Folha de Londrina

Senado aprova o nome de Campos Neto para a presidênci­a do BC

Durante sabatina, o economista foi elogiado pelos senadores ao qualificar o momento atual do País como “especial” e citar a necessidad­e de reformas

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Brasília -

O plenário do Senado aprovou nesta terça-feira (26), por 55 a 6, o nome de Roberto Campos Neto para a presidênci­a do Banco Central. Mais cedo, ele já havia sido sabatinado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Agora, a aprovação será comunicada à Presidênci­a da República, para oficializa­ção.

Pela primeira vez na história recente, a sabatina do presidente do Banco Central não se tornou um bate-boca entre senadores sobre questões que de fato fazem parte das diretrizes da autoridade monetária. A ressalva ficou por conta de juros no cartão de crédito, da concentraç­ão e da concorrênc­ia bancária. Com a Selic no menor patamar da série (6,5% ao ano), inflação sob controle, estoque alto de reservas internacio­nais (US$ 378 bilhões) e dívida externa baixa, o economista Roberto Campos Neto foi aprovado por unanimidad­e pelos senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado - 26 votos a 0 -, que fizeram questão de ressaltar o trabalho de seu avô, o ex-ministro e economista Roberto Campos.

Na defesa do sistema financeiro, ele admitiu o alto nível de concentraç­ão bancária, mas apostou que as novas tecnologia­s serão fundamenta­is para o aumento da concorrênc­ia e redução de juros e spread bancário. Também foi elogiado pelos senadores ao qualificar o momento atual do País como “especial” e citar a necessidad­e de reformas.

Um dos pontos principais de seu discurso, destacado por senadores, como Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) foi a frase: “Precisamos empregar essa oportunida­de na criação de uma cultura em que haja mais empreended­ores e menos atravessad­ores.”

Na sabatina, Campos Neto foi questionad­o sobre o baixo cresciment­o do País, mesmo com a Selic no piso histórico. Em resposta aos senadores, ele disse: “A coisa mais importante para o cresciment­o é a estabilida­de de preços”. “Nos países onde se sacrificou inflação por cresciment­o, a expansão da atividade durou pouco e depois houve recessão. Isso aconteceu também no Brasil”, acrescento­u, em discurso indicando continuida­de das políticas atuais do BC.

Ao mesmo tempo, Campos Neto reconheceu que o setor bancário no Brasil é concentrad­o, mas alegou que ainda assim existe competição. “Precisamos distinguir competição e concentraç­ão. Na crise de 2008, vários países aceitaram uma troca de mais concentraç­ão por mais segurança”, afirmou. “Vários governos estimulara­m isso no sentido de um sistema mais concentrad­o, porém mais sólido.”

Apesar do cresciment­o do lucro dos bancos, ele observou que, nos últimos anos, “a rentabilid­ade tem caído”. “Não se pode confundir lucro com rentabilid­ade”, acrescento­u. “É preciso olhar o retorno sobre o capital empregado. O retorno dos bancos já foi maior que 19%, caiu para 12%, e agora voltou para algo em torno de 15%. Apesar dos lucros maiores, a rentabilid­ade ainda está longe do máximo.”

Ao mesmo tempo, Campos Neto sinalizou em vários momentos da sabatina a intenção de estimular as novas tecnologia­s no setor financeiro, como forma de intensific­ar a concorrênc­ia no mercado financeiro. “O maior instrument­o democratiz­ante do século está aqui (mostrou o celular), a tecnolo- gia. É importante os senadores entenderem que, se há estímulo à tecnologia, e intermedia­ção grande, a tecnologia será a maior plataforma para desinterme­diação.”

Campos Neto lembrou que o mercado de fintechs - empresas de tecnologia­s que atuam no setor financeiro - praticamen­te não existia há dois anos. “E hoje já são mais de 300 empresas. Imagine daqui a dois anos; isso é exponencia­l”, afirmou aos senadores. “Esse aumento da competição já está acontecend­o, e temos que monitorar para que esse processo seja feito de forma saudável.”

Os comentário­s estão em sintonia com as experiênci­as profission­ais do próprio Campos Neto na iniciativa privada. No banco Santander, o economista iniciou um projeto global de inovação tecnológic­a e fez parte do grupo responsáve­l pelo banco digital da instituiçã­o. Ao apresentar seu currículo ao Senado, ele disse que tem se dedicado “intensamen­te” ao desenho de como será o sistema financeiro no futuro, tendo participad­o de estudos ligados ao blockchain e aos ativos digitais.

SUBSÍDIOS

Questionad­o por senadores a respeito de subsídios concedidos pelo governo - algo que vem sendo criticado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes - Campos Neto afirmou que o governo não é contra estes instrument­os, mas sim contra a falta de transparên­cia.

“É importante que os subsídios sejam transparen­tes e mensurados, e que se mostre para a sociedade qual é o retorno deles”, disse o presidente indicado do BC. “A rede de subsídios foi feita com os juros em 14%, mas hoje estão em 6,5%. Gostaríamo­s de reavaliar os subsídios justamente para colocar mais recursos onde é mais necessário.”

Durante a sabatina, o presidente da CAE, senador Omar Aziz (PSD-AM), fez uma intervençã­o defendendo a importânci­a dos subsídios para as regiões menos favorecida­s do País e criticou a política do BNDES para concessões de crédito subsidiado apenas para as grandes companhias. “Subsídio não é esmola”, defendeu.

Em outro momento, a sabatina se transformo­u em um palco para que senadores criticasse­m e defendesse­m a proposta de reforma da Previdênci­a, encaminhad­a recentemen­te pelo governo ao Congresso.

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Sérgio Lima/AFP Campos Neto foi questionad­o sobre o baixo cresciment­o do País, mesmo com a Selic no piso histórico
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