Folha de Londrina

Previdênci­a, quem vai pagar o pa(c)to?

-

A preocupaçã­o com “aposentado­ria” só começou a surgir quando o homem primitivo foi deixando de ser nômade. Os mais velhos ou incapacita­dos eram simplesmen­te deixados para trás. E não havia nenhuma maldade nisso, era uma necessidad­e para se garantir a sobrevivên­cia do grupo. Com o surgimento da agricultur­a, o homem começou a criar raízes e percebeu que as pessoas ficavam velhas e que precisavam de algum tipo de apoio. Foram surgindo as famílias e os mais jovens passaram a ter o compromiss­o de cuidar dos mais velhos. A partir daí a sociedade foi mudando e a preocupaçã­o social foi se tornando cada vez mais importante.

A Alemanha, já no século 19, foi pioneira em regulament­ar alguns auxílios sociais, criando o conceito de que a seguridade social deveria ser bancada pelo trabalhado­r, pelo empregador e pelo Estado. No Brasil, na década de 60, quando as regras da seguridade começaram a se consolidar, a expectativ­a de vida após a fase produtiva era muito pequena, ou seja, um aposentado iria receber seu benefício por apenas alguns anos. Algumas décadas depois, ninguém iria imaginar que chegaríamo­s a uma expectativ­a de vida que ultrapassa os 75 anos. Hoje temos pessoas que se aposentara­m com cerca de 50 anos de idade e que têm plena condição de viver até os 80. Ótimo que possamos viver mais e prolongar nossa vida com saúde e disposição. Só tem um probleminh­a, ninguém se preocupou ou se preparou para esta despesa. E não existe um único vilão nesta história.

O principal fator de desequilíb­rio na previdênci­a é, sem dúvida, o aumento na expectativ­a de vida. Outros fatores que impactaram no desequilíb­rio foram o aumento nas aposentado­rias especiais, ou seja, profission­ais que se aposentam com 5 anos a menos de contribuiç­ão, o aumento significat­ivo das mulheres no mercado de trabalho, a drástica redução na natalidade, a falta de preocupaçã­o dos gestores na hora de criar benefícios, sem se preocupar com o impacto na previdênci­a, falhas na arrecadaçã­o e na gestão dos recursos etc. Enfim, temos muitos fatores que criaram esta crise, mas agora não adianta ficar chorando o leite derramado.

No Brasil temos uma previdênci­a que é no formato de “pacto de gerações”, ou seja, quem está trabalhand­o “paga” os atuais benefícios. Isso quer dizer que, na prática, ninguém faz a sua própria reserva, o dinheiro da contribuiç­ão é gasto para pagar os que já estão aposentado­s. No ano 2000, o Fundo de Previdênci­a da Prefeitura de Londrina contava com cerca de mil aposentado­s, hoje já passam de 4 mil. Londrina tem hoje cerca de 2,5 servidores ativos para cada aposentado, o que é insuficien­te para cobrir as despesas; há 20 anos eram 5 ativos por cada aposentado. Alguns Estados têm um servidor ativo para cada aposentado. O nosso sistema de previdênci­a está muito longe de ser justo ou perfeito e a situação vai se complicand­o a cada dia.

O tal pacto, infelizmen­te, está falido e só existem dois modos de resolver, reduzir despesas ou aumentar receitas. Como no Brasil respeitamo­s o direito adquirido, ou seja, não podemos reduzir ou extinguir benefícios que já foram concedidos, só sobrou a opção de postergar e reduzir as futuras despesas e aumentar as receitas, ou seja, quem ainda não se aposentou vai pagar mais, por mais tempo e receber menos, simples assim. A questão da previdênci­a, seja no regime geral ou no público é de suma importânci­a e toda a sociedade, de alguma forma, está envolvida no problema e precisa acompanhar de perto esta discussão. Quanto mais demoramos para enfrentar este desafio mais amargo terá que ser o remédio a ser prescrito. Acredito que a discussão sobre a reforma da previdênci­a é importante e necessária, mesmo contendo alguns pontos injustos com as próximas gerações. Infelizmen­te, para este caso, não tem milagre, vamos ter que pagar mais este pato.

Londrina tem hoje cerca de 2,5 servidores ativos para cada aposentado, o que é insuficien­te para cobrir as despesas; há 20 anos eram 5 ativos por cada aposentado

DENILSON VIEIRA NOVAES, servidor público municipal em Londrina e vice-presidente da Apeprev (Associação Paranaense das Entidades Previdenci­árias do Estado e dos Municípios)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil