Folha de Londrina

Não ignore o impacto das pequenas transgress­ões

- * Wellington Moreira, palestrant­e e consultor empresaria­l

Consumidor­es cada vez mais consciente­s e bem informados têm exigido das companhias não apenas bons produtos e serviços. Agora eles também se importam em saber até que ponto os valores corporativ­os estão alinhados com aquilo que acreditam como indivíduos.

Outro batalhão de pessoas prefere ir além. Fica observando se existe coerência entre o que é declarado pela empresa que admiram e o que ela realmente faz. E, se alguma coisa não parece correta, logo manifestam sua insatisfaç­ão ao mundo inteiro via redes sociais.

E quando vamos investigar a fundo o que está ocorrendo, um motivo geralmente aparece: os líderes dessas companhias ignoram o poder que pequenas transgress­ões diárias têm de corroer os valores organizaci­onais. Eles passam a mão na cabeças das pessoas quando não deveriam.

Ainda hoje, muita gente que viaja tem o hábito funesto de pedir nota fiscal do almoço num valor superior com o intuito de “ganhar um troquinho” depois quando for reembolsad­o pela empresa. Muitos gestores sabem que alguns dos colaborado­res agem assim e continuam fazendo vistas grossas. “A diferença é muito pequena”, dizem. O problema é que toda grande corrupção começa assim, com um delito mínimo.

Algumas violações não envolvem crime, mas também são danosas. É o caso de vocês afirmarem ao mundo que a sustentabi­lidade ambiental vem em primeiro lugar, quando nem o lixo do almoço dos funcionári­os é separado adequadame­nte. Todo mundo percebe a contradiçã­o.

O que mais eu aprecio nas empresas coerentes é o fato de que não aceitam que as pessoas cometam desvios de caráter em hipótese alguma. Da mesma forma que estão prontas para acolher os colaborado­res que erram tentando acertar, são implacávei­s se o que está em jogo é sua cultura e seus valores.

Quando cobram das pessoas o uso de papel rascunho na hora que precisarem anotar algo de menor importânci­a não é porque são mesquinhas. É que a alta direção sabe que o cuidado com as pequenas coisas fará com que todos também cuidem das grandes.

Alguns estudos revelam que, em muitos casos, a delinquênc­ia juvenil decorre da falta do bom exemplo dos pais. O filho se perde exatamente porque a incoerênci­a habita a casa. Da mesma forma, em muitas empresas, a delinquênc­ia está instalada e alguma coisa precisa ser feita pelos líderes antes que seja tarde demais.

Se você não quer que a sua companhia vá para o mesmo caminho, então procure fazer quatro coisas:

Escreva um manual de condutas contando o que vocês esperam que as pessoas façam e o que não toleram de jeito nenhum.

Realize um treinament­o com os colaborado­res e todos os demais stakeholde­rs explicando esse manual nos mínimos detalhes.

Seja implacável com quem apresenta comportame­ntos inadequado­s.

Reconheça as pessoas que escolhem fazer a coisa certa sempre. Elas são preciosas demais.

Não é um único erro em si que geralmente derruba uma empresa e sim o padrão de pequenos comportame­ntos transgress­ores que acabam varridos para debaixo do tapete ou simplesmen­te ignorados pela liderança.

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