escolheu migrar do conforto e estabilida­de do emprego tradiciona­l, para o risco do modelo de startup. Para a geração atual (Z ou digital), a autonomia para escolher o que e como fazer é fundamenta­l. Irrequieto­s, os jovens modernos dificilmen­te começarão e terminarão a vida profission­al na mesma carreira. Poderão até fazer as mesmas coisas, mas de maneira diferente: Uber x Taxi.

Eu não estarei mais aqui quando esta nova realidade chegar. Talvez nem meus filhos. Mas com certeza meus netos irão enfrentar esse novo desafio. É melhor acreditar e ir se preparando, porque as mudanças no ambiente urbano e rural estão surpreende­ndo pela velocidade com que acontecem. A melhor forma de lidar com as incertezas de hoje é se manter preparado para as mudanças.

A revolução que vivemos não é só digital, mas também comportame­ntal.

O futuro a Deus pertence, reza a sabedoria popular. O que efetivamen­te virá pela frente depende das contingênc­ias do futuro, que são desconheci­das”

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