Violência contra a mulher: não há lugar seguro
Apesquisa Violência Contra as Mulheres, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgada nesta terça-feira (26), mostra que não existe lugar seguro para as mulheres. E ao contrário do que muita gente pensa, a própria casa talvez seja o local mais perigoso, pois a maioria dos casos de agressão contra a mulher brasileira aconteceu no ambiente doméstico. Segundo o estudo, 76% das agressões são cometidas por homens conhecidos (namorado, cônjuge, companheiro, vizinho ou ex). Outro dado preocupante: apesar das campanhas de conscientização sobre a importância de denunciar os agressores, 52% das vítimas se calaram e não pediram ajuda da família e nem buscaram uma delegacia.
Foram ouvidas 2.084 pessoas nos dias 4 e 5 sobre situações vividas por elas nos últimos 12 meses. Os números são assustadores. Em 2018, por hora, ao menos 1.826 mulheres foram vítimas de algum tipo de violência no Brasil. Ao todo, foram 16 milhões de brasileiras (27,4%) que sofreram algum tipo de violência. A maioria foi vítima de ofensa verbal, como insulto, humilhação ou xingamento.
Mas alguma coisa está mudando. Se entre as que mais relatam agressões estão as jovens de 16 a 24 anos, é possível que as novas gerações estejam menos tolerantes à violência. E quando se analisa assédio, o total de vítimas é ainda maior: 22 milhões das brasileiras com 16 anos ou mais relatam ter sofrido algum assédio em 2018. O caso mais comum (32,1%), citado por 19 milhões delas, é de comentários desrespeitosos na rua.
Em 2017 e no ano passado, homens e mulheres foram questionados se haviam visto, nos últimos 12 meses, casos de violência contra a mulher no seu bairro ou na comunidade. Em 2018, 59% da população disse ter visto ao menos uma. Em relação a 2017, houve queda de 10%. É uma pergunta importante, principalmente quando se leva em conta o relato de uma mulher que foi espancada por quatro horas, recentemente, no Rio de Janeiro, por um homem que ela conheceu na internet. A vítima disse que gritou por socorro e os vizinhos demoraram quatro horas para tomarem uma atitude. No mínimo, o que se constata é a cultura da conivência com a violência contra a mulher ainda muito enraizada na sociedade brasileira. Seja no espaço público ou no ambiente familiar, as respostas demoram e às vezes custam uma vida. Nesse ponto, não adianta ter leis eficientes, como a Maria da Penha, se falta conscientização, prevenção, punição a agressores e políticas públicas de apoio às vítimas.