Maduro critica 'governo paralelo' de Guaidó
Ditador venezuelano diz que oposicionista terá que dar explicações à Justiça
São Paulo - Em entrevista à TV americana ABC, o ditador Nicolás Maduro mandou um recado ao líder da oposição na Venezuela, Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino por mais de 50 países. Quando questionado se ele permitiria a volta de Guaidó ao país, Maduro disse: “Ele pode sair e voltar, mas terá que dar explicações à Justiça, porque foi proibido de deixar o país. Ele tem que respeitar as leis.”
Maduro acusa Guaidó de tentar estabelecer um governo paralelo, durante a reunião do Grupo de Lima, que foi realizado em Bogotá na segunda-feira (25). O Grupo de Lima é formado por 14 países das Américas, que reconhecem o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. O México integra o fórum, porém não reconhece Guaidó.
Guaidó está em território colombiano desde sexta- feira (22). Na sexta-feira (23) ele compareceu ao Venezuela Aid Live, um festival na fronteira com a Colômbia para arrecadar verba para a ajuda humanitária e pressionar Maduro a aceitar que a ajuda internacional entrasse no país. Na segunda-feira (25), Guaidó participou da reunião do Grupo de Lima. Ele disse que voltaria ao país esta semana.
Na mesma entrevista, Maduro insistiu que os EUA realizam um plano para “fabricar uma crise” na Venezuela, o que justificaria uma intervenção não apenas em seu país, mas em toda a América do Sul. Em sua opinião, “tudo o que o governo dos Estados Unidos fez foi condenado ao fracasso”.
“A Venezuela tem o direito à paz, tem instituições legítimas. Eu (...) estou preparado para um diálogo direto com o seu governo. Somos sul-americanos, temos que buscar soluções do século 21, não para a Guerra Fria. A Guerra Fria deve ser deixada para trás”, disse ele, num recado ao presidente dos EUA, Donald Trump.
Ele insistiu que Trump se tornou presidente graças ao “caminho fraturado” deixado por seu antecessor, Barack Obama, e reiterou sua disposição em dialogar com ele para ter relações respeitosas.
Maduro disse que não teme o presidente norte-americano, mas se preocupa com quem está ao seu redor, como o vice-presidente Mike Pence, o assessor de segurança, John Bolton, o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o encarregado das relações com a Venezuela, Elliott Abrams.
“Eu acho que essas pessoas que cercam o presidente Trump são ruins. E acho que, em certo momento, o presidente Trump terá que dizer ‘temos que ver o que acontece com a Venezuela e mudar nossa política’”, disse.
DETENÇÃO
O Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa da Venezuela informou que o repórter Daniel Garrido, da emissora americana Telemundo, foi detido por mais de oito horas por funcionários do Serviço de Bolivariano de Inteligência Nacional nesta terça (26), em Caracas.
O equipamento e o celular pessoal dele foram confiscados. Segundo o sindicato, o repórter foi colocado em uma viatura e conduzido por diversos pontos da cidade durante várias horas em que ficou incomunicável.
A última foto enviada por Garrido mostra uma patrulha de agentes da unidade de inteligência do regime de Nicolás Maduro na porta do hotel onde ficaram hospedados o jornalista Jorge Ramos e a equipe da Univisión, um dos principais canais hispânicos dos Estados Unidos.
A equipe ficou detida por mais de duas horas no Palácio de Miraflores, sede do governo na segunda (25) à noite. O repórter fez perguntas a Maduro durante uma entrevista que irritaram o ditador. O equipamento e as gravações também foram confiscados. Eles foram deportados na manhã desta terça. Segundo o sindicato, já foram registrados mais de 30 casos de detenção de jornalistas e funcionários de veículos da mídia desde o início do ano.
Em novembro de 2018, os jornalistas brasileiros Tiago Henrique da Silva e Fernanda Kraide Camuzzo e o espanhol Álvaro Fernández foram detidos durante várias horas por militares venezuelanos quando realizavam uma reportagem sobre a crise migratória na fronteira entre Brasil e Venezuela.