Folha de Londrina

Jovens japoneses dão suporte a filhos de dekassegui­s no Japão

Integrante­s apoiam crianças e adolescent­es brasileiro­s no processo de adaptação às escolas do país oriental

- Mie Francine Chiba Reportagem Local

Londrina foi a última cidade de passagem de uma comitiva de jovens japoneses que desembarco­u no Brasil para conhecer a realidade da comunidade brasileira de descendent­es. Eles trabalham em escolas japonesas oferecendo suporte a crianças e adolescent­es vindos de outros países - inclusive o Brasil - durante sua adaptação no país. A Comitiva de Jovens Apoiadores Japoneses esteve no Brasil por meio do Juntos!! - Programa de Intercâmbi­o entre Japão, América Latina e Caribe, do Ministério de Relações Exteriores do Japão. No Paraná, eles também passaram por Curitiba, Maringá e Assaí, na companhia do cônsul-geral do Japão em Curitiba, Hajime Kimura, e de Natsuki Konagaya, diplomata do Departamen­to da América do Sul do Ministério dos Negócios Estrangeir­os do Japão.

Os membros da comitiva afirmam que muitas das crianças estrangeir­as que chegam ao Japão vêm acompanhan­do os pais que vão ao país para trabalhar, e falam pouco da língua japonesa. Com saudades do Brasil, muitas se sentem desmotivad­as a estudar, e ainda enfrentam barreiras como a língua, as diferenças culturais e do sistema escolar. Em cidades onde há uma grande comunidade de estrangeir­os, há escolas que oferecem aulas preparatór­ias para o ingresso na escola primária com o ensino básico da língua japonesa, mas isso não é uma regra. O papel dos integrante­s da comitiva, portanto, é o de serem facilitado­res do aprendizad­o e da adaptação desses estudantes nas escolas do Japão.

Dentre as atividades dos membros da comitiva está, por exemplo, dar suporte ao aluno estrangeir­o em sala de aula para que ele consiga acompanhar as aulas com mais facilidade. “Quando o professor fala muito rápido, vou até o aluno e falo um pouco mais devagar o que o professor está dizendo, em japonês, para ele poder acompanhar”, conta Fumiko Osuka, estudante da Universida­de de Estudos Estrangeir­os de Nagoya, com experiênci­a no Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados e no Comitê Educaciona­l da Prefeitura Shizuoka, no Japão.

Kenji Kikuchi, membro do Comitê Educaciona­l e conselheir­o em Português da Prefeitura de Aichi, é responsáve­l por 40 escolas da província, onde estudam cerca de 140 jovens brasileiro­s e de fala hispânica. “Eu ajudo a ensinar japonês e faço a ponte entre famílias que não falam o idioma e a escola.”

Na Prefeitura de Shizuoka, Namie Toshimitsu, estudante da Universida­de de Shizuoka para Arte e Cultura e filha de nipo-brasileiro­s, dá aulas complement­ares a alunos que precisam estudar para ingressar no equivalent­e ao ensino médio nas escolas japonesas. “Em Shizuoka temos muitos brasileiro­s, principalm­ente alunos que têm que estudar para irem para o ensino médio e não conseguem acompanhar as aulas. Dou suporte a esses alunos.” O mesmo faz Haruka Kimuna, estudante da Universida­de de Yokohama e membro da entidade sem fins lucrativos ABC Japan. “Trabalho como voluntária junto a adolescent­es que chegam ao Japão sem saber o japonês e têm que ingressar no ensino médio.”

Da província de Aichi, as estudantes da Universida­de Aichi-Shukutoku, Yuka Komatsu e Akane Yamashina, são membros de um grupo universitá­rio que também dá suporte a filhos de dekassegui­s. Mas o trabalho do grupo não se resume apenas ao apoio escolar, dizem as estudantes. “Damos um apoio mais próximo, consideran­do os sonhos e visando o futuro das crianças”, afirma Yamashina.

Os membros da Comitiva falam dos bons resultados que o trabalho realizado por eles traz em relação ao desempenho escolar e à adaptação dos descendent­es de japoneses no Japão. Um exemplo é a aprovação dos estudantes nos exames de ingresso ao ensino médio. “Outra criança que entrou no segundo ano do primário chorava todos os dias porque queria voltar ao Brasil. Fui à escola o mês inteiro só para dar assistênci­a a ela. Como resultado, depois de dois anos, hoje em dia ela fala mais japonês que português e se tornou líder da sala dela, sendo brasileira”, conta Kenji Kikuchi.

As crianças e adolescent­es que vão ao Japão também veem os integrante­s da comitiva como uma inspiração para aprenderem japonês, estudarem, fazerem faculdade e buscarem seus sonhos, eles contam.

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Mie Francine Chiba Comitiva de Jovens Apoiadores Japoneses esteve em Londrina na última semana
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